Santos M, Almeida A, Chagas D. Saúde e Segurança Ocupacionais aplicadas à produção de Bebidas Alcoólicas. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online. 2025, 19 esub0486. DOI: 10.31252/RPSO.29.03.2025
OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY APPLIED TO THE PRODUCTION OF ALCOHOLIC BEVERAGES
TIPO DE ARTIGO: Artigo de Revisão
AUTORES: Santos M(1), Almeida A(2), Chagas D(3).
RESUMO
Introdução/enquadramento/objetivos
Ainda que Portugal tenha uma tradição razoável na produção de bebidas alcoólicas, nem todos os elementos a exercer nas equipas de Saúde e Segurança Ocupacionais terão conhecimentos robustos acerca deste setor. Este artigo de revisão pretende sintetizar o que de mais recente e relevante se publicou sobre o tema.
Metodologia
Trata-se de uma Revisão Bibliográfica, iniciada através de uma pesquisa realizada em maio de 2024 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.
Conteúdo
Vinificação é a transformação do sumo de uva em vinho; ou seja, vinho define-se como sendo o resultado da fermentação das uvas. Existem três tipos básicos: tinto, branco e rosé. Outros mencionam que os vinhos podem ser caraterizados em: de mesa (tintos, rosados ou brancos), vinhos licorosos ou fortificados (Porto, Madeira, Moscatel) e espumantes/espumosos. A diversidade justifica-se pelo tipo de uva, processo de fabrico e tempo de envelhecimento. Espécies de vinhas com mais açúcar geralmente produzem vinho de maior qualidade. A maturidade da uva também influencia o teor de açúcar e esta depende das condições climáticas; tal também influencia a acidez, através das concentrações de ácido tartárico, málico e cítrico.
Discussão e Conclusões
Os principais fatores de risco neste contexto são os movimentos repetitivos, cargas, posturas forçadas/mantidas, quedas (de objetos, ao mesmo nível e em altura), espaço confinado, afogamento, incêndio, explosão, contato com eletricidade, ritmo de trabalho imposto por máquina, poeiras, vibrações, ruído, corte, atracamento/entalamento, turnos prolongados e desconforto térmico. A progressiva modernização e sofisticação dos métodos utilizados modula os fatores de risco e riscos laborais, atenuando uns e criando novos, pelo que os profissionais com clientes na área deverão dominar esses conhecimentos.
Seria interessante perceber o panorama nacional neste contexto, através do estudo de empresas do setor, publicando posteriormente as investigações efetuadas.
Palavras-chave: vinho, espumante, aguardente, álcool, saúde ocupacional, medicina do trabalho, enfermagem do trabalho e segurança no trabalho.
ABSTRACT
Introduction/background/objectives
Although Portugal has a reasonable tradition in the production of alcoholic beverages, not all members of the Occupational Health and Safety teams will have robust knowledge of this sector. This review article aims to summarize the most recent and relevant publications on the subject.
Methodology
This is a Literature Review, initiated through a search carried out in May 2024 in the databases “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina and RCAAP”.
Content
Vinification is the transformation of grape juice into wine; in other words, wine is defined as the result of the fermentation of grapes. There are three basic types: red, white and rosé. Others mention that wines can be classified as: table wines (red, rosé or white), liqueur or fortified wines (Porto, Madeira, Moscatel) and sparkling wines. The diversity is justified by the type of grape, production process and aging time. Vineyard species with more sugar generally produce higher quality wine. The maturity of the grape also influences the sugar content and this depends on the climatic conditions; this also influences the acidity, through the concentrations of tartaric, malic and citric acid.
Discussion and Conclusions
The main risk factors in this context are repetitive movements, loads, forced/maintained postures, falls (of objects, at the same level and from a height), confined spaces, drowning, fire, explosion, contact with electricity, work pace imposed by machinery, dust, vibrations, noise, cutting, docking/jamming, long shifts and thermal discomfort. The progressive modernization and sophistication of the methods used modulates the risk factors and occupational hazards, mitigating some and creating new ones, which is why professionals with clients in the area must master this knowledge.
It would be interesting to understand the national panorama in this context, through the study of companies in the sector, subsequently publishing the research carried out.
KEYWORDS: wine, sparkling wine, brandy, alcohol, occupational health, occupational medicine, occupational nursing and occupational safety.
INTRODUÇÃO
Ainda que Portugal tenha uma tradição razoável na produção de bebidas alcoólicas, nem todos os elementos a exercer nas equipas de Saúde e Segurança Ocupacionais terão conhecimentos robustos acerca deste setor. Este artigo de revisão pretende sintetizar o que de mais recente e relevante se publicou sobre o tema, com destaque, entre as diversas bebidas alcoólicas, para o vinho.
METODOLOGIA
Em função da metodologia PICo, foram considerados:
–P (population): trabalhadores inseridos no setor da produção de bebidas alcoólicas
–I (interest): reunir conhecimentos relevantes sobre os principais fatores de risco, riscos e medidas de proteção coletiva e individual aplicáveis a este setor
–C (context): saúde e segurança ocupacionais aplicadas à produção de bebidas com álcool
Assim, a pergunta protocolar será: Quais os principais fatores de risco, riscos laborais e medidas de proteção em relação à produção de bebidas alcoólicas?
Foi realizada uma pesquisa em maio de 2024 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.
No quadro 1 podem ser consultadas as palavras-chave utilizadas nas bases de dados.
CONTEÚDO
Noções genéricas
Vinificação é a transformação do sumo de uva em vinho; ou seja, vinho define-se como sendo o resultado da fermentação das uvas (1).
Existem três tipos básicos de vinhos: tinto, branco e rosé (1). Outros mencionam que estes podem ser caraterizados em de mesa (tintos, rosados ou brancos), licorosos ou fortificados (Porto, Madeira, Moscatel) e espumantes/espumosos (2). A diversidade justifica-se pelo tipo de uva, processo de fabrico e tempo de envelhecimento (1).
Espécies com mais açúcar geralmente produzem vinho de maior qualidade. A maturidade da uva também influencia o teor de açúcar e esta depende das condições climáticas; tal também influencia a acidez, através das concentrações de ácido tartárico, málico e cítrico (1).
Panorama nacional
Em 2017 o setor da produção de vinho representava 88% do setor das bebidas, 52% do volume de negócios e 64% dos funcionários; 75% eram microempresas (2).
A área geográfica que tem aumentado mais a produção é a do Douro, ainda que tenha havido um aumento da produção global em contexto de vinho tinto. Das 34 castas mais utilizadas, 18 são tintos e 16 são brancos (2).
