OCCUPATIONAL HEALTH APPLIED TO WORK IN A CONFINED SPACE
TIPO DE ARTIGO: Revisão Bibliográfica Integrativa
Autores: Santos M(1), Almeida A(2), Lopes C(3), Oliveira T(4).
RESUMO
Introdução/ enquadramento/ objetivos
Espaço confinado é definido como área de reduzidas dimensões, mas a ponto de permitir a entrada total de pelo menos um funcionário e respetiva execução de tarefas laborais existindo, contudo, limitações na entrada e saída e sem a possibilidade de nele trabalhar alguém a tempo inteiro, de forma contínua. Trabalhos com estas caraterísticas normalmente estão associados a riscos elevados, pelo que se considerou pertinente a realização de uma pesquisa bibliográfica exploratória para reunir informação capaz de orientar genericamente as equipas de saúde ocupacional.
Metodologia
Trata-se de uma Revisão Bibliográfica Integrativa, iniciada através de uma pesquisa realizada em agosto de 2018 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina, Academic Search Complete e RCAAP”.
Conteúdo
Foram selecionados nove artigos para a revisão. São considerados espaços confinados alguns tanques, caldeiras, esgotos, submarinos, oleodutos, estruturas de sistemas de exaustão/ ventilação e túneis. Parte dos acidentes ocorridos resulta em morte de um ou mais trabalhadores. Na revisão é possível enumerar diversos fatores de risco/ riscos, medidas de proteção coletiva e individual.
Conclusões
O objetivo dos autores era produzir uma revisão bibliográfica integrativa relativa à generalidade dos fatores de risco/ riscos que poderão ser encontrados no trabalho em espaço confinado; contudo, além da bibliografia ser muito escassa, a maioria dos artigos selecionados aborda situações particulares e específicas, não permitindo justamente descrever um quadro geral de forma completa. De igual modo, como as atividades que se realizam em espaços confinados são muito diversificadas e a bibliografia consultada foi escassa a nível de listagens de fatores de risco, riscos, medidas de proteção coletiva e individual, os autores resumiram esses dados e tentaram completá-los na medida da sua experiência genérica.
A publicação de mais estudos, bem como a realização de investigações a setores profissionais específicos, representando sobretudo a realidade nacional, seriam importantes para melhorar o conhecimento sobre a promoção da saúde e prevenção de acidentes.
PALAVRAS/ EXPRESSÕES- CHAVE: trabalho em espaço confinado; saúde ocupacional, saúde do trabalhador e medicina do trabalho.
ABSTRACT
Introduction / framework / objectives
Confined space is defined as an area of small size, but to the extent that it allows the total entry of at least one employee and the respective execution of work tasks, however, there are limitations on entry and exit and without the possibility of work at full time and continuously. Work with these characteristics is usually associated with high risks, and it has been considered pertinent to carry out an exploratory bibliographical research to gather information capable of generally orienting occupational health teams that contact workers whose activity is restricted to confined spaces.
Methodology
This is an Integrated Bibliographic Review, carried out through a survey conducted in August 2018 in the databases “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of summaries of effects reviews, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: Comprehensive, Medication, Complete Academic Research and RCAAP.
Content
Nine articles were selected for review. Some confined spaces include tanks, boilers, sewers, submarines, pipelines, exhaust/ ventilation systems and tunnels. Part of the accidents that occur results in the death of one or more workers. In the review it is possible to enumerate several risk factors/ risks, measures of collective and individual protection, although it is estimated that there are others whose limitations of the research have failed to show.
Conclusions
The objective of the authors was to produce an integrative bibliographical review regarding the generality of risk / risk factors that could be found in confined space work; however, in addition to the bibliography being very scarce, most of the articles selected address particular and specific situations, not allowing to describe a complete overall picture. Likewise, since the activities carried out in confined spaces are very diverse and the bibliography consulted was scarce in terms of listings of risk factors, risks, collective and individual protection measures, the authors summarized these data and attempted to complete them in the measure of their generic experience.
