Santos M, Almeida A, Chagas D. Cancro de Pele em Contexto Ocupacional. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online. 2025; 19, esub481. DOI: 10.31252/RPSO.15.03.2025
SKIN CANCER IN OCCUPATIONAL CONTEXT
TIPO DE ARTIGO: Artigo de Revisão
AUTORES: Santos M[1], Almeida A[2], Chagas D[3].
RESUMO Introdução/enquadramento/objetivos
O principal fator de risco para a generalidade dos cancros de pele é a exposição a radiação ultravioleta, bastante prevalente nas tarefas laborais executadas ao ar livre. Pretendeu-se com esta revisão reunir alguns dados sobre prevalências, postura dos trabalhadores/chefias/empregadores e eventuais medidas de proteção utilizadas.
Metodologia
Trata-se de uma Revisão Bibliográfica, iniciada através de uma pesquisa realizada em abril de 2024, nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.
Conteúdo
A deteção precoce potencia o prognóstico e esta pode ser incentivada também em ambiente e horário laboral, nos postos de trabalho com maior risco.
A incidência e a mortalidade têm vindo a aumentar: é dos cancros mais frequentes ou o mais frequente mundialmente- cerca de 40% da incidência oncológica global; sobretudo em países com população de pele clara.
Pode ser Melanoma, Baso ou Espinocelular; outros dividem simplesmente em Cancro de Pele melanoma e não-melanoma. O melanoma é frequentemente fatal e invasivo, sobretudo se não existir diagnóstico precoce. Os restantes são mais comuns e menos metastizantes e, por isso, menos fatais, ainda que dispendiosos, dada a prevalência; a exposição à Radiação Ultravioleta é o fator etiológico mais relevante e, por isso, aparece mais nas zonas corporais mais expostas; contudo, raramente metastiza e a mortalidade é geralmente baixa.
Nos resultados foram ainda incluídas informações relativas a perceção de risco, profissões mais relevantes e medidas de proteção.
Discussão e Conclusões
Dado se tratar da patologia oncológica mais prevalente em diversos contextos e de estar fortemente associada ao sol, muito prevalente nas tarefas executadas ao ar livre, fará todo o sentido que seja dada formação aos trabalhadores/chefias e empregadores em relação à probabilidade de adquirir o diagnóstico e investir adequadamente nas medidas de proteção coletiva primariamente e, secundariamente, individuais.
Seria relevante perceber como este tema é visto em alguns setores profissionais de risco, em contexto nacional, de forma a avaliar as medidas tomadas e propor sugestões de melhoria ao que já se implementou, divulgando as conclusões em publicações científicas.
Palavras-chave: cancro de pele, melanoma, basocelular, espinocelular, saúde ocupacional, medicina do trabalho, enfermagem do trabalho e segurança no trabalho.
ABSTRACT
Introduction/framework/objectives
The main risk factor for most skin cancers is exposure to ultraviolet radiation, which is quite prevalent in work tasks performed outdoors. The aim of this review was to gather some data on prevalence, attitude of workers/managers/employers and any protection measures used.
Methodology
This is a Bibliographic Review, initiated through a search carried out in April 2024 in the databases “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina and RCAAP”.
Content
Early detection enhances the prognosis and can also be encouraged in the workplace and during working hours, in jobs with the highest risk.
Incidence and mortality have been increasing: it is one of the most common cancers or the most common worldwide – around 40% of global cancer incidence; especially in countries with light-skinned populations.
It can be Melanoma, Basal Cell Cancer or Squamous Cell Cancer; others simply divide it into melanoma and non-melanoma. Melanoma is often fatal and invasive, especially if there is no early diagnosis. Non-melanoma cancers are more common and less metastasizing and, therefore, less fatal, although expensive, given their prevalence. Exposure to UVR is the most relevant etiological factor and, therefore, appears more in the most exposed areas; however, it rarely metastasizes and mortality is generally low.
The results also included information regarding risk perception, most relevant professions and protection measures.