Evolução do setor
A viticultura, tal como os restantes setores inseridos na agricultura, tende a se transformar no sentido de diminuir o número de empresas e aumentar a sua dimensão (3). A generalidade dos trabalhadores neste setor apresenta pouca qualificação profissional e média etária elevada. Os equipamentos obsoletos podem potenciar a sinistralidade, tal como a mobilidade de tarefas e os trabalhadores sazonais/turn-over (4).
A introdução da vinha no Brasil, por exemplo, foi realizada pelos Portugueses, no século XVI (5).
Mecanização/Tecnologia
A viticultura de precisão diminuiu a quantidade de pesticidas utilizada, logo, atenua o risco ambiental e a concentração nos produtos finais; potenciando a sustentabilidade do processo. Também pode gerir melhor a irrigação. Neste contexto devem ser consideradas as caraterísticas das plantas (altura, largura, volume, densidade e área das folhas). Os sensores geralmente são baseados na radiação visível ou infravermelhos, fotografias e laser; de forma a obter um registo a três dimensões da plantação (6). Uma estimativa do número de frutas, flores e árvores/plantas ajuda os agricultores a tomar decisões mais corretas a nível de métodos de produção, uso de pesticidas ou técnicas similares e contratação de mão-de-obra. Fazer tal de forma manual é dispendioso, aos níveis temporal e económico ou até não executável, se a exploração tiver grandes dimensões; a tecnologia pode resolver esta questão, elaborando automaticamente e interpretando os dados, através do uso de sensores que aprendem progressivamente a serem mais eficazes, tendo a capacidade de contabilizar cachos e até uvas individualmente, ainda que com alguma margem de erro (7). As tarefas de esmagar as uvas (no passado com os pés) e a colheita manual dos cachos, são agora também etapas mecanizadas (5).
A colaboração homem-robot é uma das caraterísticas principais da indústria 4.0 e, obviamente, esta pode ser aplicada a este setor profissional, dando apoio sobretudo nas tarefas repetitivas e com carga moderada a elevada; já se mencionando a era 5.0 (mais produtiva, mais abrangente e só humanos para as tarefas que exijam criatividade), minimizando os custos e o desperdício. As alterações no trabalho poderão levar a problemas psicológicos, conversão/adaptação profissional e execução de tarefas mais complexas e com maior responsabilidade. Ou seja, a progressiva automatização pode potenciar a ansiedade nos trabalhadores e eventualmente o burnout, devido à diminuição da autonomia e maior exigência, necessidade de adquirir aptidões novas, bem como pela possibilidade de desemprego e limitações nas oportunidades laborais (2).
Etapas na produção de vinho
No quadro 2 estão resumidas as etapas que geralmente existe na produção de bebidas alcoólicas.
A vindima é a colheita das uvas e pode ser manual ou mecânica. O timing em que esta ocorre dependerá do patamar de maturação das uvas, estado sanitário e tipo de vinho. A integridade das uvas mantem-se evitando o esmagamento, maceração e oxidação. O transporte deve ser o mais célere possível, com higiene e em substrato adequado (temperatura e espaço) (1).
Quando chegam à empresa são pesadas e é determinado o teor alcoólico e ph. Posteriormente passam para o “tegão”, através de uma estrutura chamada “sem-fim”, que culmina no desengaçador/esmagador. Aqui podem ser administrados anidrido sulfuroso para impedir o início da fermentação e a oxidação do mosto, uma vez que tem propriedades antimicrobianas e antioxidantes (1). Na receção das uvas faz-se a avaliação do estado sanitário das mesmas, destacando a presença de resíduos e/ou evidência de doença. Para estimar o grau alcoólico usa-se um refratómetro em amostra manual ou automática. Uma vez aceites, as uvas saem da viatura de transporte e serão pesadas (2).
Na seleção/triagem das uvas são retirados materiais externos, como clipes de suporte, grampos, lascas de madeira e animais (caracóis, lesmas, insetos); bem como uvas com qualidade insuficiente (verdes, podres, doentes). Para não dar sabor amargo tem de se retirar o cacho antes de esmagar as uvas, usando um desengaçador-esmagador. A porção aqui excluída pode ser preparada para ser fertilizante das vinhas (2). O desengace pode ser total ou parcial, consoante o produto final que se deseja obter (aroma, cor, volume) (1).
Com o esmagamento rompe-se a película e liberta-se o sumo (1); formando-se o mosto (sumo e películas das uvas), posteriormente levado para cubas de fermentação (2). A massa obtida (sumo, polpa, grainhas e películas) é refrigerada para valores adequados à fermentação, em cuba de aço inox (1).
A prensagem atua no mosto de alguns vinhos brancos e rosés, por vezes é usada para atenuar a cor; a pressão é regulada em função dos objetivos. Aqui faz-se a separação entre o líquido (mosto) dos sólidos (engaço, películas e grainhas) (2).
Na clarificação (2) (5) dos mostos retiram-se partes sólidas, ficando com aspeto menos turno e escurecido (mais necessária nos vinhos brancos); se a clarificação for parcial o produto ficará mais frutado; o processo faz-se por deposição pela força da gravidade, em cuba. Um dos processos é a passagem do vinho por uma estrutura filtrante; esta pode ser: em profundidade (terra de diatomáceas em pó) ou ainda através de placas de celulose, membranas de polietersulfona, fluoreto de polivinilideno (PVDF), propileno ou nylon. Esta pode ser proteica (adição de bentonite para remover as partículas em suspensão e posterior colagem e filtração) ou tartárica (através da precipitação dos tartaratos, utilizando o frio e o contato) (2). O uso de enzimas pode potenciar a clarificação e filtração. Ou seja, o processo pode ser estático com refrigeração, sulfitação e enzimas ou dinâmico, com centrífugas e filtros (5).
Na estabilização (2) (5) proporciona-se repouso para eliminar as borras (5).
As leveduras e enzimas no mosto, se arejado, iniciam a fermentação alcoólica (1). O mosto (constituído por sumo de uva, com semente, película e polpa) é orientado posteriormente para a fermentação, podendo ser ou não realizados ajustes e/ou adições: dióxido de enxofre (como antioxidante, antissético e para prevenir a fermentação precoce); acidificação ou desacidificação (com carbonato de cálcio, bicarbonato de potássio e/ou carbonato de potássio ou ácido tartárico); leveduras (para que ocorra a fermentação total, sobretudo em mostos de muita densidade) e tanitos (para estabilizar a cor do vinho tinto) (2). A sulfitagem (realizada com dióxido de enxofre, anidrido sulforoso ou gás sulforoso) serve para impedir a fermentação desadequada e oxidação, com produção de substâncias nocivas para o consumidor (5). O anidrido sulfuroso inibe o crescimento de microrganismos indesejáveis e a oxidação, potenciando ainda a transformação do açúcar em álcool (1).
