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Estatuto editorial

Estudos sobre os principais Stressores em profissionais de Enfermagem: Algumas possibilidades de Intervenção

23 Novembro, 2016Revisão Bibliográfica Narrativa

STUDIES ABOUT THE MAIN STRESSORS OF NURSING PROFESSIONALS: SOME POSSIBILITIES OF INTERVENTION

TIPO DE ARTIGO: Revisão Bibliográfica Narrativa
AUTORES: Silveira L(1), Boaretto L(2), Júnior E(3), Campos D(4).

 

RESUMO

Introdução

O presente estudo teve como objetivo identificar os principais fatores que favorecem a presença do estresse ocupacional em profissionais da enfermagem e aponta para possíveis estratégias de intervenção apresentadas pela literatura pesquisada.

Metodologia

Efetuou-se uma busca na base de dados (LILACS), utilizando-se os descritores “estresse ocupacional” e “enfermagem”.

Conteúdo

A análise dos artigos encontrados permitiu a definição de quatro categorias de condições laborais que contribuem para o surgimento do estresse ocupacional em profissionais de enfermagem: condições de trabalho inadequadas, convivência com a morte, relações interpessoais prejudicadas e trabalho noturno. A categoria condições de trabalho inadequadas foi subdividida em insuficiência de recursos materiais, problemas estruturais e sobrecarga de trabalho.

Conclusão

A literatura apresentou possibilidades de intervenção para a melhoria das condições de trabalho que variaram desde promover ações de prevenção e promoção de saúde (que visem à qualidade de vida), até realizar um trabalho de valorização do discurso desses trabalhadores e de oferecimento da possibilidade de partilha de experiências dos profissionais do setor de enfermagem como forma de criar estratégias para lidar com o estresse ocupacional.

Palavras-chave: estresse, saúde ocupacional, enfermagem, intervenção.

ABSTRACT

Introduction

This study aims to identify the main stressors which favour the presence of occupational stress in nursing professionals and points possible strategies of intervention reported by the researched bibliography.

Methodology

A search in databases (LILACS) was performed, using the descriptors “occupational stress” and “nursing”.

Content

Analysis of the papers allowed the definition of four condition categories which contribute to appearance of occupational stress in nursing workers- they are inadequate work conditions, living with the death, harmed interpersonal relations and night-shift work. The “inadequate work conditions” category was subdivided in insufficiency of material resources, structural problems and work overload.

Conclusion

Literature presented possibilities of intervention to improve the work conditions which varied between promoting health prevention (which aim to life quality) to performe a work to value the discourse of those workers and offer a possibility of experience sharing among nursing professionals as a way to make strategies to the management of the occupational stress.

Keywords: stress, occupational health, nursing, intervention.

INTRODUÇÃO

A globalização da economia de mercado e os processos de reestruturação produtiva têm provocado mudanças nas organizações e nas formas de gestão do trabalho, influenciando de forma incisiva a saúde mental e o bem-estar do trabalhador. Diante desse contexto, o ambiente laboral passou a exigir maior produtividade, reduzindo continuamente o número de trabalhadores, aumentando a complexidade das tarefas e a pressão do tempo para atingir metas, por vezes até com expetativas irrealistas1 influenciando, entre outros fatores, o desenvolvimento de estresse nos trabalhadores. Além disso, situações presentes nos espaços laborais como condições inadequadas de trabalho, baixo reconhecimento profissional, problemas de comunicação, inconstâncias no relacionamento interpessoal e exposição ao risco, também são fatores que podem levar ao estresse ocupacional2.

Atualmente, a relação entre trabalho e saúde mental tem sido pesquisada devido à associação desta última com o absentismo, menor produtividade e reformas precoces, relacionadas por sua vez com a atividade laboral cada vez mais exigente. Segundo Goulart Junior et al2 (2014), o estresse entre os trabalhadores é um fenómeno prevalente no meio laboral e pode influenciar nos altos índices de acidentes de trabalho, no aumento de conflitos interpessoais e na diminuição da qualidade de vida no trabalho. Semelhante conclusão já fora apontada por D’Oliveria3 (2006).

O estresse ocupacional surge nesse contexto económico-social e é descrito como um estado emocional desagradável devido à tensão, ansiedade e exaustão emocional relacionadas a aspetos do trabalho que são compreendidos como ameaçadores. Sua origem está associada à incapacidade de adaptação do trabalhador a novas demandas de trabalho e a um desequilíbrio entre exigências do trabalho e as capacidades para atendimento das mesmas4. Canova e Porto5 (2010) ressaltam que o estresse ocupacional resulta de um complexo conjunto de fatores, não sendo consequência apenas de um único fenómeno presente no ambiente de trabalho.