Discussion and Conclusions
Given that it is the most prevalent oncological pathology in different contexts and is strongly associated with the sun, which is very prevalent in tasks carried out outdoors, it will make perfect sense that training is provided to workers/managers and employers, regarding the probability of acquiring the diagnosis and invest adequately in collective protection measures, primarily and, secondarily, individual.
It would be relevant to understand how this topic is seen in some professional risk sectors, in a national context, in order to evaluate the measures taken and propose suggestions for improvement to what has already been implemented, publishing the conclusions in scientific papers.
KEYWORDS: skin cancer, melanoma, basal cell, squamous cell, occupational health, occupational medicine, occupational nursing and occupational safety.
INTRODUÇÃO
O principal fator de risco para a generalidade dos cancros de pele (CP) é estar ao ar livre e sujeito à Radiação ultravioleta (RUV). Pretendeu-se com esta revisão reunir alguns dados sobre prevalências, postura dos trabalhadores/chefias/empregadores e eventuais medidas de proteção utilizadas.
METODOLOGIA
Em função da metodologia PICo, foram considerados:
-P (population): trabalhadores com tarefas ao ar livre
-I (interest): reunir conhecimentos relevantes sobre CP em contexto laboral
-C (context): saúde e segurança ocupacionais aplicadas a funcionários expostos a radiação ultravioleta.
Assim, a pergunta protocolar será: Qual a prevalência de CP associado ao trabalho, qual a postura, perceção de risco e quais as medidas de proteção coletiva e individuais mais eficazes?
Foi realizada uma pesquisa em abril de 2024 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.
No quadro 1 podem ser consultadas as palavras-chave utilizadas nas bases de dados.
CONTEÚDO
Algumas estatísticas
O CP é o mais prevalente mundialmente. A deteção precoce potencia o prognóstico e esta pode ser incentivada também em ambiente e horário laboral (1), nos postos de trabalho com maior risco.
A incidência e a mortalidade têm vindo a aumentar (2) (3). É dos mais frequentes (3) ou o mais frequente (4) (5) (6) mundialmente- (cerca de 40% da incidência oncológica global) (4); sobretudo em países com população de pele clara (3) (5). Entre subtipos, o melanoma é o menos frequente (5); ainda assim, este é mais prevalente nos EUA e Austrália, na 5ª década de vida e duas vezes mais frequente no sexo masculino (6).
O CP é o mais frequente também nos EUA; por ano, mais de 4 milhões de indivíduos têm CP não-melanoma. O melanoma é o mais mortal; estimam-se mais de 91.000 casos por ano nos EUA, com mortalidade de quase 10.000 (7). Outro estudo desse país publicou que a incidência global era de cerca de 5 milhões; mais no sexo masculino e raça branca (8).
Em Inglaterra, por sua vez, existem cerca de 3.000 casos de CP não-melanoma e 250 casos de melanoma (9).
A Austrália, por exemplo, tem das incidências mais elevadas desta patologia, bem como maior mortalidade; estima-se que 2/3 dos indivíduos terão este diagnóstico antes dos 70 anos (2) (6).
A incidência também tem vindo a aumentar na Dinamarca; as campanhas de educação e promoção para a saúde não estão a ter a eficácia desejada, ainda que se estime a existência de cerca de 400.000 trabalhadores de exterior (10), por exemplo.
No Canadá ele corresponde a cerca de 34% dos cancros no total. Aqui também se estima que cerca de 1,5 milhões de trabalhadores estejam expostos a RUV no trabalho, sendo que 900.000 por mais que 75% dos dias de trabalho (nomeadamente nos setores da construção civil e agricultura) (5).
Classificação
O CP pode ser Melanoma, Cancro Basocelular (CPB) ou Espinocelular (CPE) (1) (4); outros dividem em CP melanoma e não-melanoma (3) (11). Todos podem ser fatais e/ou desfigurantes; contudo, em parte deles a evolução e crescimento geralmente são lentos, o que aumenta a margem terapêutica de atuação (1).