Na fermentação alcoólica o mosto origina o vinho, com a transformação dos açucares em álcool (2) (5) e outros produtos, através das leveduras e com temperatura controlada (25 a 28ºC, ou mais baixa, para alguns vinhos brancos) (2). Outros mencionam ser necessário para produzir vinho branco ou rosé 18 a 20ºC e para os tintos 25 a 28ºC (1).
No passado as leveduras eram provenientes da flora existente naturalmente nas uvas (género Saccharomyces). Presentemente, adiciona-se Saccharomyces cerevisiae ao sumo. O trabalho destas depende da temperatura, arelamento, nutrientes e ph. Todas as leveduras são anaeróbias facultativas. Na presença de O2 o açúcar é oxidado em CO2 e H2O, sem produção de álcool; contudo, rapidamente se esgota o O2 e depois o álcool é libertado; daí que a quantidade de açúcar inicial vai determinar o resultado final. O aumento da concentração de CO2 e etanol inibe o crescimento das leveduras (1).
A maceração é geralmente utilizada nos vinhos tintos e carateriza-se pelo contato do vinho com as películas das uvas, após fermentação alcoólica, de forma a potenciar aromas, nutrientes e taninos (que existem mais nas películas) (1) (2), durante 2 a 28 dias, em cuba. A posterior diminuição da temperatura facilita a libertação do potássio (películas), controlando o ph e o crescimento de microorganismos não desejáveis (2).
Após a fermentação alcoólica pode existir a malolática, para diminuir a acidez (2) (5) e dar a textura adequada. Aqui se fará a fermentação do restante açúcar, em tanques ou barricas, melhoria do aroma e da estabilidade microbiana; bem como estabilização posterior (repouso, decantação e sedimentação das borras) (5).
O ácido málico potencia o crescimento microbiano, logo, se este não for retirado, a acidez pode aumentar e formar-se um gás. Por isso, incentiva-se esta fermentação, para transformar o ácido málico em lático e libertar CO2 (que irá também diminuir a acidez final); esta fase deverá decorrer após a fermentação alcoólica. A vinificação termina quando finaliza a fermentação malolática; a temperatura adequada para este processo é entre 20 a 25ºC, bem como ph entre 3 e 4, algum O2 e antissético (anidrido sulfuroso, por exemplo) (1).
A remontagem carateriza-se pela movimentação do mosto, através de bombas, de forma a dissolver o O2, potenciar o arejamento e a homogeneidade (de açúcar, temperatura e leveduras); deve ocorrer uma a duas vezes por dia (1).
No fim da fermentação são separadas as fases sólidas e líquidas do mosto, através de decantação, obtendo-se um vinho menos turvo e com mais qualidade, através da força da gravidade ou centrifugação e diminuição da temperatura. A parte líquida é direcionada para outra cuba (1).
Para recuperar vinho residual das massas únicas (películas, engaço e grainha), após decantação, usa-se uma prensa, cuja intensidade de pressão determina o sabor e outras caraterísticas (1). Posteriormente adiciona-se SO2 e armazena-se o vinho em tonéis ou barris limpos (2).
A estabilidade tartárica através da diminuição da temperatura faz com que os sais de bitartarato de potássio precipitem, diminuindo a acidez; tal pode demorar mais de uma semana e exigir 0ºC e filtração posterior (1).
Designa-se por “estágio do vinho” a maturação/envelhecimento em cubas de madeira, inox ou garrafa; aqui vão surgir alterações na cor, aroma e sabor, modulado pelo material da cuba, temperatura e humidade. A madeira, por exemplo, favorece alguns tintos; o inox é o mais higiénico e isola qualquer contato com o O2; em garrafa, diminuiu-se a acidez e aumenta-se o tempo em que as caraterísticas do vinho se irão manter (cor, aroma, sabor) (1).
Na sangria faz-se a separação do vinho das películas e grainhas. O excedente não desejado sai da estrutura através da desencuba, indo posteriormente constituir o vinho de prensa (2).
Na trasfega faz-se a transferência do vinho para outro recipiente, separando o depósito ou borra (2).
Os “ajustes enológicos” servem para corrigir as deficiências das uvas, nomeadamente a nível de ph, aroma/sabor, maturação das borras, cor, grau alcoólico e da densidade (2).
Podem ser misturados vários vinhos individuais, para obter algo de qualidade superior (“blending”); ainda que, por vezes, a mistura possa ficar instável (2).
Se for necessário envelhecer, é preciso que ocorra previamente a estabilização (tartárica, proteica, remoção de polissacarídeos e/ou taninos) e clarificação (2).
O armazenamento ou estágio deverá ocorrer em cubas ou barricas de madeira; por vezes, são usadas madeiras específicas para objetivos concretos. Na preparação para o engarrafamento faz-se a estabilização/clarificação, filtragem e correções finais (2).
O engarrafamento potencia a comodidade e a apresentação; mas cria problemas de limpeza da garrafa e eficácia do rolhamento (1). Aqui é necessário despaletizar as garrafas vazias, para as introduzir na linha de montagem. A lavagem das garrafas pretende eliminar as poeiras, pequenos fragmentos de vidro, bolores, água de condensação e insetos, além de posterior esterilização. O enchimento é feito de forma mecânica (5).
O rolhamento tem o objetivo de não só encerrar o vinho, como impedir que entre ar; a vedação (cápsula roscada) também partilha essa finalidade. Às vezes também se coloca uma cápsula depois da rolha, de forma automática ou manual (2).
Posteriormente é colocado um rótulo e contra-rótulo (com dados sobre o lote) e selo de garantia (2), bem como informações sobre o grau alcoólico, volume, nome do produto e responsável técnico (5).
Em contexto de expedição, faz-se o encaixotamento automático ou manual, não esquecendo as divisórias internas, para proteção e posterior fecho das caixas, também mecânico ou manual. As caixas também deverão ter informação sobre o lote, pelo menos e serem colocadas posteriormente em palete, também codificada, estrutura essa pronta a ser armazenada e expedida em veículos (2).
Assim, no engarrafamento e expedição existem a despaletização, lavagem das garrafas, enchimento, rolhamento, capsulagem e rotulagem, marcação de lote, encaixotamento, fecho e marcação das caixas, paletização, armazenamento e expedição (2).