Já o Guia do Estresse Ocupacional da Comissão Europeia, traz como definição deste conceito:

Um padrão de reações emocionais, cognitivas, comportamentais e psicológicas a aspectos adversos e nocivos relacionados com o conteúdo, a organização e o ambiente de trabalho (…). O estresse é causado pelo desajustamento entre nós e o trabalho, pelos conflitos entre os nossos papéis relacionados com o trabalho e outros papéis que lhe são exteriores, e pela ausência de um razoável grau de controle sobre o nosso próprio trabalho e a nossa vida6.

O processo de estresse é definido como um estado de desequilíbrio do organismo e sua origem está relacionada à necessidade de adaptação às mudanças que ocorrem no ambiente, exigindo a mobilização de energia física, mental e social7. De acordo com o que foi proposto por Seyle8 (1956), o processo de estresse abrange três fases: a fase de “alarme”, em que a pessoa se defronta com o estressor e mobiliza os recursos do organismo preparando-se para a “luta ou fuga”, a fase de “resistência”, na qual o estressor é de longa duração ou intensidade e o organismo tenta se reequilibrar e fase de “exaustão”, na qual a resistência do indivíduo não foi suficiente para lidar com o estressor.

Em seus estudos, Lipp9 (2000) identificou uma quarta fase, denominada “quase exaustão”, que se encontra entre as fases de resistência e de exaustão e que é caracterizada por um enfraquecimento da pessoa que não consegue resistir ao estressor, mas ainda não atingiu a exaustão completa. Nesse mesmo contexto, a autora define estressor como todo agente ou demanda que evoca reação de estresse, seja de natureza física, mental ou emocional e que exige algum tipo de adaptação do organismo. Os estressores podem ser internos, (que são aqueles associados à maneira como o indivíduo reage diante de situações que surgem do seu quotidiano) e externos (que se reportam a fatores presentes no ambiente).

A enfermagem tem como principal função oferecer assistência a pessoas que se encontram fragilizadas, atuando sobretudo para proporcionar recuperação, manutenção e promoção de sua saúde10. No Brasil, a categoria é dividida em três grupos: enfermeiros, que são os profissionais com ensino superior; técnicos de enfermagem, que compreendem os profissionais com ensino técnico e os auxiliares de enfermagem, que são os profissionais que possuem o ensino médio11. No ambiente ocupacional desses profissionais, o trabalho da equipa é hierarquizado, de modo que os auxiliares e técnicos são os agentes da ação prática e os enfermeiros são responsáveis pelos processos administrativos12.

Gomes, Cruz, Cabanelas13 (2009), sintetizando os estudos de outros autores, concluíram que o interesse no conhecimento sobre a presença do estresse em profissionais da enfermagem é uma opção contemporânea de investigação, considerando que há evidências de que esses profissionais estão altamente expostos ao estresse em seu ambiente de trabalho, o que se deve ao fato de que, em seu quotidiano, vivenciarem situações imprevisíveis, executarem tarefas por vezes desagradáveis e angustiantes, necessitarem prestar cuidado constante a pessoas doentes e serem expostos a condições de trabalho inadequadas, relacionadas quer ao ambiente quer a recursos materiais. As autoras ainda argumentam que a relevância em estudar o estresse nessa categoria profissional está relacionada com a natureza dos serviços que executam, porque a qualidade e a eficácia do trabalho podem ter um forte impacto na saúde dos pacientes. Além disso, a tomada de decisão nessa área de atuação é muito decisiva, pois a opção por um procedimento errado pode piorar o estado do paciente e, em casos extremos, levar à morte13.

Diante desse cenário, o presente estudo teve como objetivo o de identificar, a partir de literatura selecionada, quais os principais estressores laborais em profissionais de enfermagem e quais as estratégias de intervenção que a literatura apresenta.

METODOLOGIA

O trabalho desenvolvido seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio de pesquisa bibliográfica. Foram utilizados 36 artigos nacionais e dois internacionais, disponíveis na plataforma de bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde). Dos artigos encontrados, 12 foram excluídos por não se adequarem à temática.

Os descritores utilizados para a realização da pesquisa foram: “estresse ocupacional e enfermagem”, tendo como critérios de seleção a publicação em revistas da América do Sul e no período entre 2006 e 2015. Após a leitura dos artigos procedeu-se à reorganização dessas informações e ao aprofundamento reflexivo acerca de cada uma das categorias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos artigos científicos encontrados permitiu a definição de quatro categorias de fatores que contribuem para o surgimento do estresse ocupacional nos profissionais de enfermagem e possibilitou a identificação de algumas possibilidades de intervenção nesse contexto.