O melanoma é frequentemente fatal e invasivo, sobretudo se não existir diagnóstico precoce (3) (4) (6) (11). Os CP não-melanoma são mais comuns e menos metastizantes e, por isso, menos fatais, ainda que dispendiosos, dada a prevalência (3). O CPB é o mais frequente a nível mundial (12) (78%) (11) e a exposição à RUV é o fator etiológico mais relevante (11) (12) (13) e, por isso, aparece mais nas zonas mais expostas; a queratose actínica poderá ser um precursor em alguns casos (13); contudo, raramente metastiza (11) (12) e a mortalidade é geralmente baixa (12). O CPE corresponde a cerca de 20% dos CP e apresenta alguma tendência para metastizar (11). Também está publicado que o CPB é quatro vezes mais frequente que o CPE e que o CPB é o mais comum mundialmente, em indivíduos de raça branca (13).
Etiologia
A RUV é o fator de risco prevenível mais importante para o CPE e CPB (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (13) (14) (15) e com efeito cumulativo (maior risco com mais horas de exposição (4) e mais provável quando existiram queimaduras solares (4) (14), ou seja, levará em consideração a frequência, gravidade e hora de exposição; estando em situação oposta a utilização de pausas à sombra e/ou trabalhar a maior quantidade de tempo à sombra (4). A RUV inclui a A, B e C; todas estão classificadas como carcinogénicas para humanos pela IARC (International Agency for Reseaerch on Cancer) (16). O aumento da exposição à RUV poderá ficar potenciado eventualmente com a diminuição da camada de ozono (5) (11) (16); bem como latitude, altitude (estima-se que a cada 300 metros ela aumente 4%) (16), superfícies refletoras, nuvens e matéria particulada na atmosfera (5). A GSUVI (Global Solar UV Index) foi criada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela ICNRP (International Commission on Non-ionizing Radiation Protection), de forma a quantificar este parâmetro na superfície do planeta e tem cinco níveis: menor ou igual a 2- baixa, 3-5- moderada, 6-7- alta, 8-10- muito alta e maior ou igual a 11- extrema (16). Por sua vez, a pele classifica-se em seis níveis, em relação à sua sensibilidade à RUV, segundo a escala de Fitzpatrick (13).
Por isso, trabalhadores expostos à RUV tem maior probabilidade de ter CP (11), nomeadamente aqueles com tarefas no exterior (3) (4) (10) e pele clara (3)- logo, o risco é elevado nos países nórdicos (4). Trabalhador de exterior poderá ser definido como aquele que tem tarefas ao ar livre pelo menos três horas por dia (3). Nível de exposição intenso poderá ser definido como pelo menos seis horas diárias (5).
Indivíduos com trabalho no exterior estão cinco a dez vezes mais expostos a RUV, ou seja, quase três vezes mais exposição no sexo masculino (6). 5% dos CPB e 9% dos CPE estão associados a RUV em contexto profissional (5).
Quanto mais próximo do Equador, está publicado que maior é a utilização de proteção solar; contudo, quanto mais afastado, mais claro costuma ser o tom de pele, o que implica um risco acrescido, nomeadamente nos países nórdicos; assim, a proteção solar nestes países é relevante, mesmo existindo outros locais com níveis de RUV mais intensos (10) e razoavelmente constante ao longo do ano, como nos países tropicais (13).
Outros investigadores concluíram que o trabalho exterior não se associa ao melanoma (3) (4) (5); outros afirmam que a RUV também aumente este risco (6) (15) (controverso), bem como as queimaduras solares (8).
Perceção de risco
Quanto mais elevada a noção de autoeficácia do indivíduo e quanto maior a perceção de risco, mais comportamentos existirão de prevenção (3). O comportamento final resulta da interação entre crenças (relativas às consequências do comportamento), normas (as expetativas da sociedade e motivação para isso) e fatores de controlo (que facilitam ou perturbam o comportamento) (9).