The publication of further studies, as well as conducting investigations of specific occupational sectors, representing the national reality above all, would be important for improving knowledge about health promotion and accident prevention.
KEY WORDS/ EXPRESSIONS: confined space work; occupational health, worker health, and occupational medicine.
INTRODUÇÃO
Espaço confinado é definido como área de reduzidas dimensões, mas a ponto de permitir a entrada total de pelo menos um funcionário e respetiva execução de tarefas laborais1 existindo, contudo, limitações na entrada e saída1-4 e sem a possibilidade de nele trabalhar alguém a tempo inteiro, de forma contínua1,2. Associadas a estas atividades devem existir normas de atuação, bem como formação e seleção dos funcionários1. Outras definições também salientam a possibilidade de se acumularem substâncias diretamente tóxicas ou explosivas e/ou de se criar um ambiente com diminuição grave na concentração de oxigénio2,3,5.
Trabalhos com estas caraterísticas normalmente estão associados a riscos elevados, pelo que se considerou pertinente a realização de uma pesquisa bibliográfica exploratória, de forma a reunir informação capaz de orientar genericamente as equipas de saúde ocupacional que contactem com trabalhadores cuja atividade esteja restrita a espaços confinados.
METODOLOGIA
Pergunta protocolar: quais as particularidades do trabalho em espaço confinado, na perspetiva da saúde ocupacional?
Em função da metodologia PICo, foram considerados:
–P (population): funcionários a exercer atividades com tarefas executadas em espaços confinados.
–I (interest): reunir conhecimentos relevantes sobre o trabalho em espaço confinado
–C (context): saúde ocupacional nas empresas com postos de trabalho com tarefas executadas em espaço confinado
Foi realizada uma pesquisa em agosto de 2018 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e Academic Search Complete”. Utilizando a expressão-chave “confined spaces” foram obtidos 129 documentos; conjugando tal com as palavras ”work e occupational” foram obtidos 30 e 8 artigos, respetivamente, com os critérios publicação igual ou superior a 2008 e acesso a texto completo; foram selecionados após a leitura do resumo 8 trabalhos, respetivamente e, após a consulta do trabalho na íntegra, manteve-se o interesse em 7 deles.
Contudo, como não se encontraram estudos relativos à realidade portuguesa nestas bases de dados indexadas, os autores procuraram trabalhos inseridos no RCAAP (Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal). Aqui, utilizando as palavras/ expressões-chave “trabalho em espaço confinado”, foram obtidos 55 documentos; após a leitura do resumo foram selecionadas duas investigações, ainda que não nacionais; após a consulta na íntegra manteve-se o interesse em ambas.
O resumo da metodologia aplicada nesta revisão pode ser consultado nos fluxogramas de 1ª e 2ª fases. Na tabela 1 estão resumidas as caraterísticas metodológicas dos artigos selecionados.
CONTEÚDO
O trabalho em espaços confinados é muito diversificado, facto que compromete a obtenção de um conjunto de medidas generalistas direcionadas à prevenção de acidentes e proteção dos trabalhadores. São disso exemplo as atividades profissionais realizadas em tanques, caldeiras, esgotos, submarinos, oleodutos, estruturas de sistemas de exaustão/ ventilação e túneis2,4,5. Bem como alguns postos de trabalho inseridos na indústria do papel e celulose, gráfica, alimentar, da borracha, couro, têxtil, naval, química, petroquímica, construção civil, mineração, siderurgia, metalurgia e setor agroindustrial2.
Acidentes e algumas situações específicas descritas na literatura selecionada
Parte dos acidentes ocorridos resultou em morte de um ou mais trabalhadores3,5. Considera-se que os acidentes se associam à falta de conhecimentos da parte dos trabalhadores relativamente aos riscos dos espaços confinados, entrada não restrita, ausência de bloqueio de alguns equipamentos, não utilização de EPIs (equipamentos de proteção individual), normas de atuação perante situações de emergência inexistentes ou pouco eficazes e ausência de execução de testes da atmosfera no interior dessas áreas. Parte das investigações associadas a acidentes fatais revelou que o socorro foi improvisado (não existiam normas pré-definidas) e, por vezes, nem uma correta identificação e valoração prévia dos fatores de risco/ risco laborais1.