Os resíduos de fruta que permaneçam na superfície das máquinas por períodos de tempo razoáveis podem implicar risco biológico, tendo por vezes capacidade de perturbar a qualidade do vinho; logo, a limpeza e desinfeção são particularmente importantes. Apesar da mecanização da generalidade das empresas neste setor, estas duas últimas etapas são geralmente mais manuais que as restantes. Existem três tipos de limpeza: física (por alta pressão, escova), microbiológica (produto biocida) e química (detergentes) (2).
No caso específico da aguardente, esta pode ser produzida de forma industrial ou artesanal (usando destilados contínuos ou alambiques, respetivamente). Ela é obtida através de destilado de cana, enquanto a cachaça é originada pelo melaço secundário à produção de açúcar de cana, ainda que o produto final seja equivalente. O setor da cachaça costuma ser mais artesanal. Via artesanal o produto é mais aromático; via industrial o resultado é mais padronizado (8).
Após o corte da cana-de-açúcar, queimam-se as folhas ainda no campo (noutros casos não); posteriormente extrai-se o suco da cana, que é sujeito a uma fermentação de seis horas, através da utilização de catalisadores químicos (para acelerar) ou durante 24 a 30 horas (se não se tiver feito a queima das folhas) (8).
Para obter o caldo de cana faz-se a moagem das canas colocando em tapete rolante e posterior filtração; desejavelmente até 12 horas, nunca mais que 48 horas após o corte. Se a filtração não for eficaz, a fermentação ficará alterada (8).
A fermentação é executada em estruturas de aço inoxidável; pode ser necessário corrigir o nível de açúcar para não condicionar a fermentação. Deverá decorrer a cerca de 25ºC e ser arejada (8).
Na produção artesanal podem ser adicionados água, fubá de milho e/ou farelo de arroz (8).
Os recipientes onde esta etapa se processa chamam-se dornas e podem ser de madeira, aço inox, plástico ou cimento (8).
Na fermentação o caldo origina o mosto, que depois segue para os alambiques de cobre para ser aquecido; no arrefecimento obtém-se a “cachaça de cabeça”, corpo e cauda; sendo mais valorizada a segunda (a primeira tem muito álcool e a terceira tem pouco) (8).
O envelhecimento do produto serve para potenciar o sabor e pode ser efetuado em barris de aço inox ou madeira, consoante a cor, aroma e sabor que se pretendem (8).
Fatores de risco/Riscos Laborais/Medidas de Proteção Coletiva e Individuais
Na bibliografia consultada a avaliação de riscos não foi muito completa, não sendo raro estarem omissos vários fatores de riscos/riscos/medidas de proteção e/ou ser feita confusão entre fatores de risco e riscos ou entre medidas de proteção coletiva e individual. Assim, os autores elaboraram o quadro 3 para estes quatro parâmetros, inserindo referências bibliográficas para as situações onde esse detalhe foi referido em algum dos artigos selecionados.
Num dos documentos, foi elaborada uma listagem de fatores de risco/riscos laborais, ainda que incompleta, mas com a relevância de fazer destrinça por secção/atividade do setor, resumida no quadro 4.
Os riscos e a sua intensidade variam com a época do ano, dada a sazonalidade de algumas tarefas (2).
Apesar do desconforto térmico, posturas forçadas/mantidas e, por vezes, salários pouco elevados; ainda assim, estes funcionários costumam apresentar um patamar de satisfação laboral superior a outros setores profissionais; até porque geralmente é apaixonante para parte dos empregados. Para além disso, a viticultura geralmente tem uma imagem mais positiva (em relação à agricultura em geral), da parte da sociedade (3).
Os turnos podem ser prolongados, sobretudo no verão e outono, não só em número de horas por turno, mas também em dias da semana; ou seja, por vezes exigindo trabalho aos fins-de-semana (3).
A mobilização de cargas pode originar/agravar hérnias discais, cursando com mialgias e artralgias; a lesão é mais grave se o dorso estiver fletido ou inclinado (maior pressão nos discos vertebrais) (4). A lombalgia é razoavelmente prevalente em viticultores, sobretudo devido às posturas forçadas/mantidas. Um programa de exercício consegue atenuar tal, aumentando a flexibilidade e também diminuindo a sensibilidade à dor. O esforço físico foi superior nas etapas de clarificação do mosto, filtragem, armazenamento e elaboração de lotes (2).
O ruído é proveniente do equipamento e mais prevalente no esmagamento (tarefa sazonal) e engarrafamento (4).
O incêndio, por sua vez, é mais provável nos turnos noturnos e em área com mais papel e plástico (como o armazém) e/ou bebidas envelhecidas (elevada percentagem de álcool) (4).
A quebra de garrafas, por sua vez, pode ocorrer na despaletização, máquina de lavar, máquina de encher e/ou rolhar/enroscar. Quando as garrafas quebram, as partículas podem ser projetadas para dentro do equipamento e/ou outras garrafas, colocando em causa a segurança também do consumidor. Quando uma quebra as restantes devem ser rejeitadas e recicladas. A quebra das garrafas depende do tipo de vinho: os gaseificados (CO2) têm maior risco- o espumante é a situação mais gravosa neste contexto; tipo de garrafa: modelos com menor quantidade de vidro são mais frágeis, mas são preferidos para a exportação e a secção, por exemplo; também poderá acontecer na despaletização (por erro mecânico), máquina de lavar (idem), máquina de encher (com explosão a projeção de partículas é mais provável) e/ou máquina de rolhar/encapsular (por defeito de fabrico na garrafa). Um novo modelo de garrafa, com partes elásticas (“sleeves”) poderá atenuar este problema (1).
Deverá existir Plano de Emergência Interno e deverá ser dada formação aos trabalhadores (como atuar em emergências, simulacros e plano de evacuação) (4).
Agentes químicos
Dado o risco químico ter algumas particularidades e relevância, os autores optaram por dedicar uma secção do artigo a este assunto.
Pesticidas são agentes químicos que eliminam uma praga ou doença nas plantas (13). As videiras podem estar sujeitas a infestações bacterianas ou fúngicas; animais como pássaros, insetos e herbívoros também podem causar danos (5). Por exemplo, para as micoses, as uvas podem ser pulverizadas com antifúngicos, que poderão ser tóxicos para os trabalhadores, alterar a fermentação ou até contribuir para o surgimento de estirpes resistentes (14).
