CHRONOBIOLOGY APPLIED TO FOOD INTAKE IN OCCUPATIONAL HEALTH CONTEXT
TIPO DE ARTIGO: Resumo de trabalho divulgado noutro contexto
AUTORES: Santos M (1), Almeida A(2).
INTRODUÇÃO
A forma como um trabalhador executa a sua ingestão é influenciada pelo contexto cronobiológico, sendo a sua saúde global daí consequente. Funcionários menos saudáveis, tal como está descrito na literatura, têm menor produtividade e maior taxa de acidentes de trabalho.
CONTEÚDO
Noções gerais sobre cronobiologia da alimentação
A ingestão alimentar é muito mais complexa do que comer quando se tem fome e parar quando nos sentimos saciados; por vezes, as associações sensoriais aprendidas servem como reguladores do processo. A ingestão é um processo mental que engloba as sensações físicas e propriedades químicas dos alimentos que, quando repetidas, se vão associando a determinados efeitos pós-prandiais, surgindo assim o respetivo condicionamento. A alimentação organiza-se num ciclo de 24 horas, ou seja, circadiano; quer em humanos, quer em animais estudados em laboratório. Num ambiente normal, a ingestão costuma ocorrer na fase ativa do dia. A orientação circadiana da ingestão proporciona não só harmonia do organismo com o ambiente, como também pode sinalizar outras funções rítmicas.
Teoria homeostática
Durante muitos anos valorizou-se a teoria homeostática, na qual se defendia que qualquer desvio do que se considerava normalidade era posteriormente corrigido por feedback. Hodiernamente, apesar de não ter perdido totalmente o seu valor, tem de ser complementada com a noção de ritmicidade e cronobiologia. Segundo esta teoria deverá existir um equilíbrio entre o consumo e o gasto energético. Acreditava-se que o cérebro recebesse informação sobre a gordura corporal via leptina e/ou insulina (que circulam em proporção com a gordura corporal); uma diminuição destas substâncias é interpretada como défice de lípidos armazenados e/ou diminuição da disponibilidade de outros nutrientes (como a glicose); nestas situações o cérebro estimularia a ingestão e a diminuição do dispêndio energético.
Escolha de nutrientes
Estudos em laboratório, com roedores, verificaram que (quando lhes era possível a escolha) estes preferiam determinados nutrientes em fases específicas do ciclo circadiano. A ritmicidade da ingestão da água, por sua vez, foi considerada ainda mais intensa estatisticamente do que a dos lípidos, proteínas e carbohidratos. Esta escolha de macronutrientes também abrange a espécie humana, na medida em que se acredita na existência de uma preferência matinal de carbohidratos e de lípidos ao final do dia, apesar da óbvia interação com os hábitos pessoais e normas culturais. Estudos realizados em unidades de isolamento (com evicção de qualquer pista de orientação temporal), verificaram que os indivíduos com maior frequência ingeriam um pequeno-almoço pequeno, um almoço maior e quente e um jantar ainda mais volumoso e também quente. Aliás, a expetativa da refeição quente desencadeava maior sensação de fome e proporcionava maior prazer e saciedade.
Trabalho por turnos noturnos
O trabalhador tem obrigatoriamente que adequar a sua ingestão com o horário laboral; quando se trabalha durante a noite poderá surgir perturbação dos ritmos circadianos. Alguns autores defendem que os hábitos alimentares dos trabalhadores variam não só com o horário, mas também com a estação do ano (maior ingestão no Inverno, privilegiando os carbohidratos e lípidos; apesar de não existirem diferenças no índice de massa corporal, eventualmente pelo maior gasto energético dessa estação).
Ao trabalho noturno estão associadas maiores prevalências de indigestão, menor interesse pela comida e alteração na escolha/ padrão alimentar. Tal poderá ser atenuado parcialmente preferindo as refeições quentes às frias, apesar de ser mais frequente o consumo das últimas. Além disso, estes trabalhadores consomem mais “snacks”; até porque durante a noite existem menos serviços de restauração abertos (na empresa e fora dela).
Pensa-se que a opção alimentar é mais determinada pelo hábito e disponibilidade temporal, que pelo apetite; efeito esse que se prolonga pós-turno e mesmo nos trabalhadores diurnos; sendo também de considerar o efeito do cansaço pós-turno para a elaboração de uma refeição quente.
Daí que, frequentemente, se associe o trabalho por turnos ao aumento do risco cardiovascular, nomeadamente 1,4 vezes superior, mesmo após ajustamento com o estilo de vida, tensão arterial e perfil lipídico. Patologias como a dislipidemia, hipertensão arterial e obesidade abdominal são mais prevalentes na população que trabalha em turnos noturnos. A doença ulcerosa péptica é também mais frequente.
A maioria dos trabalhadores noturnos nunca se adapta, ou então apenas o faz parcialmente. Exceções podem ser encontradas, por exemplo, em regiões/ situações em que a diferença de exposição à luz natural e alterações socio/ familiares ficam amenizadas (como é o caso dos pólos geográficos) ou postos de trabalho em plataformas marítimas.
Síndrome Metabólico
Esta condição pode-se definir como sendo a conjugação (total ou parcial) de vários fatores de risco cardiovasculares, nomeadamente a dislipidemia (hipertrigliceridemia e/ou aumento do colesterol total e/ou do colesterol LDL e/ou diminuição do colesterol HDL), hipertensão arterial, tolerância diminuída à glicose/ hiperinsulinemia/ Diabetes Mellitus e obesidade abdominal. Os parâmetros considerados são sensivelmente os mesmos, mas a importância dada a cada um e o valor de cut- off variam razoavelmente, entre as diversas definições existentes. Alguns autores defendem que o trabalho com turnos noturnos (e/ou alternância diurno/ noturno) aumenta a incidência e gravidade desta síndrome.
CONCLUSÕES
A ingestão alimentar tem um papel importante na ritmicidade circadiana, permitindo que se ingira na altura do dia mais apropriada, servindo este processo também como sincronizador para outros órgãos/ funções.
Seria desejável que nos locais de trabalho por turnos noturnos existisse uma equipa de saúde ocupacional com conhecimentos de cronobiologia, de forma a monitorizar a sincronização/ dessincronização dos funcionários, alternando o posto e/ou horário de trabalho quando esta última fosse diagnosticada; o que, indiretamente, aumentaria a produtividade da empresa.
BIBLIOGRAFIA
Santos M, Almeida A. Cronobiologia da alimentação/ nutrição, contextualizada à Medicina do Trabalho. Revista Segurança. 2012, julho- agosto, 209: 24-26.