Um dos artigos selecionados pretendeu avaliar a capacidade de resposta do empregador perante emergências associadas a espaços confinados e a maior ou menor dependência das estruturas públicas, como bombeiros e outras equipas mais especializadas4, ainda que o plano de emergência elaborado à responsabilidade do empregador seja obrigatório nos países minimamente organizados perante a segurança2,4. Contudo, a criação e manutenção de uma equipa interna é exigente, quer a nível técnico, quer económico4. Além de se definirem as principais emergências que podem surgir, deve estar previamente estipulado como atuar, havendo um elemento da empresa que assuma o papel de responsável por este departamento e outro o papel de vigia direto na entrada do local confinado3.
Entre 1993 e 2005, registaram-se 431 acidentes em espaços confinados nos EUA, do qual resultaram 530 mortes; ou seja, em 20% dos casos faleceu mais que um trabalhador. 57% das empresas afirmaram estar dependentes de equipas externas de emergência, sendo que estes chegavam ao local, em média, até 5 e 7 minutos (para bombeiros e elementos mais especializados, respetivamente)4. Não foram encontrados dados equivalentes relativos a Portugal.
A OSHA iniciou em 2007 um documento que pretendia criar algumas normas associadas ao trabalho em espaço confinado. Ou seja, pretendeu formalizar a informação que o empregador deverá proporcionar aos trabalhadores, relativa aos fatores de risco/ riscos laborais, EPI a utilizar, bem como equipamento e forma de atuar nas emergências mais prováveis5.
Além da presença de produtos diretamente tóxicos, por vezes também surgem em ambientes confinados a diminuição do oxigénio6.
Uma das situações quase fatais descrita na literatura consultada, por exemplo, relacionou-se com uma metemoglobinemia, num funcionário a remover detritos sólidos no interior de um tanque que armazenava diisocianato de difenilmetano. Mesmo estando a usar máscara com apoio respiratório e facto Tyvec, após a segunda entrada referiu cefaleias e tonturas. Posteriormente recorreu ao serviço de urgência hospitalar com dificuldade respiratória grave; nos dois meses que esteve internado sofreu uma paragem cardíaca. À posteriori foi identificada no interior do tanque anilina e toluidina, ambas causadoras de metemoglobinemia6.
O sulfureto de hidrogénio está associado a algumas mortes em espaços confinados; este surge quando existem sulfatos ou bactérias redutoras de sulfatos, condições anaeróbicas e temperatura superior a 20ºC, ou seja, situações essas que facilmente coexistem em setores profissionais com espaços confinados. Os casos menos graves podem cursar com irritação respiratória, ocular e digestiva; pode atuar também como depressor do sistema nervoso central7.
Os fatores que contribuem para a diminuição da concentração de oxigénio são, por exemplo, a ocorrência de algumas reações químicas (como fermentação ou oxidação); considera-se que esta condição é a justificação mais frequente dos casos fatais em espaços confinados, dada a não deteção visual e incapacidade geralmente de reagir correta e atempadamente. Considera-se que a concentração recomendada em ambientes de trabalho varia entre 19,5 e 23,5%. Sempre que haja a possibilidade de o oxigénio estar diminuído ou que existam agentes tóxicos, o trabalhador deve ter um dispositivo portátil que lhe permita quantificar tal antes de iniciar a tarefa em si5.
Outras substâncias frequentemente encontradas em espaços confinados são o amoníaco, cloro, dióxido e monóxido de carbono, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogénio e gás sulfídrico. Contudo, a bibliografia selecionada apenas desenvolveu a semiologia associada ao monóxido de carbono, que se carateriza por cefaleia, náusea, síncope e até morte e, no caso do gás sulfídrico, salientam-se a irritação ocular e respiratória, tosse, anosmia, dispneia e também é possível a morte3.
O elemento deflagrador para a explosão é o calor e este poderá ser originado pela corrente elétrica, calor radiante, eletricidade estática, fricção, combustão espontânea ou reação química.
