RISK ASSESSMENT IN HOSPITAL STERILIZATION CENTERS
TIPO DE ARTIGO: Artigo de Opinião
AUTORES: Mendes C(1), Sousa M(2), Lança A(3), Paixão S(4), Ferreira A(5).
O trabalho deve permitir ao trabalhador sua própria realização pessoal(1). Apesar deste trazer em alguns casos sentimentos de prazer e satisfação, poderão também existir situações que expõem o trabalhador a riscos. Os trabalhadores que atuam na área da saúde estão expostos a uma diversidade de riscos no exercício de sua profissão(2). As doenças ocupacionais são assim resultantes de exposições a agentes físicos, ergonómicos, químicos e biológicos presentes no local do trabalho e, mais recentemente, considera-se também o risco psicossocial(3). A articulação entre o trabalho e a saúde é um tema de constante investigação científica e, no decorrer da evolução histórica das sociedades, tem sido objeto de observação e reflexão(4).
É de fundamental importância lembrar que nem sempre os profissionais de saúde atuam em áreas diretas de prestação de cuidados; podem desempenhar as suas tarefas em serviços suporte e de apoio à prestação de cuidados. O trabalho nesses serviços pode ser tão ou mais insalubre que os de prestação direta de cuidados, expondo os trabalhadores a um número considerável de riscos. Entre essas áreas está o Centro de Material e Esterilização (CME)(4).
O CME é uma unidade vital e fundamental do contexto hospitalar, tendo como função prover materiais livres de contaminação para serem utilizados nos mais variados procedimentos hospitalares. Quem não trabalha no setor, muitas das vezes não conhece a complexidade das suas atividades(5). O CME é responsável pela receção, limpeza, descontaminação, preparação, esterilização, armazenamento e distribuição dos materiais utilizados nas diversas unidades de um estabelecimento de saúde, no qual são manipulados materiais contaminados e infetados(6).
É recomendado que os artigos que entram nos CME tenham um fluxo contínuo, sem retrocesso e sem o cruzamento do material limpo com o contaminado(7).

O planeamento da área física está intrinsecamente ligado às atividades do processo de trabalho(7):
- Receber e classificar os artigos sujos procedentes das áreas hospitalares;
- Lavar e secar os materiais, através das seguintes máquina e equipamentos:
- Máquinas de lavar / desinfeção térmica
- Máquinas de lavar / desinfeção térmica-química
- Máquinas ultrassónicas
- Lavagem manual (por imersão e não imersão)
- Pistola de secagem
- Receber as roupas vindas da lavandaria;
- Preparar e embalar os materiais e roupas;
- Esterilizar ou desinfetar os materiais e roupas, através de métodos indicados de acordo com a compatibilidade dos artigos, indicações de uso e avaliações de custo-benefício, através dos seguintes sistemas de esterilização:
- Calor húmido
- Calor seco
- Óxido de etileno
- Formaldeído a vapor sob pressão 73º
- Gás plasma de peróxido de hidrogénio
- Vapor a baixa temperatura com formaldeído 2%;
- Armazenar os materiais processados;
- Distribuir os materiais e roupas processados;
- Zelar pela proteção e segurança dos operadores.
Quais os fatores de risco que influenciam a segurança e saúde dos trabalhadores?
Os trabalhadores em causa dão ênfase aos riscos de incêndio, contacto com substâncias químicas e biológicas, exposição a ruído, esforço físico e lesões com corto-perfurantes, além do risco de queda dos materiais, do desconforto por postura adotada e da sobrecarga de trabalho(8)– ver Quadro 1.
Qual a importância dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) nos procedimentos efetuados nas centrais de esterilização?
A manipulação de dispositivos contaminados por material biológico requer a adoção de medidas de segurança pelos trabalhadores. Precauções padrão devem ser adotadas independentemente do nível de sujidade/ contaminação do artigo. Portanto, é indispensável o uso de EPI, os quais deverão ser usados para garantir a segurança do trabalhador exposto ao risco de perfuração ou corte, por inalação, prevenindo acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais. Deve-se considerar que mesmo utilizando todos os EPI recomendados, acidentes podem acontecer e medidas devem ser adotadas visando minimizar o risco de infeção e/ ou a deteção precoce de possíveis doenças(6).