Os pesticidas são usados há cerca de 4.500 anos; ou seja, já os sumérios e chineses utilizavam enxofre, mercúrio e arsénio para controlar insetos e outras pragas; presentemente os produtos existentes são muito mais eficazes, ainda que tóxicos para a saúde humana [causando alterações endócrinas, metabólicas, neurológicas e oncológicas (13)- como leucemia (13) (15) e cancro da bexiga] e ambiente (13). O risco de leucemia aguda, por vezes, existe até em familiares de pessoas que usam esses agentes químicos, a título profissional e/ou pessoal (15) ou simplesmente por viverem na proximidade de explorações agrícolas e/ou ingerirem produtos que os contêm (15) (16). A aplicação manual de pesticidas geralmente utiliza quantidades elevadas, contaminando as colheitas e áreas próximas (17). Parte das crianças com leucemia tem pais com uso laboral e/ou pessoal de pesticidas, na gestação e/ou pós-nascimento. Por vezes, alguns estudos discriminam a associação perante alguns tipos de colheita e/ou pesticidas específicos, ainda que sem consenso total (16). Surgiram assim normas para estipular o valor máximo que os alimentos podem conter a nível de pesticidas. A sua utilização é usual nos dias de hoje; contudo, existem outras técnicas que permitem uma viticultura sustentada, potenciando a qualidade do produto e lucro, diminuindo os riscos; nomeadamente a “no tillage” (plantio direto), que aumenta a diversidade vegetal e animal, adicionada ao controlo de pragas não químico e à aplicação de nutrientes; diminuindo as exigências a nível de mão-de-obra e combustível. De realçar que a viticultura convencional geralmente está associada a elevada produtividade, diminuição da biodiversidade, erosão do solo e maior quantidade de pesticidas neste último, uvas e vinhas. A viticultura biodinâmica/orgânica atenua a erosão e evaporação, melhorando a quantidade e qualidade dos solos e produz menos resíduos e nível de pesticidas. Iniciou-se no século XX e tem vindo a progredir. O controlo das pragas neste contexto é realizado por artrópodes e/ou redes, métodos mais económicos e com menos impacto ambiental; são também usadas feromornas que atraem insetos com elevada especificidade. Biopesticidas incluem bactérias, plantas e outros organismos vivos, com capacidade para controlar alguma pragas e são biodegradáveis (13).
Por sua vez, a viticultura de precisão potencia a eficiência da irrigação e qualidade da uva, diminuindo a energia e os agroquímicos utilizados. Nesta são usados veículos autónomos, nomeadamente drones encorpados com câmaras e sensores, orientados pela Inteligência Artificial, de forma a gerir a irrigação, aplicação de fertilizantes e pesticidas (13).
Viticultores expostos a pesticidas vias inalatória e/ou cutânea apresentam níveis mais elevados de alguns metais pesados, nomeadamente cobre (17) (18), arsénio, chumbo, zinco e níquel (17).
Alguns pesticidas podem alterar o transporte de sódio, podendo por isso exibir cardiotoxicidade (disritmia) e/ou induzir convulsões (19), por exemplo.
A exposição a gases pode ocorrer em qualquer etapa desde que as uvas chegam, fermentação e engarrafamento; sobretudo nas duas últimas (20). O CO2, pode ser responsável por acidentes fatais. Trata-se de um produto inodoro e incolor; a sua principal fonte de produção é a fermentação alcoólica. Apresenta valor limite de exposição (4)- LME 8h é de 5.000 ppm, média ponderada e o VLE-CD é de 30.000 ppm (até 15 minutos) (11). Parte dos acidentes fatais ocorre na limpeza das cubas, em função da concentração do O2 e CO2 (4) (5). Não se deve entrar na cuba se a concentração de CO2 for superior ou igual a 3% (4).
O SO2 também se produz na fermentação e/ou é adicionado pelo seu efeito biocida (20).Ele é utilizado como conservante (anti-oxidante, anti-enzimático e antisético). Se usado em doses elevadas altera o sabor. Este agente também apresenta valor-limite de exposição, sendo tóxico, mesmo para concentrações baixas (4)- o VLE-MP e o VLE-CD são de 2 e 5 ppm. Estes acidentes são mais frequentes quando este agente é diluído na água, na queima de mexas, por rompimento das válvulas e/ou fugas (11). Ele é utilizado antes e após a fermentação, nas formulações sólida, líquida e gasosa. A toxicidade depende da temperatura, condições de trabalho e de armazenamento. Consegue corroer o vasilhame e libertar outros produtos tóxicos. Na fase de intoxicação aguda podem existir tosse, irritação ocular e toracalgia, bem como náusea (4) (20), vómito e cólica (20); na intoxicação grave pode haver dispneia e com intoxicação crónica irritação ocular e respiratória, bem como anosmia (4) e eventualmente asfixia e morte (5). As vias de entrada são a inalatória, cutânea e ocular (4). Para além de atenuar o crescimento dos fungos e a fermentação da uva, também consegue esterilizar os recipientes; risco de asfixia e morte (5).
Na fermentação pode-se produzir sulfito de hidrogénio, sobretudo na presença de algumas bactérias; este agente poderá causar alterações respiratórias (20).
O etanol também é proveniente da fermentação e ajuda na manutenção do sabor e estabilidade; a produção depende diretamente da quantidade de açúcar. Pode causar irritação das vias respiratórias, asfixia e/ou tosse intensa. O risco é maior com os tanques abertos, baixa ventilação e espaço confinado (20).
Os agentes de limpeza mais usados neste contexto, por sua vez, são os ácidos, bases e produtos clorados. Durante a higienização podem ocorrer reações químicas nocivas para os trabalhadores; as doses recomendadas geralmente estão a pensar mais na qualidade da limpeza, do que a saúde e segurança dos funcionários. Contudo, a sobredosagem não aumenta necessariamente e eficácia, podendo também potenciar a corrosão, envelhecer os materiais e causar danos nos trabalhadores e/ou ambiente. Devem ser evitados produtos embalados em papel, que pode ficar danificado com a humidade. O agente de limpeza deve ser escolhido em função dos objetivos, vasilhame e forma de aplicação. O local de preparação do produto deverá ser amplo, bem ventilado e com água. As misturas só deverão ser feitas se se conhecer muito bem os produtos (pelos riscos inerentes de produção de agentes químicos tóxicos e/ou queimadura). A limpeza pode ser mecânica (pressão de água) ou química (4), como já se mencionou.
Acidentes laborais
Mais de 30% dos acidentes nas adegas estão associados à circulação de veículos e/ou peões, interna e externa (nomeadamente quedas ao mesmo nível e a níveis diferentes, interação com tratores e empilhadores); incluindo etapas de limpeza dos pavimentos, cubas e máquinas. O transporte de produtos também é responsável por parte considerável da sinistralidade (4).
Os acidentes mais graves envolvem explosão, incêndio e/ou asfixia; geralmente associados ao espaço confinado e agentes químicos. A atmosfera explosiva pode surgir devido à libertação de álcool ou gases/vapores inflamáveis, secundários à fermentação (2).