Por vezes, em alguns espaços confinados, são executadas soldaduras com alguma frequência e nem sempre a ventilação é a mais adequada. Por exemplo, num estudo norte americano, percebeu-se que apenas dois terços de sessenta e cinco locais avaliados de espaços confinados tinham ventilação mecânica e que a proteção respiratória era usada em somente 77% dos casos. Nesta investigação os autores também verificaram que a exposição do trabalhador dependia da proximidade aos fumos libertados e do método específico de soldadura8.
No interior dos contentores de carga marítima, por exemplo, originam-se substâncias tóxicas, situação essa relacionada não só com a carga principal, mas também com os pesticidas (de uso obrigatório segundo a legislação de alguns países, relativa a comércio internacional de alguns produtos) ou até dos próprios materiais de embalamento. São alguns exemplos o dióxido de carbono, benzeno e a fosfina (hidreto de fósforo), todos não percetíveis aos níveis visual e odorífero. Sugere-se a sinalização dos contentores em que o produto já tenha sido aplicado mas que ainda não tenham sido ventilados; é importante identificar com clareza quais os agentes químicos utilizados9.
Metodologia para avaliação dos fatores de risco/ riscos laborais
Um dos artigos consultados pretendeu avaliar qual a melhor metodologia para avaliar os fatores de risco/ riscos laborais em espaço confinado. Selecionaram-se quatro hipóteses: check-list sem e com estimativa de risco, cálculo do risco sem estruturação formal (apenas baseado na experiência do utilizador) e questionário acoplado a uma matriz de risco. Os autores concluíram que as duas primeiras técnicas eram mais rápidas, mas menos completas a descrever o contexto global e mais dependentes da experiência e habilidade do utilizador1.
Principais fatores de risco/ riscos associados ao trabalho em Espaço Confinado
Os principais fatores de risco/ riscos associados são:
- intoxicação por agentes químicos1-4 e eventuais alterações cutâneas, oncológicas, otorrinolaringológicas, pulmonares, renais, hepáticas, tiroideias ou até morte
- explosão1-4 e possíveis escoriação, equimose, fratura, amputação e morte
- agentes biológicos1,2 e possivelmente infeções ou até morte
- risco mecânico1-3 (nomeadamente corte, atracamento, amputação ou morte)
- contato com a eletricidade1-3 (e eventuais queimadura, paragem cardíaca ou eletrocussão)
- queda ao mesmo nível1 (sendo possível a escoriação, equimose, fratura ou morte)
- queda em altura1 (equivalente ao item anterior)
- queda de objetos1,3 (igual)
- alterações músculo-esqueléticas1,3 (e possivelmente tendinites, tenossinovites, síndroma do túnel cárpico)
- diminuição do oxigénio1,3,4 (podendo estar associadas a confusão, desorientação ou até morte)
- poeiras1 (em contexto de alterações otorrinolaringológicas, pulmonares ou oncológicas)
- desconforto térmico (calor)1,2 (podendo estar associadas a desidratação, desorientação, confusão)
- contato com superfície quente (dando origem possivelmente a queimaduras)1,2
- ruído1-3 (hipoacusia/ surdez e as menos consensuais consequências a nível cardiovascular/ endócrino/ emocional)
- afogamento1,2
- trabalho isolado1 (e menor capacidade de pedir/ obter ajuda em caso de acidente).
- vibrações2 (e possíveis alterações vasculares, neurológicas e músculo-esqueléticas)
- alterações na pressão atmosférica2 (quer no sentido de estar aumentada em trabalho aquático, quer diminuída em aeronaves, e possíveis doença da descompressão ou barotrauma, sobretudo)
- radiações ionizantes e não ionizantes2 (e eventual patologia oncológica)
- lipotimia/ sincope2 (e equimoses, escoriações, fraturas ou até morte, associada ao acidente potencialmente criado)
- soterramento2,3 (sendo verificáveis porventura escoriações, equimoses, fraturas, amputações ou até morte)
- baixa iluminância3 (existindo aqui a possibilidade de haver esforço visual/ cansaço ocular e/ ou risco de acidente mecânico, por queda de objetos, ao mesmo nível ou em altura, por exemplo).
