OCCUPATIONAL HAZARDS OF LAUNDRY PROFESSIONALS
TIPO DE ARTIGO: Resumo de trabalho divulgado noutro contexto
AUTORES: Santos M(1) , Almeida A(2).
INTRODUÇÃO
Os profissionais que trabalham em lavandarias estão sujeitos a vários fatores de risco/ riscos ocupacionais, nomeadamente a exposição aos agentes químicos, fibras têxteis, mobilização de cargas, ruído e vibrações (ainda que por tempos curtos); no ato de “passar a ferro” podemos também destacar a postura de pé estática mantida, movimentos repetitivos com o membro superior dominante e a temperatura elevada (quer no sentido de ocasionar uma queimadura, quer pelo desconforto térmico global, eventualmente criado); se o indivíduo se dedicar especialmente ao atendimento ao público, há que acrescentar os fatores de risco associados ao computador (como esforço visual, radiações eletromagnéticas, posturas mantidas e, em função da intensidade e ritmo, movimentos repetitivos no rato e teclado). Contudo, realizando uma pesquisa em bases de dados científicas apenas surgiram artigos associados ao risco químico.
CONTÉUDO
Principais agentes químicos utilizados
Os solventes mais utilizados nas lavandarias a seco são o percloroetileno ou tetracloroetileno e o tricloroetileno; tratam-se de hidrocarbonetos clorados, que atuam como contaminantes ambientais, sendo também cancerígenos para os animais e, eventualmente, para os humanos também (controverso).
Noções Toxicológicas breves e posturas de algumas Instituições
Alguns estudos revelaram que estes compostos apresentam toxicidades hepática, renal, neurológica (como alterações da acuidade visual e da perceção da cor), hematológica (como anemia), imunológica (que, por sua vez, aumentam o risco de infeções e cancros) e reprodutora (como aborto espontâneo e alterações na morfologia e fisiologia espermáticas); observa-se ainda uma maior prevalência de esclerodermia e Esclerose Lateral Amiotrófica.
A Agência Internacional de Pesquisa para o Cancro (IARC) classifica a primeira destas substâncias como provavelmente carcinogénica em humanos, com particular destaque para o esófago, colo uterino, linfoma não Hodgkin, rim, fígado e cérebro. O Programa Nacional Norte Americano de Toxicologia também a classifica como eventualmente carcinogénica em humanos. Por sua vez, na Conferência Americana Governamental de Higienistas Industriais, o produto foi reconhecido como carcinogénico em animais, mas sem definição clara para humanos; posição equivalente à “Deutsche Forschungsgemeinschaft” e da Organização Mundial de Saúde. A capacidade cancerígena em animais é aceite sem controvérsia, com destaque para o fígado e rim.
Semiologia (sinais e sintomas)
A principal semiologia associada ao contato com estes produtos carateriza-se por irritação das mucosas; bem como alterações gastrointestinais, hepáticas, renais e do Sistema Nervoso Central. Nas fichas de segurança acedidas em qualquer motor de busca generalista da internet, é ainda mencionada a possibilidade de tontura, náusea, vómito, astenia, fissura cutânea, dermatite e irritação ocular; afirmando-se aqui também que, com exposições muito intensas, poderá ocorrer perda de consciência ou até mesmo morte.
Principais vias de contato
Ao longo das últimas décadas as máquinas utilizadas nas lavandarias foram progressivamente aperfeiçoadas mas, ainda hoje, a exposição laboral é considerável. O contato ocorre sobretudo por mau-funcionamento do aparelho, derrames acidentais e na manutenção/ limpeza do equipamento. Outros autores realçam que o contato mais significativo ocorre através da transferência da roupa entre máquinas, sobretudo quando a ventilação é deficiente ou simplesmente ao remover no final do processo a roupa da máquina. Estes agentes entram no organismo através das vias inalatória, cutânea e digestiva; sendo que alguns destacam a importância da primeira.
Vários artigos mencionam que mesmo indivíduos que apenas vivem ou trabalham perto de lavandarias, podem ser afetados por estes agentes.
Agentes químicos alternativos
Existem agentes químicos alternativos (como o propilenoglicoeter); contudo, não são tão eficientes na limpeza dos tecidos. Alguns estados norte-americanos passaram a usar o bromopropano (ou brometo de propilo); contudo, existem investigadores que não descartam a possibilidade de este ser também neurotóxico (encontram-se casos descritos de cefaleia, desorientação e descoordenação) e/ou causar alterações reprodutivas. Contudo, a mudança entre alguns produtos exige adaptações técnicas nas máquinas (ajuste de temperatura, troca de borrachas de isolamento e aperfeiçoamento da ventilação).