Os acidentes mais frequentes geralmente cursam com asfixia por CO2 (um litro de vinho produz 45 litros de CO2). As tarefas com maior risco neste contexto são a manutenção, reparação, limpeza, drenagem de resíduos e lavagem (lagares, cubas e pipas) (11).
A interação mais intensa entre os trabalhadores e os robots também pode potenciar a sinistralidade (2).
DISCUSSÃO/ CONCLUSÃO
Os principais fatores de risco neste contexto são os movimentos repetitivos, cargas, posturas forçadas/mantidas, quedas (de objetos, ao mesmo nível e em altura), espaço confinado, afogamento, incêndio, explosão, contato com eletricidade, ritmo de trabalho imposto por máquina, poeiras, vibrações, ruído, corte, atracamento/entalamento, turnos prolongados e desconforto térmico. A progressiva modernização e sofisticação dos métodos utilizados modula os fatores de risco e riscos laborais, atenuando uns e criando novos, pelo que os profissionais com clientes na área deverão dominar esses conhecimentos e os funcionários deverão ser preparados nesse sentido.
Seria interessante perceber o panorama nacional neste contexto, através do estudo de empresas do setor, publicando posteriormente as investigações efetuadas.
CONFLITOS DE INTERESSE, QUESTÕES ÉTICAS E/OU LEGAIS
Nada a declarar.
AGRADECIMENTOS
Nada a declarar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- G8. Campos R. A problemática da quebra de garrafas de vidro no processo de engarramento da IMF. Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. 2015: 1-95.
- G6. Freitas A. Modelos Meta-heurísticos de Otimização da Produção baseados na Avaliação de Risco Ergonómico- Propostas para o futuro do setor Vitivinícola Português. Universidade da Beira Interior. 2021: 1-549.
- V2. Regel E, Forneck A, Quendler E. Job satisfaction of certified employees in viticulture: a qualitative study. Work 67. 2020: 467-475. DOI: 10.3233/WOR-203296.
- G2. Fortunato L. Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho em Adegas, Avaliação de Risco na Adega Casal-Branco Sociedade de Vinhos SA. Instituto Politécnico de Santarém- Escola Superior Agrária de Santarém. Licenciatura de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho Agro-Industrial. 2011: 1-212.
- G3. Saldanha M. Análise dos riscos encontrados em uma Vinícola da Região de Campanha. Universidade Federal do Pampa- Curso de Engenharia de Produção. 2014: 1-68.
- V3. Gil E, Arnó J, Llorens J, Sanz R, Llop J, Rosell-Polo J et al. Advanced Technologies for the Improvement of spray application techiniques in spanish viticulture- an overview. Sensors. 2014; 14: 691-708. DOI: 10.3390/s140100691
- V7. Ghiani L, Sassu A, Palumbo F, Mercenaro L, Gambella F. In-fold automatic detection of grape bunches under a totally uncontrolled environment. Sensors. 2021; 21: 3908. DOI: 10.3390/s21113908
- G7. Santos M, Carvalho L, Pederneiras Y, Madureira R. Riscos Ocupacionais no processo de fabricação de aguardente de cana de açúcar. XXXVI Encontro Nacional de Engenharia de Produção 2016. Associação Brasileira de Engenharia de Produção. 2016: 1-19.
- G4. Nóbrega B, Oliveira A, Araújo I. Mapeamento dos Riscos Ocupacionais de uma linha de produção de envase de bebidas. XXXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. 2018: 1-14.
- V6. Balaguier R, Madelaine P, Dulcina K, Vuillerme N. Effects of a worksite supervised adapted physical activity program on trunk muscle endurence, flexibility and pain sensitivity among vineyard workers. Journal of Agromedicine. 2017; 22(3): 200-214. DOI: 10.1080/1059924X.2017.1317683
- L1. Safemed/ACT. Espaços confinados na Agricultura- Adegas e Destilarias. 2019. Disponível em https://blog.safemed.pt/espacos-confinados-na-agricultura-adegas-e-destilarias/
- L3. Franco E. Riscos Ocupacionais na Indústria das Bebidas. 2018. Disponível em https://www.linkedin.com/pulse/riscos-ocupacionais-na-ind%C3%BAstria-de-bebidas-ednelle-franco/
- V1. Tucker S, Dumitriu G, Teodosi C. Pesticides identification and sustainable viticulture to reduce their use: an overview. Molecules. 2022; 27: 8250. DOI: 10.3390/molecule27238205
- V11. Gava A, Emer C, Ficagna E, Andrade S, Fuentefria A. Ocurrence and impact of fungicides residues on fermentation during wine production- a review. Food Additives & Contaminants: part A. 2021, 38(6): 943-961. DOI: 10.1080/19440049.2021.1894357
- V4. Mancini M, Hémon D, Crouy-Chanel P, Guldner L, Faure L, Clavel J et al. Association between residencial proximity to viticultural areas and childwood acute leucemia risk in mainland France: GEOCAP Case Control Study, 2006-2013. Environmental Health Perspectives. 2023; 107008: 1-10. DOI: 10. 1289/EHP12634
- V5. Bamouni S, Hémor D, Faure L, Clavel J, Goujon S. Residential proximity to croplands at birth and childwood leukaemia. Environmental Health. 2022; 21: 103. DOI: 10.1186/s12940-022-00909-0
- V8. Rocha G, Lini R, Junior F, Batista B, Souza V, Nerilo S et al. Exposure to heavy metals due to pesticide use by vineyard farmers. International Archives Of Occupational and Environmental Health. 2015; 88: 875-880. DOI: 10.1007/s00420-014-1010-1
- V10. Roviello V, Caruso U, Poggetto G, Naviglio D. Assessment of Copper and Heavy Metals in Family-Run Vineyard Soils and Wines of Campania Region, South Italy. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2021; 18: 8465. DOI: 10.3390/ijerph181684485
- V9. Silva M, Santos-Miranda A, Joviano-Santos J, Souza D, Marques L, Sarmento J et al. The insecticide B-cyfluthran induces acute arrhythmic cardiotoxicity through interaction with V1.5 and rinolazine reverses the phenotype. Clinical Science. 2022; 136: 329-343. DOI: 10.1042/0520211151
- L2. Pratt G. The dangers of Gas exposure in wineries. 2022. Disponível em https://www.crowcon.com/pt/blog/the-dangers-of-gas-exposure-in-wineri
Quadro 1: Pesquisa efetuada
Motor de busca | Password 1 | Password 2 e seguintes, caso existam | Critérios | Nº de documentos obtidos | Nº da pesquisa | Pesquisa efetuada ou não | Codificação inicial | Codificação final |
RCAAP | Produção de vinho | -título e/ ou assunto
|
81 | 1 | Sim | – | – | |