Medidas de proteção coletiva
De seguida poder-se-ão consultar algumas normas relativas ao que fazer para entrar num espaço confinado, nomeadamente:
- colocar sinalização de proibição de entrada a pessoas não autorizadas
- desligar, bloquear e/ou sinalizar o equipamento perigoso no interior do espaço3
- testar a atmosfera (oxigénio, gases inflamáveis, tóxicos e/ou corrosivos)2,3
- fornecer os equipamentos de trabalho e/ou de resgate adequados
- ter normas de emergência predefinidas e divulgadas
- ser necessário ter autorização da parte de um supervisor para entrar
- comunicação garantida entre trabalhadores que entram, os que ficam de fora e os que coordenam
- monitorizar as atividades3.
- sinalização dos riscos após avaliação2
- proibição de entrada a pessoas estranhas2.
Medidas de proteção individual
A nível de EPIs a literatura consultada destacou:
- botas
- luvas
- óculos
- máscara
- farda2.
DISCUSSÂO/ CONCLUSÃO
O objetivo dos autores era produzir uma revisão bibliográfica integrativa relativa à generalidade dos fatores de risco/ riscos que poderão ser encontrados no trabalho em espaço confinado; contudo, além da bibliografia ser muito escassa, o trabalho em espaços confinados está sujeito a fatores de risco particulares e muito dependentes da tarefa especificamente praticada, não permitindo justamente descrever um quadro geral de forma completa.
A pesquisa identificou um conjunto de fatores de risco a que os trabalhadores podem estar expostos, contudo não foram evidenciados outros que, na opinião dos autores, importa também considerar, tais como: a) ataques de pânico/ agudização de claustrofobia (e eventual aumento da incidência ou gravidade dos acidentes, sendo muito mais fácil o desfecho ser negativo, pela incapacidade do trabalhador reagir calma e logicamente aos problemas que entretanto surjam); b) contato com humidade (e possível surgimento ou agravamento de patologias dermatológicas); c) movimentos repetitivos (e potenciais alterações músculo-esqueléticas); d) turnos noturnos e/ou rotativos (e eventual cronodisrupção); e) cargas (estando por vezes associadas algias genéricas ou surgimento/ agravamento de lesões músculo-esqueléticas ou patologia herniária: discal, abdominal, umbilical e/ou inguinal).
De igual modo, as medidas de proteção coletiva elencadas podem ser consideradas escassas, pois na ótica dos autores, deveriam ser pensadas outras medidas como: a) isolar as tarefas mais perigosas; b) expor o menor número de trabalhadores às tarefas mais perigosas; c) implementar alguma rotação de tarefas de forma a não serem os mesmos funcionários expostos aos mesmos fatores de risco; d) assegurar a formação adequada; e) organização do trabalho (responsável pela instituição, coordenador de setor, vigia e trabalhadores); f) implementar esquema de pausas se pertinentes para os fatores de risco existente; g) evicção de turnos noturnos rotativos; h) criação de condições para efetuar sestas durante os turnos noturnos, caso os funcionários achem boa ideia (se se sentirem repousados após curtos períodos de sono em vez de desorientados); i) equipamentos e instrumentos de trabalho atualizados e modernos; j) boa manutenção dos equipamentos e instrumentos de trabalho; k) apoio mecânico para auxílio em cargas elevadas ou moderadas mas repetitivas; l) trabalho em equipas mínimas de duas pessoas.
Por último, os EPI evidenciados pela revisão bibliográfica são também redutores face aos riscos do trabalho em espaços confinados, pelo que se acrescentam: a) manguitos; b) viseira; c) capacete; d) caneleiras; e) joalheiras; f) cinta abdominal; g) pulso elástico; h) proteção auricular; i) casaco térmico; j) fato de mergulho, por exemplo, se aplicável.
Uma vez que a informação disponível ainda é escassa, seria relevante partilhar, bem como efetuar investigações a setores profissionais específicos e divulgar tal no formato de trabalhos científicos, sobretudo a nível nacional.