Condições de trabalho inadequadas

Foi subdividida em quatro subcategorias: insuficiência de recursos materiais, problemas estruturais, sobrecarga de trabalho e possibilidades de intervenção para a melhoria das condições de trabalho.

Insuficiência de recursos materiais

É possível identificar uma constante falta de materiais, tanto daqueles considerados básicos para a execução dos procedimentos de enfermagem, como dos mais complexos. Essa insuficiência de recursos mostra-se associada a níveis mais elevados de tensão, podendo eventualmente comprometer a assistência dada. Esse cenário contribui para o desgaste emocional e para níveis mais baixos de realização profissional dos enfermeiros14,15,16,17. Outro ponto a ser considerado refere-se aos riscos de contaminação dos profissionais de saúde por doenças causados pela falta de material adequado para o trabalho e/ou equipamentos de proteção individual (EPI)18,19,20,21,22.

Problemas estruturais

As precárias condições de trabalho, como a nível da estrutura física, podem contribuir para a baixa realização profissional16. Dentro das principais melhorias reivindicadas pelos profissionais de enfermagem do turno noturno, encontram-se aspetos relacionados à estrutura física, como iluminação, climatização e conforto do ambiente, bem como o envio de refeições adequadas e a ausência de um espaço adequado para descanso. Além disso, o nível de ruído na unidade representa um fator estressante para estes trabalhadores (proveniente de máquinas e equipamentos, conversas em alto volume, aparelhos para suporte à vida), uma vez que provoca no organismo uma reação de alarme, não permitindo um adequado descanso21,22,23,24,25,26.

Sobrecarga de trabalho

A contratação de um número menor de trabalhadores do que seria necessário para o funcionamento adequado das instituições de saúde, gera uma sobrecarga de trabalho; ou seja, um desgaste físico, mental e emocional muito grande. Além disso, a alta rotatividade, o elevado absenteísmo, as equipas de trabalho formadas por profissionais com diferentes formações académicas e socioculturais e uma cultura organizacional de apoio insuficiente também são fatores que podem favorecer o surgimento da sobrecarga de trabalho nos profissionais de enfermagem14,21,24,25,26,27,28,29,30.

A atividade burocrática e a limitação de tempo para realizar as tarefas são fatores que também contribuem para a sensação de realizar uma carga excessiva de trabalho. Dessa forma, torna-se necessário rever essas situações e criar mecanismos que possam reestruturar a prática da enfermagem17,20,22,24,31.

O aumento da mão de obra qualificada melhoraria a divisão de tarefas e diminuiria a sobrecarga de trabalho; ajudaria também aumentar a remuneração desses profissionais e oferecer maiores benefícios e investimentos em educação continuada14,19,26,32,33.

Seria importante a existência de um trabalho constante com os profissionais de enfermagem na realização de intervenções que visem à prevenção, à educação e à promoção da saúde desses trabalhadores, possibilitando a melhoria da qualidade de vida, saúde e segurança no ambiente laboral em que atuam34. Torna-se necessário pensar em práticas que estimulem os enfermeiros a se envolverem em atividades que valorizem seu autocuidado, como por exemplo a prática de exercícios físicos e de relaxamento, propondo mudanças de hábito que lhes tragam melhor qualidade de vida. Além disso, é possível pensar em programas de prevenção/intervenção com os estudantes de enfermagem, possibilitando a estes conhecimentos relativos ao estresse ocupacional, uma vez que quando se conhece melhor o problema, é possível aprender a identificá-lo de forma mais rápida16,18,25,35,36.

Convivência com a morte

Outro estressor presente no ambiente de trabalho dos profissionais de enfermagem é a convivência constante com a morte, principalmente aquelas que poderiam ser evitadas ou adiadas caso existissem serviços de saúde mais acessíveis e efetivos. O contato com o sofrimento, com a angústia e com dificuldades dos pacientes traz consequências para a saúde mental desses trabalhadores. Além disso, esses profissionais vivenciam o conflito sobre o que fazer ou dizer à família na condição de morte do paciente14,17,19,22,37.