Um estudo sueco concluiu que a população subestimava a prevalência e gravidade do CP. Os trabalhadores dinamarqueses de exterior, por sua vez, usam mais medidas de proteção solar em lazer e férias, versus trabalho; dado terem uma baixa perceção de risco neste contexto, ainda que as queimaduras solares a trabalhar não sejam raras. Quantificou-se que cerca de um terço dos trabalhadores dinamarqueses de exterior nunca usou medidas de proteção solar, incluindo trabalho e lazer; ainda que os funcionários e os empregadores não sejam contra estes procedimentos (10) e apesar de se acreditar que a opinião do líder/chefia geralmente consegue modular o comportamento do funcionário (3). Na autoavaliação dos trabalhadores, com alguma frequência eles consideram que têm um tom de pele mais robusto perante a RUV (10).
De forma sucinta, o modelo de preparação para a mudança de comportamento incluiu cinco etapas:
-pré-contemplação: o indivíduo não está pronto para mudar
-contemplação: poderá mudar nos seis meses seguintes; estará a preparar-se
-preparação: mudança estará eventualmente próxima
-ação: há modificação concreta do comportamento e
-manutenção: continuação da mudança do comportamento (9).
Profissões em maior risco
Os trabalhadores de colarinho azul, em geral, têm piores condições de trabalho (mau ambiente, turnos prolongados, horários irregulares) e de vida em geral, pelo que poderão estar menos recetivos a comportamentos para prevenir problemas que ainda não existem; sendo que, por vezes, também o empregador vê tais atitudes como pouco eficazes e/ou dispendiosas. Para além disso, a subcultura masculina deprecia as preocupações médicas e valoriza o estoicismo (2).
Os trabalhadores que exercem tarefas ao ar livre apresentam maior probabilidade de ter CCB, como agricultores e pescadores, nomeadamente cerca de 2,5 vezes mais (12). No Canadá, em 2011, estimaram-se quase 5.000 casos de CP não melanoma, associados ao trabalho (6%), maioritariamente na agricultura e construção civil (4). Outros autores destacam que os funcionários mais expostos são os agricultores (2) (11) (4) (8), funcionários da indústria dos transportes (2), construção civil, pescadores, cantoneiros (11), carteiros (11) (15), professores de educação física (14), pavimentadores de estrada (13) e trabalhadores de parques florestais (7). Os comportamentos de proteção solar são mais frequentes em agricultores versus construção civil (8). Os profissionais da aviação também apresentam maior prevalência desta patologia, eventualmente pelo maior tempo de exposição ao sol em países tropicais e/ou pela radiação cósmica (controverso) (12).
A dosimetria quantificou que os profissionais de educação física num estudo espanhol apresentavam níveis de RUV duas a três vezes superiores aos recomendados pela ICNIRP, ou seja, 100 a 130 J/m2, por oito horas de pele não protegida. Estudos equivalentes australianos também chegaram a conclusões parecidas (14).
Medidas de Proteção Coletiva
A maioria das campanhas de proteção solar tem como alvo as crianças/adolescentes e jovens adultos (8) e não propriamente os trabalhadores.
O exame da pele permite a deteção precoce; este poderá ser realizado pelo próprio e/ou por um profissional de saúde (6) (7).
Na Austrália, por exemplo, se o empregador não proporcionar alguma segurança solar, poderá ser responsabilizado pelas consequências (2). Contudo, outro estudo australiano quantificou que apenas 10% dos trabalhadores da construção civil cumpria minimamente as medidas (3). O empregador pode (8) ou tem responsabilidade em potenciar a proteção solar, através da formação/educação (3) (14) e supervisão (3). Contudo, nem todas as empresas que dão formação sobre proteção solar fornecem depois meios concretos para que tal se concretize (8). As medidas podem ser impostas pela instituição ou serem adotadas voluntariamente pelos funcionários. Alguns indivíduos, se a empresa sugerir medidas, tomam menos atitudes de prevenção, curiosamente (3). Os melhores resultados são obtidos quando se adotam estratégias multidisciplinares (2) (legislação, fiscalização e fornecimento de material com informação). Para diminuir a incidência de CP é necessário que existam comportamentos de prevenção adequados (10). Há quem defenda que as normas (em contexto de SST), por vezes, só se tornam eficazes se forem impostas com validade legal e/ou com limites máximos concretos de exposição (13).