CONFLITOS DE INTERESSE, QUESTÕES ÉTICAS E/OU LEGAIS
Nada a declarar.
AGRADECIMENTOS
Nada a declarar.
BIBLIOGRAFIA
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5-Smith P, Lockhart B, Besser B, Michalski M. Exposure of unsuspecting workers to deadly atmospheres in below-ground confined spaces and investigation of related whole-air sample composition using adsorption gas chromatography. Journal of Occupational and Environmental Hygiene. 2014, 11, 800-808. DOI: 10.1080/15459624.2014.922687
6-Smith P, Lodwick J, Dartt J, Amani J, Fagan K. Methemoglobinemia resulting from exposure in a confined space: exothermic self-polymerization of 4,4-methtlene diisocyanate (MDI) material. Journal of Occupational and Environmental Hygiene. 2017, 14(1), D13-D21. DOI: 10.1080/15459624.2016.1229484
7-Nogué S, Pou R, Fernandez J, Sanz- Gallén P. Fatal hydrogen sulphide poisining in confined spaces. Occupacional Medicine. 2011, 61, 212-214. DOI: 10. 1093/occmed/kqr021
8-Pouzou J, Warrer C, Neitzel R, Croteau G, Yost M, Seixas N. Confined space ventilation by shipyard welders: observed use and effectiveness. Annals of Occupational Hygiene. 2015, 59(1), 116-121. DOI: 10.1093/annhyg/meu070
9-Svedberg U, Johanson G. Work inside ocean freight containers- personal exposure to off- gassing chemicals. Annals of Occupational Hygiene. 2011, 57(9), 1128-1137. DOI: 10.1093/annhyg/met033
Fluxograma de 1ª fase
Fluxograma de 2ª fase
Tabela 1: Caraterização metodológica dos artigos selecionados
Artigo | Caraterização metodológica | Resumo |
1 | Observacional analítico transversal
|
Neste documento os investigadores aplicaram quatro métodos para análise de riscos ao trabalho em espaço confinado, em contexto de três situações diferentes, nomeadamente uma check-list sem e com estimativa de risco, cálculo de risco sem identificação formal e questionário seguido da aplicação de uma matriz de risco. As duas primeiras técnicas foram mais rápidas, mas nem sempre representavam o panorama global de forma completa e estavam parcialmente dependentes da experiência e habilidade do utilizador. |
2 | Revisão bibliográfica narrativa e estudo de caso | Este autor realizou uma tese onde descreveu sumariamente algumas caraterísticas gerais dos espaços confinados e analisou um estudo de caso específico, referente ao interior dos vagões-tanque ferroviários. |
3 | Revisão bibliográfica narrativa e estudo de caso | Esta tese descreveu sumariamente algumas caraterísticas gerais dos espaços confinados e fez análise de um estudo de caso específico, referente ao reservatório de água do campus de uma Universidade, elaborando uma lista de fatores de risco/ riscos e respetiva quantificação de frequência e gravidade. |
4 | Pesquisa documental
|
No trabalho em causa os investigadores analisaram a atuação perante emergências laborais em espaços confinados, contrapondo equipas internas e treinadas de trabalhadores destacados, versus equipas públicas, como bombeiros e profissionais mais especializados, existente nos EUA. Percebeu-se que entre 1992 e 2005 foram oficializados 431 acidentes em espaços confinados e que cerca de 20% originaram mais que uma morte. 57% dos empregadores estudados demonstraram confiar no serviço público de emergência em vez de terem equipas internas treinadas para esse fim específico (sendo que as primeiras chegavam ao local do acidente, em média, 5 a 7 minutos depois, para bombeiros e elementos mais especializados, respetivamente). |
5 | Observacional analítico transversal | Os autores desta obra destacaram o estudo da atmosfera em espaços confinados através da cromatografia gasosa de absorção. |