A sensação de impotência nesse processo aumenta com a morte de pacientes que são crianças e jovens ou com os quais os profissionais criaram proximidade durante um internamento prolongado. Dessa forma, cabe ao ambiente organizacional, bem como às instituições que ministram cursos para enfermeiros (cursos técnicos, licenciaturas e pós-graduações) prepararem estes profissionais para lidar com a morte, mediante a criação de projetos educativos que ofereçam um apoio institucional e psicológico para lidar com esta questão14. Esse projeto poderia trabalhar tópicos como (a) concepção sobre a vida, morte e perdas; (b) possibilidade de dialogar sobre perdas e superá-las; (c) discussão sobre perdas futuras, mostrando aos profissionais o quanto a morte é algo recorrente neste ambiente de trabalho e o que isso significa e (d) discussão sobre a culpa e a impotência que os enfermeiros sentem por não conseguirem evitar a morte de um paciente. Um projeto bem planeado nessa direção permitiria dialogar sobre o envolvimento emocional desses profissionais, realçando a importância de estabelecerem um limite entre o envolvimento pessoal nas questões de trabalho. Contudo, tal projeto não anularia a necessidade de as instituições de saúde disponibilizarem apoio psicológico para esses profissionais, quando necessário.

Relações interpessoais prejudicadas

Para se manterem as boas relações no trabalho, é fundamental que a equipa de enfermagem saiba administrar os possíveis conflitos de opiniões, pensamentos e de interesses diversos.

Além disso, quando o relacionamento interpessoal da equipa está prejudicado, há uma maior probabilidade da sobrecarga de trabalho, pois a realização de tarefas depende da colaboração entre colegas. É importante considerar que no ambiente de trabalho desses profissionais é comum o autoritarismo, as humilhações e ofensas dos líderes em relação aos seus subordinados, criando, muitas vezes, um ambiente intimidatório para a expressão de opiniões e sugestões. Entre as principais reivindicações dos profissionais de enfermagem do turno noturno, estão as melhorias nas relações interpessoais e na comunicação entre os diferentes turnos de trabalho das diversas áreas da instituição14,19,22,23,28,31.

Nesse sentido, sugere-se um maior investimento em temas como a liderança, o trabalho em equipa, a cooperação e as habilidades sociais no trabalho. Assim, é importante promover um espaço de acolhimento dos enfermeiros para que possam expressar seus sentimentos e refletir, fazendo-os pensar em sua relação com a equipa e com os pacientes, com destaque para o autocuidado17.

Trabalho no turno da noite

Muitos profissionais da área da enfermagem costumam trabalhar no turno da noite devido a motivações económicas. Porém eles relatam algumas desvantagens aos níveis físico, psíquico e social. Além disso, apesar de no turno da noite existirem geralmente menos tarefas para executar, se os profissinais também estiverem reduzidos, poderá existir uma carga de trabalho superior em relação aos turnos diurnos18,23,31,38.

Segundo Regis Filho39 (2002), as consequências do trabalho noturno podem ser tanto imediatas como a longo prazo, sendo essas demonstradas pelos trabalhadores como insónia, aumento de acidentes de trabalho, aumento de problemas familiares, irritabilidade e falta de concentração. Benites et al.40 (2012) argumentam que, de uma forma geral, o trabalho em turno noturno e turnos alternados pode ocasionar diversas alterações nos âmbitos biológicos e social dos indivíduos. Para Gemeli, Hellisthein e Lautert41 (2008), no âmbito social, esses efeitos envolvem exclusão social, desequilíbrio entre trabalho e família, impactos no planeamento de vida, podendo ocasionar insatisfação com o trabalho. Simões, Marques e Rocha42 (2010) relatam que além dos prejuízos na área social e psíquica, pode ocorrer a desorganização na estrutura dos ritmos trazendo consequências para o ciclo vigília-sono e para demais sistemas orgânicos, ocasionando mudanças nos horários de alimentação, de sono, de lazer e também gerando alterações orgânicas como agravamento de doenças, suscetibilidade a agentes nocivos, cansaço, envelhecimento precoce e alterações gastrointestinais.

As questões tratadas acima potencializam a possibilidade de surgimento do estresse ocupacional, sobretudo se consideramos que muitos profissionais de enfermagem, por questões económicas, acumulam mais do que um trabalho, acentuando as consequências do desequilíbrio entre atividade profissional e o descanso.