EBSCO (CINALH, Medline, Database of Abstracts and Reviews, Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Nursing & Allied Health Collection e MedicLatina) | Wine production | -2013 a 2023
-acesso a resumo -acesso a texto completo |
20 | 2 | Sim | V1
V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 V11 |
13
3 6 15 16 10 7 17 19 19 14 |
|
Produção de vinho | Riscos ocupacionais | – | – | 3 | Sim | G1
G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8 L1 L2 L3 |
–
4 5 9 – 2 8 1 11 20 12 |
Quadro 2: Resumo das etapas de produção de diversas bebidas alcoólicas
Etapas generalistas | Etapas mais detalhadas | Vinho tinto | Vinho branco | Espumante | Vinho Madeira |
-pré-fermentação
-fermentação e -estabilização e envelhecimento (5)
|
-receção e descarga das uvas
-seleção/triagem das uvas -desengace/ esmagamento -prensagem -clarificação do mosto -preparação do mosto -fermentação alcoólica -maceração -fermentação malolática -sangria/desencuba -transfega -esgotamento/ prensagem -fortificação (adição de aguardente) (2)
|
-receção das uvas (diminuição da temperatura)
-extração do mosto -sulfitagem -maceração -correção (no nível de açúcar) -adição de leveduras -descuba e prensagem (separação do mosto) -fermentação alcoólica e malomática -engarrafamento (5) |
Acrescentam-se as seguintes etapas:
-enzimagem -estabilização -clarificação (5)
|
-adicionar vinho branco e açúcar, para realizar uma segunda fermentação e obter o licor de tirage, que forma o gás carbónico, que origina a pressão e a espuma
-adição de leveduras para tirar as borras (“pé-de-cuba”) -ativador da fermentação -clarificante -arejamento (potenciar o crescimento das leveduras) -engarrafamento -segunda fermentação (levedura) -colocação das garrafas na horizontal, com temperatura controlada, por um a três meses -maturação durante um ano –remuage: colocação na horizontal com giros e golpes, inclinando –dégorgement: separação das leveduras e de substâncias sólidas, através do congelamento da área do gargalo -colocação da rolha -depósito e rotulagem (5) |
Acrescenta-se a estufagem, que consiste em colocar o vinho em cubas de aço inoxidável (“estufas”), a 45-50ºC, por três meses; após filtragem, ficará seis a doze meses à temperatura ambiente. Tal irá permitir diversas oxidações, proporcionando tal alterações de aroma, cor e paladar (2)
|
Quadro 3: Principais fatores de risco, riscos laborais e medidas de proteção na área da produção de bebidas alcoólicas
Fator de Risco | Risco | Medida de Proteção Coletiva | Medida de Proteção Individual |
Movimentos repetitivos (5) (9) | Tendinites, Tendinoses,
Síndroma do túnel cárpico o outras Lesões Músculo-Esqueléticas (LMEs) (9) |
-formação (por exemplo ensinar a melhor postura- aproximar o corpo, não fazer torção ou rotação da coluna, não fazer movimentos bruscos e fletir os membros inferiores (5)
-rotatividade (9) -mecanização -ginástica laboral (9) e outras medidas para maior robustez física -pausas (9) |
-pulso elástico
-exoesqueleto (2) |
Cargas (4) (5) (9) | Surgimento ou agravamento de patologia herniária (4)
ou outras LMEs |
-pulso elástico
-cinto de contenção -exoesqueleto (2) |
|
Posturas forçadas/mantidas (3) (5) (10) (11) | -formação
-rotatividade -tapetes de descanso -mecanização -ginástica laboral -outras medidas para maior robustez física (10) -pausas |
-exoesqueleto
-calçado com palmilha adequada
|
|
Queda de objetos (4) (5) | Equimoses, escoriação, fratura, morte | -formação
-redes -mecanização -técnicas de armazenamento adequadas (5) |
-calçado com reforço superior |
Queda ao mesmo nível (4) (5) | -formação
-pavimentos nivelados e com atrito adequado -eliminar humidade e detritos escorregadios dos chãos (5) |
-calçado antiderrapante (com borracha) (5) | |
Queda em altura (4) (5) (11) | -formação (4)
-mecanização |
-arnês ou dispositivos equivalentes | |
Espaço confinado (como lagares, cubas de fermentação, barris e depósitos (11) | Lipotímia, asfixia, morte | -formação
-rotatividade -mecanização -manutenção adequada -proibição de presença de funcionários desnecessários -doseamento de agentes químicos relevantes (4) -sistema de comunicação com o exterior (4) -sinalização (4) |
-luvas
-farda justa e de tecido sem desconforto térmico -máscara com apoio respiratório |
Afogamento (11) | Morte | -sinalização
-trabalho a par -comunicação com o exterior |
-máscara de apoio ventilatório
-fato de mergulho |
Agentes químicos (4) (5) (9) (11) (12) | Variável com o agente; eventualmente morte (5) | -formação (5)
-rotatividade -mecanização -manutenção adequada -troca por agentes menos tóxicos -isolamento das áreas mais problemáticas -pausas -proibição de presença de funcionários desnecessários -respeitar o período de colheita (5) |
-luvas (5) (9)
-manguitos -farda -calçado -fato (5) -viseira -óculos (9) -máscara (9) |
Incêndio (4) | Queimadura, morte | -formação
-manutenção adequada -organização de simulacros (4) -proibição de presença de funcionários desnecessários |
-farda de material não ígneo |
Explosão (12) | -queimadura (4)
-amputação -incêndio (4) -eletrocussão (4) -morte (4) |
-formação
-manutenção adequada -organização de simulacros -proibição de presença de funcionários desnecessários |
-farda, viseira/capacete de material adequado ao contexto |
Contato com eletricidade (4) (11) | -formação
-rotatividade -manutenção adequada -proibição de presença de funcionários desnecessários -criação de normas para lavagens perto de áreas relevantes em termos de eletricidade (11) |
-luvas e calçado com isolamento elétrico | |
Trabalho com ritmo imposto por máquina (5) (9) (por exemplo tapete rolante) (5) | Cansaço, ansiedade, LMEs | -formação
-rotatividade -mecanização -ginástica laboral e outras medidas para maior robustez física -pausas |
-exoesqueleto (2) |
Trabalho monótono (9) | -ansiedade
-mais sinistralidade |
-formação
-rotatividade -pausas |
-exoesqueleto (2) |
Poeiras (12) | Patologia respiratória, alergia | -formação
-rotatividade -manutenção adequada -isolamento das áreas mais perigosas -proibição de presença de funcionários desnecessários |
-máscara
-viseira |
Vibrações (11) | Parestesias, síndroma de Raynaud, LMEs | -formação
-rotatividade -manutenção adequada -pausas -conforto térmico (evicção do frio) |