O uso de EPI na área suja minimiza o risco de contacto direto da pele e mucosas com qualquer material contaminado e com os produtos químicos necessários ao processo. Ressalta-se que o processo de limpeza inicial realizado nos hospitais é predominantemente manual, o que aumenta o risco; mesmo quando são utilizadas máquinas permanece a recomendação do uso de EPI(3) mas, para além disso, surgem e ainda assim, expõe os trabalhadores a outros fatores de riscos, como temperaturas elevadas ou ruído.
A adesão ao uso de EPI tem relação direta com a perceção de risco ao qual o trabalhador está exposto(11).
Estão por isso recomendados farda, avental, bata, luvas, máscara, viseira, óculos e/ou calçado adequado.
Considerações Finais
Em relação à dinâmica de trabalho no CME, evidencia-se a presença de tarefas rotineiras e repetitivas, especialmente pela forma sequencial de processamento dos materiais e pela necessária produtividade, o que o assemelha, em alguns aspetos, a uma indústria; embora a evolução tecnológica exija destes trabalhadores a atualização de conhecimentos relativos a novas matérias-primas, novas embalagens, novos mecanismos de esterilização, entre outros que possibilitem a utilização segura e eficaz de toda a tecnologia e avanço existentes(4).
Ainda assim, é evidente a subvalorização dos trabalhadores afetos a este sector, bem como às atividades ali realizadas, talvez por ser um setor fechado, no qual as pessoas não interagem tanto com o meio externo, ou até mesmo pelo fato de as pessoas não conhecerem a relevância do trabalho no CME para um funcionamento eficiente das demais unidades do hospital.
Trabalhadores satisfeitos tendem a realizar suas atividades com mais atenção, acolhimento e cordialidade, o que contribui para a humanização nas relações. Não se pode negligenciar que a qualidade do trabalho, da segurança ao usuário é, também, advinda dos materiais corretamente processados no CME(12).
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Mauro M, Muzi C, Guimarães R, Mauro C. Riscos ocupacionais em saúde. 2004;
- Ribeiro R, Vianna L. Uso dos equipamentos de proteção individual entre trabalhadores das centrais de material e esterilização 1. 2012;11:199–203.
- Tipple A, Aguliari H, Souza A, Pereira M, Mendonça A, Silveira C. Equipamentos de proteção em centros de material e esterilização : disponibilidade, uso e fatores. 2007;6(4):441–8.
- Silva A. Morbidade referida em trabalhadores de enfermagem de um centro de material e esterilização. 2007;6(1):95–102.
- Talhaferro B, Barboza D, Domingos N. Qualidade de vida da Equipe de Enfermagem da Central de Materiais e Esterilização. 2006;15(6):495–506.
- Ferreira A, Tipple V, Custódia A, Souza S, Gomes A. Acidente com material biológico entre trabalhadores da área de expurgo em centros de material e esterilização. 2004;271–8.
- Daniel K. Riscos ocupacionais durante a higienização de materiais em uma Central de Material e Esterilização. 2011;1–34.
- Aquino J, Ferreira E. Centro de material e esterilização : acidentes de trabalho e riscos ocupacionais. 2014;19(3):148–54.
- Possari J. Centro de Material e Esterilização – Planejamento e Gestão. 2003. 166 p.
- Weber D, Consoli S, Rutala W. Occupational health risks associated with the use of germicides in health care. American Journal od Infection Control [Internet]. Elsevier Inc.; 2016;44(5):e85–9. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.ajic.2015.11.030
- Florêncio V, Rodrigues C, Pereira M, Souza A. Adesão às precauções padrão entre os profissionais da equipe de resgate pré- hospitalar do corpo de bombeiros de goiás. 2003;43–8.
- Espindola M, Fontana R. Occupational risks and self-care mechanisms used by the sterilization and materials processing department workers. 2014;(November).