Regis Filho39 (2002) indica alguns caminhos para minimizar os impactos negativos do trabalho noturno que seria por exemplo, permitir dois dias de descanso, promover melhorias nos locais de trabalhos e propiciar melhores cuidados de saúde como exames médicos periódicos. O Ministério da Saúde1 (Brasil, 2001) acrescenta outras indicações como proporcionar ambientes adequados para repousar durante as pausas do trabalho. Benites et al.38 (2012) argumentam que é recomendado aos profissionais que atuam no turno noturno a prática de atividades físicas regulares não exaustivas, evitar a ingestão de alimentos que contenham alto grau de lipídios, procurar não dormir em horários próximos ao trabalho noturno e não utilizar medicamentos indutores ou inibidores do sono.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo identificou alguns dos principais fatores responsáveis pelo estresse ocupacional nos profissionais de enfermagem e algumas estratégias de intervenção propostas pelos autores dos artigos selecionados. Nesse sentido, os resultados apresentados e analisados permitiram concluir que o estresse ocupacional dos profissionais de enfermagem está relacionado, especialmente, a quatro tipos de fatores. O primeiro deles refere-se às condições de trabalho inadequadas, que incluem especialmente a insuficiência de recursos materiais necessários à execução dos procedimentos de enfermagem e de EPIs necessários para garantir a segurança do trabalhador, problemas estruturais como iluminação, climatização, local inadequado para descanso e ruídos e sobrecarga de trabalho devido ao quadro reduzido de trabalhadores, realização de atividades burocráticas e tempo limitado para realização das tarefas. Outros possíveis fatores identificados estão relacionados com a convivência desses profissionais com a morte, com relações interpessoais prejudicadas e com o trabalho no turno noturno.

Em relação às estratégias com eventual capacidade de atenuar esta questão, são mencionadas a presença de condições adequadas de trabalho; aumento de profissionais qualificados (evitando assim a sobrecarga de trabalho); planeamento de ações que visem à prevenção de saúde e promoção da qualidade de vida e segurança no trabalho; ações de formação relativas a áreas mais problemáticas como lidar com a morte e valorização do discurso desses profissionais, oferecendo canais formais e informais de comunicação para que esses expressem suas demandas e conflitos.

Uma das limitações deste estudo refere-se ao fato de que, embora a maioria dos artigos selecionados apresentem a compreensão da importância de se planear e executar ações (visando minimizar os problemas referentes ao estresse), não mencionam quais são essas ações e os resultados obtidos com sua aplicação e mesmo se elas foram ou não aplicadas.

Sugere-se a criação de estratégias que favoreçam a melhoria do ambiente de trabalho, a valorização profissional, a participação dos enfermeiros envolvidos nas tomadas de decisões e a presença de políticas e práticas que venham ao encontro aos interesses, tanto da organização empregadora, como dos profissionais de enfermagem. Dentre essas políticas e práticas, destacam-se uma política justa de remuneração, a planos de carreira que deixem claro as possibilidades de progressão funcional, a ações de educação contínua, ao fortalecimento de uma cultura de aprendizagem, a uma política de gestão de desempenho e à criação de uma rede interna de apoio. Além disso, seria importante a implementação de planeamento estratégico para as organizações empregadoras dos profissionais de enfermagem, possibilitando a definição de metas e indicadores, bem como de medidas que possam avaliar constantemente as ações implementadas.

Nesse sentido, o presente estudo buscou contribuir para fomentar a discussão sobre a presença do estresse em profissionais de enfermagem, na medida em que reuniu os principais fatores responsáveis pelo estresse ocupacional e possibilitou a identificação de algumas intervenções propostas. O diagnóstico dos principais estressores ocupacionais possibilita às organizações empregadoras prevenir e diminuir o impacto destes no estresse ocupacional dos enfermeiros e, consequentemente, no seu desempenho profissional e pessoal. Para além das estratégias de intervenções propostas nos textos pesquisados, o artigo apresentado procurou dar sua contribuição em relação a outras possibilidades de intervenção no contexto de trabalho dos enfermeiros, o que pode permitir subsidiar futuras ações por parte das organizações.

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(1)Isabella Lara Machado Silveira

Graduada em Psicologia (Unesp/Bauru, São Paulo, Brasil). E-mail: isalms@hotmail.com.

(2)Larissa Bueno Boarretto

Graduada em Psicologia (Unesp/Bauru, São Paulo, Brasil). E-mail: lari_boarretto@hotmail.com.

(3)Edward Goulart Júnior: Professor Doutor do Departamento de Psicologia da Unesp/Bauru, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências, Departamento de Psicologia, Avenida Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01, Vargem Limpa, CEP 17033-360 – Bauru, SP, Brasil. E-mail: edward@fc.unesp.br.

(4)Dinael Correa de Campos

Professor Doutor do Departamento de Psicologia da Unesp/Bauru, São Paulo, Brasil. E-mail: dinaelcampos@fc.unesp.br.


Estudos sobre os principais Stressores em profissionais de Enfermagem: Algumas possibilidades de Intervenção. Silveira I, Boaretto L, Júnior E, Campos D. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 2016, volume 2, 63-72. DOI:10.31252/RPSO.23.11.2016

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