As recomendações consistem em diminuir a exposição à RUV, sobretudo nas horas de maior intensidade [entre as 10 e as 15 (3) (13) ou 16h (7) (8)] ou fazer as tarefas com maior risco na altura do ano com menos RUV, comer à sombra (13), usar a sombra nas tarefas laborais (3) (8) (13), sobretudo nas horas mais intensas e relembrar a necessidade de reaplicar o creme; proporcionar sombras quando não der para fazer pausas (8) e colocar processos disciplinares pelo não cumprimento das normas de proteção solar (3). No entanto, quanto mais pequena a instituição, mais difícil fica a viabilidade destas medidas (8).
Em alguns exemplos concretos, numa amostra de quase 1200 carteiros ingleses, um terço afirmou ter tido formação em relação aos riscos da RUV, nos últimos doze meses (15). Quanto aos profissionais de educação física, num estudo espanhol, menos de 20% procurava sombra (14), por exemplo.
O empregador poderá também colocar película de proteção solar nos vidros dos veículos (2).
Medidas de Proteção Individual
Nos artigos consultados foram mencionadas as seguintes:
-proteção solar (2) (3) (7) (10) (13) 50+ em toda a pela não coberta por roupa (13)
-farda adequada [calças (2) (3) (7) (8) (10), blusas de mangas compridas (2) (3) (7) (8) (10) (13) e chapéus de abas largas (2) (3) (7) (8) (10) (13) (17) ou boné com touca árabe (17)] e
-óculos de sol (7) (13).
Contudo, parte das medidas anteriores pode potenciar a sensação de calor e cansaço (10).
O creme de proteção solar necessita de duas a três aplicações por dia. Os empregadores podem considerar que estas pausas são penalizadoras a nível económico. O sexo feminino usa com mais facilidade os cremes; por sua vez, o sexo masculino usa com maior probabilidade chapéu (10). O creme de proteção solar é uma das medidas mais usadas, ainda que seja das menos eficazes (10) (15). Alguns trabalhadores referem não ser prático usar cremes devido à pele ficar engordurada e por ser necessário reaplicar ao longo do dia (8) (6); alguns também referem alergias concretas a alguns dos componentes do produto (8) e/ou que é razoavelmente fácil esquecer de (re)aplicar (6). A prevalência do uso de roupas adequadas costuma ser superior ao uso da sombra e do creme (8). Contudo, por mais pele que a roupe tape, ficam sempre partes expostas ao sol, como face e mãos- o que ainda é relevante, sobretudo em indivíduos com pele clara. A roupa deverá ser de cor adequada à RUV e proporcionar conforto térmico (13).
Os empregadores também geralmente estão menos recetivos ao uso de chapéu (10), uma vez que poderá ficar diminuído o campo de visão (8). As abas do chapéu deverão ter entre sete a dez centímetros, de forma a proteger a face e o pescoço (13).
Os óculos de sol deverão cumprir os requisitos a nível de formato/tamanho e ajuste; as lentes deverão proporcionar proteção contra a RUV (13).
Com mais idade há geralmente mais cumprimento das medidas de proteção. Indivíduos com tom de pele mais claro geralmente fazem uso de mais medidas de proteção, ainda que tenham maior probabilidade de terem CP (10).
Um estudo entre britânicos de construção civil estimou que apenas 23% usava chapéu adequado, 51% blusas de manga comprida e e 60% creme de proteção solar (3).
Entre motoristas/distribuidores norte-americanos, por exemplo, 19% usava creme e 17% blusas de mangas compridas (3).