Quadro 1 – Centrais de Esterilização e Riscos Associados
| NATUREZA DOS FATORES DE RISCO PROFISSIONAIS | DESCRIÇÃO |
| Desconforto Térmico | O calor é largamente utilizado nas CME nas operações de limpeza, desinfeção e esterilização dos artigos e áreas hospitalares. Os equipamentos como as autoclaves, as máquinas desinfetantes ou ultrassónicas são consideradas fontes geradoras de calor, pois contribuem para o aumento da temperatura ambiental, proporcionando desconforto físico aos trabalhadores. O calor, quando em quantidade excessiva, pode causar efeitos indesejáveis sobre o corpo humano. |
| Ruído | As máquinas e equipamentos utilizados na CME produzem ruído que podem atingir níveis elevados, podendo a curto, médio e longo prazos provocarem sérios prejuízos à saúde (afeta o sistema nervoso, o sistema digestivo e o sistema circulatório). Quanto maior o nível de ruido, menor deverá ser o tempo de exposição ocupacional(9). |
| Iluminância desadequada | A boa iluminação no ambiente de trabalho proporciona elevada produtividade, melhor qualidade do produto final, redução do número de acidentes (nomeadamente cortes e perfurações com objetos cortantes, diminuição de desperdício de materiais, redução de fadiga ocular e geral, mais ordem e limpeza das áreas(9). |
| Agentes Químicos | Os produtos químicos são largamente utilizados em CME com diversas finalidades, sobretudo como agentes de limpeza, desinfeção e esterilização(9). Nos sistemas de esterilização, as máquinas e equipamentos necessitam de substâncias que apresentam riscos para os funcionários, como o óxido de etileno (mutagênico, carcinogênico, reativo e inflamável); o formaldeído a vapor sob pressão 73ºC também poderá ser cancerígeno. |
| Riscos Mecânicos | Os riscos mecânicos são as condições de insegurança existentes nos locais de trabalho, capazes de provocar lesões à integridade física do trabalhador. São decorrentes de movimentos inadequados, escorregões, quedas, manipulação incorreta de equipamentos e quaisquer outras condições de insegurança existentes nos locais de trabalho. |
| Riscos Biológicos | Os trabalhadores dos CMEs estão expostos a vários materiais contaminados, com realce para instrumentos cirúrgicos, cateteres cardíacos e urinários, implantes e sondas de ultrassom usadas em cavidades do corpo estéril; bem como materiais semicríticos (que são aqueles que entram em contato com as mucosas ou com a pele). São incluídos também incluídos nesta categoria os equipamentos de terapia respiratória e anestesia, endoscópios gastrointestinais, cistoscópios, broncoscópios, laringoscópios, sondas de manometria esofágica, cateteres de manometria anorretal, sondas de biópsia de próstata, dispositivos de coagulação infravermelha e anéis de ajuste de diafragma(10). |
| Riscos Ergonómicos | A predominância de cervicalgias, dorsalgias e lombalgias entre os trabalhadores de CME não é uma surpresa, pois são muitas as atividades ali desempenhadas que envolvem a manipulação de cargas e a adoção de posturas inadequadas. Fatores como o ritmo de trabalho, a execução de atividades que causam sobrecarga de determinados grupos musculares, o uso de mobiliário e equipamentos ergonomicamente desadequados são responsáveis pelo elevado número de distúrbios osteomusculares em trabalhadores(4). |
(1)Catarina Mendes
Estudante da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra, na licenciatura de Saúde Ambiental. Atualmente frequenta o 4º ano de licenciatura. Estagiou no Centro Hospital e Universitário de Coimbra na área de Saúde Ocupacional durante 7 semanas, pertenceu à comissão organizadora da SCAS (Semanas das Ciências Aplicadas à Saúde) e pertenceu à comissão de Apoio ao Estudante e voluntariado da Associação de Estudantes da Escola Superior de Tecnologias de Saúde de Coimbra. Publicou individualmente e em colaboração, vários trabalhos na Poster Week. Morada completa para correspondência dos leitores: Rua da Saudade nº 25, Vale de Açores, 3450-213 Mortágua, Viseu. E-MAIL: catarinamendes26@hotmail.com.