Medidas de proteção coletiva
Foi proposto o nível máximo para o tetracloroetileno de 25 ppm (partes por milhão), por oito horas, com índice biológico máximo admissível de 5 ppm, em função da “American Conference of Governamental Industrial Hygienists- ACGIH) ou de 15 ppm (segundo “The New York State Department of Health- NYSDOH). Na Alemanha, por sua vez, foi proposto o cut-off de 5 microgramas/ m3, também em função da exposição crónica ou, ainda neste país, mas em função da “German Commission for the Investigation of Health Hazards of Chemical Compouds”, considerando que não há qualquer valor aceitável de exposição. Noutros países o nível máximo de exposição permitido é de 100 ppm (678mg/ m3), com exposição de pico de 300 ppm (não mais que cinco minutos a cada três horas). Ou seja, na realidade não existe ainda consenso internacional em relação aos níveis de exposição.
Apenas uma pequena percentagem de máquinas de lavandaria está equipada com carvão para absorver os vapores deste agente, tal como apenas num pequeno número destas existe um sistema de ventilação adequado.
Na generalidade das lavandarias verifica-se a existência de equipamentos em deficiente manutenção, armazenamento inadequado dos agentes e eliminação inapropriada dos resíduos. Os riscos químicos seriam minimizados caso os elementos envolvidos tivessem mais (in)formação sobre as consequências médicas e se fosse possível promover alterações no funcionamento técnico das lavandarias (por exemplo, com apoios também financeiros). A (in)formação deve ser simples e direta, de forma a ter o maior impacto possível; a maioria dos trabalhadores não tem noção da toxicidade e demostra dificuldade em acreditar que os agentes de limpeza utilizados possam ser cancerígenos.
Generalizando, além da troca por outro produto menos tóxico (se possível), seria ainda necessário fazer rotação dos trabalhadores pelas diversas tarefas, isolar as áreas onde se executam as tarefas com maior risco e adequar as máquinas utilizadas (quer no sentido de as modernizar, quer providenciando o melhor estado de manutenção possível).
EPIs (Equipamentos de Proteção Individual)
Apesar de alguns estabelecimentos terem máscaras e luvas adequadas, na generalidade dos casos estes equipamentos são mal ou não utilizados.
As fichas de segurança consultadas realçam (ainda que não de forma consensual) o uso de óculos ou viseira facial, luvas resistentes (como de butilo, polietileno ou borracha nitrílica), máscara ou suporte respiratório (com pressão positiva) se a ventilação não for suficientemente eficaz, avental, calça/ fato de material adequados e calçado fechado ou bota (consoante as fichas de segurança).
Em relação ao ruído, obviamente, sempre que se seja ultrapassado o limite máximo permitido deveria ser providenciado a proteção auricular, com atenuação adequada.
CONCLUSÕES
Mesmo procurando em bases de dados internacionais e indexadas, não se encontra muita informação relativa aos riscos laborais dos trabalhadores de lavandarias, sendo que os artigos se restringem ao risco químico. Os dois principais agentes utilizados são cancerígenos em animais mas, em humanos, pelas dificuldades éticas óbvias de investigação e complexidade de variáveis, os estudos apresentam conclusões divergentes; alguns autores mencionam também, ainda que com menor destaque, eventuais alterações neurológicas, renais, hepáticas, hematológicas, imunológicas e reprodutivas.
Os profissionais inseridos nas equipas de Saúde Ocupacional que se dedicam a este ramo deverão estar informados sobre os dados mais atuais, sendo também muito pertinente que se faça investigação na área, até para melhor caraterizar a realidade nacional e sensibilizar os respetivos funcionários.
BIBLIOGRAFIA
Santos M, Almeida A. Principais riscos ocupacionais associados ao trabalho em lavandarias. Revista Segurança. 2015, 226, 31-33.
[1] Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho; Presentemente a exercer nas empresas Medicisforma, Clinae, Servinecra e Serviço Intermédico; Diretora Clínica da empresa Quercia; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line; Endereços para correspondência: Rua Agostinho Fernando Oliveira Guedes, 42 4420-009 Gondomar; s_monica_santos@hotmail.com.
[1] Mestre em Enfermagem Avançada; Especialista em Enfermagem Comunitária; Pós-graduado em Supervisão Clínica e em Sistemas de Informação em Enfermagem; Docente na Escola de Enfermagem, Instituto da Ciências da Saúde- Porto, da Universidade Católica Portuguesa; Diretor Adjunto da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line; aalmeida@porto.ucp.pt
Santos M, Almeida A. Riscos Laborais associados às Lavandarias. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 2016, volume 2, s62-s55. DOI:10.31252/RPSO.03.11.2016