Num estudo brasileiro em agricultores de caju, verificou-se que 23% apresentavam eritema, ainda que 63% usava apenas um EPIs; por exemplo: 26% usava manga comprida. A menor escolaridade geralmente associa-se a menos medidas de prevenção. Ou seja, a maioria não usava EPIS (17). Numa amostra brasileira de mototaxistas estudados, 93% usavam calças e blusas de manga comprida (75%), capacete (69%), creme de proteção solar (41%) e 21% usava óculos de sol, 17% calçado fechado e 7% luvas (11).
Numa amostra de quase 1200 carteiros ingleses, apenas 1/5 usava óculos de sol (15).
Entre profissionais de educação física espanhola, estimou-se que cerca de 60% usava chapéu (14), por exemplo.
DISCUSSÃO/ CONCLUSÃO
Dado se tratar da patologia oncológica mais prevalente em diversos contextos e de estar fortemente associada à RUV, muito abundante nas tarefas executadas ao ar livre, fará todo o sentido que seja dada formação aos trabalhadores/chefias e empregadores em relação à probabilidade de adquirir o diagnóstico e investir adequadamente nas medidas de proteção coletiva primariamente e, secundariamente, individuais.
Seria relevante perceber como este tema é visto em alguns setores profissionais de risco, em contexto nacional, de forma a avaliar as medidas tomadas e propor sugestões de melhoria ao que já se implementou, divulgando as conclusões em publicações científicas.
CONFLITOS DE INTERESSE, QUESTÕES ÉTICAS E/OU LEGAIS
Nada a declarar.
AGRADECIMENTOS
Nada a declarar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. P1. Wolf S, Krensel M, Mohir N, Augustin M, Andrees V. Journal of Public Health. 2022; 30: 2243-2251. DOI: 10.1007/s10389-021-01670-3
2. P5. Sendall M, Stonehan M, Crane P, Fleming M, Janda M, Tenkate T et al. Outdoor workers and sun protection strategies: two case study examples in Queensland, Australia. Rural and Remote Health. 2016; 16: 3558.
3. P8. Horsham C, Auster J, Sendal M, Stoneham M, Youl P, Crane P et al. Interventions to decrease skin risk in outdoor workers: update to a 2007 systematic review. BMC Research Notes. 2014; 7: 10. DOI: 10.1186/1756-0500-7-10.
4. P9. Peters C, Kim J, Song C, Heer E, Arrandale V, Pahwa M et al. Burden of non-melanoma skin cancer attributable to occupational sun exposure in Canada. International Archives of Occupational and Environmental Health. 2019; 92: 1151-1157. DOI: 10.1007/s00420-019-01454-z
5. P14. Mofidi A, Tompa E, Spencer J, Kalcevich C, Peters C, Kim J et al. The economic burden of occupational non-melanoma skin cancer due to solar radiation. Journal of Occupational and Environmental Health. 2018; 15(6): 481-491. DOI: 10.1080/15459624.2018.1447118
6. P18. Walton A, Janda M, Youl P, Baade P, Aitken J, Whiteman D et al. Uptake of Skin Self-Examination and Clinical Examination behavior by outdoor workers. Archives of Environmental and Occupational Health. 2014; 69(4): 214-222.