-pulso elástico
-luvas antivibratórias |
Ruido (4) (11) (12) | -hipoacusia/surdez (9)
-alterações diversas (cardíacas, obstétricas, emocionais/psicológicas…) -mais sinistralidade (9) |
-formação
-rotatividade (9) -manutenção adequada (9) -pausas -isolamento das áreas mais problemáticas (9) -proibição de presença de funcionários desnecessários |
-proteção auricular (9) |
Corte (9) | Escoriação, amputação, morte | -formação
-pausas -isolamento das áreas mais problemáticas -proibição de presença de funcionários desnecessários |
-luvas (9)
-farda justa, com blusas com manga ou casacos e calças justas e compridas |
Atracamento/ entalamento | Equimose, escoriação, fratura, morte | -formação
-rotatividade -mecanização -manutenção adequada |
-luvas de modelo e material que proporcionem mais proteção que risco |
Turnos prolongados (3) (9) | Cansaço, ansiedade | -formação
-rotatividade -mecanização -ginástica laboral e outras medidas para maior robustez física -pausas |
-exoesqueleto (2) |
Desconforto térmico (3) (5) (9) (11) (12) | -cansaço, astenia (9)
-descoordenação -choque térmico (5) |
-formação
-rotatividade -mecanização -manutenção adequada -isolamento das áreas mais problemáticas -proibição de presença de funcionários desnecessários -pausas -climatização adequada (9) |
-farda por componentes e de tecido adequado |
Radiação ultravioleta | -catarata (5) e alterações da mácula (5)
-eritema (5) -queimadura cutânea (5) -cancro de pele (5) |
-formação
-rotatividade -mecanização-isolamento das áreas mais problemáticas -proibição de presença de funcionários desnecessários -pausas (5) -acesso à sombra (5) -evicção de trabalhar ao sol nas horas de maior intensidade UV (5)
|
-creme de proteção solar (5)
– óculos (5) -farda de material e modelo adequado (5) |
Contato com animais
(insetos, aranhas, cobras) (5) |
-escoriação
-alergia -choque analilático (5)
|
-formação
-rotatividade -mecanização
|
-farda com calças (5) justas e compridas, blusas ou casacos justos e de manga comprida, tecidos com agentes repelentes para alguns animais
-máscara -viseira – calçado fechado e de cano alto (5) -luvas (5)
|
Atropelamento | Equimose, escoriação, fratura, morte | -formação
-rotatividade -mecanização -separação de zonas para veículos e peões |
-farda/colete com faixas de visibilidade acrescida |
Quadro 4: Fatores de risco e riscos laborais por subsetor na área da produção de bebidas alcoólicas
Atividade | Fatores de risco | Riscos |
Receção de matérias-primas | -movimentação manual de cargas pesadas e/ou volumosas, posturas incorretas; repetitividade
-queda de objetos e ao mesmo nível; choque contra objetos -entalamento; atropelamento, circulação de peões e empilhadores -contato com eletricidade -vibrações; ruído |
-LMEs (Lesões Músculo-Esqueléticas)
-fadigas visual e física |
Vinificação | -movimentação manual de cargas; posturas incorretas; repetitibilidade
-queda em altura e ao mesmo nível -gases e outros agentes químicos -contato com eletricidade -ruído -espaço confinado |
-fadiga
-asfixia -LMEs
|
Armazenamento/
lotes |
-circulação de peões e empilhadores
-repetibilidade -posturas mantidas -espaços confinados -agentes químicos -queda em altura -entalamento |
-LMEs |
Estufagem | -desconforto térmico
-espaços confinados -queda em altura e ao mesmo nível -contato com eletricidade |
-queimadura |
Engarrafamento | – máquinas em movimento
-corte -ruido -vibrações -agentes biológicos -alterações ergonómicas -RUV, Infravermelhos e laser -contato com eletricidade -posturas incorretas; cargas pesadas e/ou volumosas -entalamento/esmagamento -queda em altura/mesmo nível |
-queimadura
-LMEs |
Embalagem | -atracamento/entalamento
-mobilização de cargas volumosas e/ou pesadas; posturas incorretas -circulação de peões e empilhadores -queda em altura/mesmo nível e de objetos -ruído; vibrações -corte |
-fadigas visual e/ou física |
Armazenagem/ expedição | -movimentação manual de cargas; posturas incorretas
-circulação de peões e empilhadores -contato com eletricidade -queda ao mesmo nível -esmagamento -entalamento -ruido; vibrações -corte |
-LMEs
-fadigas física e/ou visual |
Manutenção/ limpeza | -movimentação manual de cargas
-soldadura -queda ao mesmo nível e de objetos -contato com a eletricidade -trabalho isolado; espaço confinado -agentes químicos -explosão -corte -entalamento |
-LMEs
-fadiga visual -eczema -asma (2) |
(1) Mónica Santos
Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online; Técnica Superior de Segurança no Trabalho; Doutorada em Segurança e Saúde Ocupacionais e CEO da empresa Ajeogene Serviços Médicos Lda (que coordena os projetos Ajeogene Clínica Médica e Serviços Formativos e 100 Riscos no Trabalho). Endereços para correspondência: Rua da Varziela, 527, 4435-464 Rio Tinto. E-mail: s_monica_santos@hotmail.com. ORCID Nº 0000-0003-2516-7758
Contributo para o artigo: seleção do tema, pesquisa, seleção de artigos, redação e validação final.
(2) Armando Almeida
Escola de Enfermagem (Porto), Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa; Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde; Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional. 4420-009 Gondomar. E-mail: aalmeida@ucp.pt. ORCID Nº 0000-0002-5329-0625
Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final.
(3)Dina Chagas
Doutorada em Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho; Pós-Graduada em Segurança e Higiene do Trabalho; Pós-Graduada em Sistemas Integrados de Gestão, Qualidade, Ambiente e Segurança. Professora convidada no ISEC Lisboa. Membro do Conselho Científico de várias revistas e tem sido convidada para fazer parte da comissão científica de congressos nos diversos domínios da saúde ocupacional e segurança do trabalho. Colabora também como revisor em várias revistas científicas. Galardoada com o 1.º prémio no concurso 2023 “Está-se Bem em SST: Participa – Inova – Entrega-Te” do projeto Safety and Health at Work Vocational Education and Training (OSHVET) da EU-OSHA.1750-142 Lisboa. E-Mail: dina.chagas2003@gmail.com. ORCID N.º 0000-0003-3135-7689.
Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final.