6 | Caso clínico | Os autores deste artigo descrevem a situação ocorrida com um trabalhador que, ao tentar remover material sólido do interior de um tanque de pequenas dimensões, que continha anteriormente diisocianato de difenilmetano líquido (mesmo estando a usar máscara com apoio respiratório e fato adequado), referiu cefaleias e tonturas após a segunda entrada no espaço confinado, recorrendo posteriormente a serviço de urgência hospitalar por dificuldade respiratória intensa; esteve internado dois meses e nesse período sofreu uma paragem cardíaca. À posteriori foram identificadas anilina e toluidina, substâncias conhecidas por conseguirem causar metemoglobinemia. |
7 | Estudo de casos
|
No documento aqui mencionado faz-se a descrição breve de duas mortes laborais em espaço confinado, associadas à exposição a sulfureto de hidrogénio; descrevendo sumariamente a semiologia e consequências médicas possíveis. Os autores recomendam a instalação de sistemas de extração ativa e automática para o exterior dos edifícios, associadas a alarmes automáticos. |
8 | Observacional analítico transversal
|
Este artigo teve como objetivo avaliar a ventilação em espaços confinados no setor da indústria naval, sobretudo aqueles onde se pratique a soldadura. Das 65 situações analisadas, dois terços apresentavam ventilação mecânica e a proteção respiratória foi usada em 77% dos casos. A exposição foi particularmente influenciada pelo tipo de soldadura e proximidade do trabalhador aos fumos libertados. |
9 | Observacional analítico transversal | O artigo mencionado teve como objetivo avaliar os eventuais riscos existentes no interior de contentores de transporte marítimo, em função da carga anteriormente transportada. Os autores recomendam que os trabalhadores que tenham de entrar nestas estruturas, além de usarem EPIs adequados, devam ter acesso a equipamentos que doseiem algumas substâncias nocivas eventualmente presentes. |
(1)Mónica Santos
Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho e Doutoranda em Segurança e Saúde Ocupacionais, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Presentemente a exercer nas empresas Medicisforma, Servinecra, Securilabor, CSW e SBE; Diretora Clínica das empresas Quercia e Gliese; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. Endereços para correspondência: Rua Agostinho Fernando Oliveira Guedes, 42, 4420-009 Gondomar. E-mail: s_monica_santos@hotmail.com.
(2)Armando Almeida
Doutorado em Enfermagem; Mestre em Enfermagem Avançada; Especialista em Enfermagem Comunitária; Pós-graduado em Supervisão Clínica e em Sistemas de Informação em Enfermagem; Docente na Universidade Católica Portuguesa, Instituto da Ciências da Saúde – Escola de Enfermagem (Porto); Diretor Adjunto da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 4420-009 Gondomar. E-mail: aalmeida@porto.ucp.pt.
(3)Catarina Lopes
Licenciada em Enfermagem, desde 2010, pela Escola Superior de Saúde Vale do Ave. A exercer funções na área da Saúde Ocupacional desde 2011 como Enfermeira do trabalho autorizada pela Direção Geral de Saúde, tendo sido a responsável pela gestão do departamento de Saúde Ocupacional de uma empresa prestadora de serviços externos durante 7 anos. Atualmente acumula funções como Enfermeira de Saúde Ocupacional e exerce como Enfermeira Generalista na SNS24. Encontra-se a frequentar o curso Técnico Superior de Segurança do Trabalho.
4715-028. Braga. E-mail: catarinafflopes@gmail.com
(4)Tiago Oliveira
Licenciado em Enfermagem pela Universidade Católica Portuguesa. Frequenta o curso de Técnico Superior de Segurança no Trabalho. Atualmente exerce a tempo inteiro como Enfermeiro do Trabalho. No âmbito desportivo desenvolveu competências no exercício de funções de Coordenador Comercial na empresa Academia Fitness Center, assim como de Enfermeiro pelo clube de futebol União Desportiva Valonguense. 4435-718 Baguim do Monte. E-mail: tiago_sc16@hotmail.com.
Santos M, Almeida A, Lopes C, Oliveira T. Saúde Ocupacional aplicado ao Trabalho em Espaço Confinado. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 2018, volume 6, 1-6. DOI: 10.31252/RPSO.23.10.2018