7. P2. Nahar V, Wilkerson A, Martin B, Boyas J, Ford M, Bentley J et al. Sun protection behaviours of State workers in the Southeastern USA. Annals of Work Exposures and Health. 2019; 63(5): 521-532. DOI: 10.1093/annweh/wxz019
8. P11. Ragan K, Lunsford N, Thomas c, Tai E, Sussell A, Holman D. Skin Cancer Prevention Behaviors among Agricultural and Construction workers in the United States, 2015. Preventing Chronic Disease. 2019; 16: 180446. DOI: 10.5888/pcd16.180446
9. P3. Niou A, Wendelbor-Nelson C, Cowan S, Cowie H, Rashid S, Ritchie P et al. A randomized control crossover trial of a theory based intervention to improve sunsafe and healthy behaviours in construction workers: study protocol. BMC Public Health. 2018; 18: 259. DOI: 10.1186/s12889-018-5164-8
10. P7. Grandall K, Ibler K, Laier G, Mortensen O. Skin cancer risk perception and sun protection behavior at work, at leisure and on sun holidays: a survey for Danish outdoor workers. environemntal Health and Preventive Medicine. 2018; 23: 47. DOI: 10.1186/s12199-018-0736-x
11. P6. Oliveira F, Barros K, Vasconcelos L, Santos S, Pessoa C. Use of preventive measures for skin cancer by mototaxists. Cuidado é fundamental. 2021; 13: 282-287. DOI: 10.9789/2175-5361.rfcfo.v13.8526
12. P4. Lindelof B, Lapins J, Dal H. Shift in Occupational Risk for Basal Cell carcinoma from outdoor to indoor workers: a large- population based case-control register study from Sweden. Acta of Dermatology and Venereology. 2017; 97: 830-833. DOI: 10.2340/00015555-2660
13. P13. Ruales M, Westerhausen S, Gallo H, Strehl B, guzman S, Versteeg H et al. UVR Exposure and Prevention of Street Construction Workers in columbia and Germany. IJERPH. 2022; 19: 7259. DOI: 10.3390/ijerph19127259
14. P12. Barón D, Sánchez N, Ruiz F, Martínez A, Arjona J, Maqueda G et al. Occupational sun exposure among physical education teachers in primary and secondary schools in Andalusia, Spain. Journal of Cancer Education. 2023; 38: 1157-1162. DOI: 10.1007/s13187-022-02242-z
15. P17. Houdmont J, Davis S, Griffiths A. Sun safety knowledge ans practice in UK postal delivery workers. Occupational Medicine. 2016, 66: 279-284. DOI: 10.1093/occmed/kqv204
16. P15. Arjona R, Pineiros J, Ayabaca M, Freire F. Climate change and agricultural workers health in Ecuador: occupational exposure to UV radiation and hot environments. Ann Ist Sanitá. 2016; 52(3): 368-373. DOI: 10.4415/ANN_16_03_18
17. P16. Brito L, Lima A, Fechine M, Felipe L, Costa E, Queiroz M et al. Equipamentos de proteção individual e exposição ocupacional solar diante da saúde do trabalhador da Cajucultura. Revista de Enfermagem Atual in Derme. 2021; 95(36): e-021174. DOI: 10.31011/reaid-2021-v.95-n.36-art.1134
Quadro 1: Pesquisa efetuada
[1] Mónica Santos
Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online; Técnica Superior de Segurança no Trabalho; Doutorada em Segurança e Saúde Ocupacionais e CEO da empresa Ajeogene Serviços Médicos Lda (que coordena os projetos Ajeogene Clínica Médica e Serviços Formativos e 100 Riscos no Trabalho). Endereços para correspondência: Rua da Varziela, 527, 4435-464 Rio Tinto. E-mail: s_monica_santos@hotmail.com. ORCID Nº 0000-0003-2516-7758
Contributo para o artigo: seleção do tema, pesquisa, seleção de artigos, redação e validação final. [2] Armando Almeida
Escola de Enfermagem (Porto), Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa; Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde; Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional. 4420-009 Gondomar. E-mail: aalmeida@ucp.pt. ORCID Nº 0000-0002-5329-0625
Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final. [3] Dina Chagas
Doutorada em Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho; Pós-Graduada em Segurança e Higiene do Trabalho; Pós-Graduada em Sistemas Integrados de Gestão, Qualidade, Ambiente e Segurança. Professora convidada no ISEC Lisboa. Membro do Conselho Científico de várias revistas e tem sido convidada para fazer parte da comissão científica de congressos nos diversos domínios da saúde ocupacional e segurança do trabalho. Colabora também como revisor em várias revistas científicas. Galardoada com o 1.º prémio no concurso 2023 “Está-se Bem em SST: Participa – Inova – Entrega-Te” do projeto Safety and Health at Work Vocational Education and Training (OSHVET) da EU-OSHA.1750-142 Lisboa. E-Mail: dina.chagas2003@gmail.com. ORCID N.º 0000-0003-3135-7689.
Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final.