(2)Marta Isabel Lopes de Sousa
Estudante da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra, na licenciatura de Saúde Ambiental. Atualmente frequenta o 4º ano de licenciatura. Estagiou no Centro Hospital e Universitário de Coimbra na área de Saúde Ocupacional durante 7 semanas, pertenceu à comissão organizadora da SCAS (Semanas das Ciências Aplicadas à Saúde) e pertenceu à comissão organizadora do 3rd Annual Meeting na Escola Superior de Tecnologias de Saúde de Coimbra. Publicou individualmente e em colaboração, vários trabalhos na Poster Week. Olhão. E-MAIL: mils.1995@hotmail.com
(3)Ana Catarina Lança
Licenciada em Saúde Ambiental, pela ESTES Coimbra, Técnica Superior Segurança no Trabalho, Mestre em Saúde Ocupacional pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Especialista em Saúde Ambiental reconhecida pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra. Desempenhou funções como Técnica de Saúde Ambiental no Centro Regional de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde do Centro e desempenhou funções como Técnica Superior de Segurança no Trabalho no CROC, S.A. (Instituto Português de Oncologia FG, Coimbra), tendo iniciado funções no Centro Hospitalar de Coimbra (atual Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E.) em 2004, onde permanece até à presente data. Pertenceu ao Núcleo de Apoio Técnico e Consultivo da Comissão de Controlo da Infeção, Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E. entre 2008 e 2013. Foi Orientadora de Estágios de Aprendizagem da Licenciatura em Saúde Ambiental, ESTES Coimbra, entre 2004-2006. Colabora como Docente na ESTES Coimbra, na Licenciatura em Saúde Ambiental, desde 2014. Foi Autora de vários artigos na área de Saúde Ambiental e Ocupacional. Pertenceu à Comissão Organizadora de vários eventos na área e foi moderadora e preletora de vários eventos. Desenvolve atividades como Formadora e Orientadora de Estágios na área da Saúde Ocupacional. Coimbra. E-MAIL: ana.lanca@estescoimbra.pt
(4)Susana Paixão
Especialista em Saúde Ambiental pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESteSC), doutoranda em Geografia e Mestre em Educação Ambiental pela Universidade de Coimbra, licenciada em Saúde Ambienta e bacharel em Higiene e Saúde Ambiental pela ESTeSC. É detentora de certificado de aptidão profissional para desempenhar as funções de Formadora e de Técnica Superior de Segurança e Higiene do Trabalho. É ainda formadora acreditada do International General Certificate (IGC) do National Examination Board on Occupational, Safety and Health (NEBOSH). De 1996 a 2003, exerceu funções de técnica de Saúde Ambiental na Direcção Regional do Ambiente do Centro, nomeadamente na área de resíduos. De 1999 a 2006 colaborou, simultaneamente, em vários cursos de formação de curta duração, nomeadamente na área da segurança e Saúde no Trabalho.
De 2003 a 2007, exerceu funções de Técnica de Saúde Ambiental no Centro de Saúde de Pombal. Colaborou, como docente, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra de 1999 a 2006. Em 2007, passou a exercer funções de docente, a tempo integral no Departamento de Saúde Ambiental (DSA) da mesma escola. Foi Directora do DSA de maio de 2011 a junho de 2015. Presentemente é Professora Adjunta da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, responsável pelas Relações Internacionais do DSA. Coimbra. E-MAIL: supaixão@estescoimbra.pt
(5)Ana Ferreira
Doutorada em Ciências da Saúde – Ramo de Ciências Biomédicas, Mestre em Saúde Pública e Pós-Graduada em Saúde Ocupacional, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Licenciada em Saúde Ambiental, pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde (ESTeSC), do Instituto Politécnico de Coimbra. Detentora do certificado de aptidão profissional para desempenhar as funções de Técnica Superior de Segurança e Higiene do Trabalho.
Professora Coordenadora de Saúde Ambiental, é atualmente Vice-Presidente da ESTeSC, Presidente da Comissão Científica de Saúde Ambiental e Vereadora na Câmara Municipal da Lousã com o pelouro da Saúde e o pelouro do Ambiente e Sustentabilidade.
É autora e coautora de vários artigos científicos apresentados em congressos e publicados em revistas nacionais e internacionais na área da Saúde Ocupacional e Ambiental. Participou e pertenceu a várias comissões organizadoras de cursos, seminários, congressos e outros. Lousã. E-MAIL: anaferreira@estescoimbra.pt
Mendes C, Sousa M, Lança A, Paixão S, Ferreira A. Riscos Ocupacionais nas Centrais de Esterilização Hospitalares. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 2017, volume 4, 57-60. DOI:10.31252/RPSO.26.12.2017








