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Estatuto editorial

Alterações Comportamentais, Afetivas e/ou Psiquiátricas e sua interação com a Saúde e Segurança Ocupacionais

12 Dezembro, 2025Artigos da Equipa Técnica, Artigos de Revisão

Santos M, Almeida A, Chagas D, Rodrigues F.  Alterações Comportamentais, Afetivas e/ou Psiquiátricas e sua interação com a Saúde e Segurança Ocupacionais. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional. 2025; 20: esub536. DOI:10.31252/RPSO.13.12.2025

 

BEHAVIORAL, AFFECTIVE AND/OR PSYCHIATRIC ISSUES AND THEIR INTERACTION WITH OCCUPATIONAL HEALTH AND SAFETY

 

 

TIPO DE ARTIGO: Artigo de Revisão

 

AUTORES: Santos M(1), Almeida A(2), Chagas D(3), Rodrigues F(4).

 

RESUMO

Introdução/enquadramento/objetivos

Existem várias alterações comportamentais, afetivas e/ou psiquiátricas prevalentes entre os trabalhadores, que poderão ser influenciadas pelo trabalho e, por sua vez, também alterar a capacidade de laborar. Pretendeu-se com esta pesquisa resumir o que de mais relevante para a prática clínica se publicou sobre estes dois ângulos interdependentes.

Metodologia

Trata-se de uma Revisão Bibliográfica, iniciada através de uma pesquisa realizada em maio de 2024 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.

Conteúdo

As doenças mentais apresentam uma frequência razoável e têm vindo a aumentar. A prevalência da patologia psiquiátrica global na população ativa é de cerca de 14 a 29%.

Em alguns países as doenças mentais são a etiologia mais prevalente e/ou mais crescente, em contexto de ausência ao trabalho. Em 2015 estimou-se que 30 a 40% das ausências e/ou incapacidades para o trabalho se associavam a distúrbios mentais no contexto de países ocidentalizados. O período médio de ausência foi de 231 dias e tal tem implicações sociais e económicas. Na Suécia, por exemplo, as doenças mentais aumentaram 80% entre 2010 e 2016 e nesse último ano justificava cerca de 53% dos certificados de incapacidade temporária. Nesse país, entre 1990 a 2000, estes documentos associados a doença mental (sobretudo menos grave) quase que duplicaram. Para além disso, pensa-se que 1/3 das reformas antecipadas, em alguns países, se associe à doença mental. Acredita-se que apenas cerca de metade dos que se ausentam mais que seis meses devido a doença mental, regressem ao trabalho.

Sintomas associados a patologia mental podem alterar a capacidade de trabalho e originar ausências laborais.  As doenças mentais implicam um custo considerável para a sociedade- como as despesas de saúde diretas (estima-se que possam custar cerca de 4% do produto interno bruto de alguns países), bem como para o empregador diretamente (menor produtividade/lucro) e indivíduo- nomeadamente menor nível socioeconómico, menor qualidade de vida e maior morbilidade/mortalidade.

Estas patologias podem diminuir a energia/motivação, criar ilusões e/ou dificultar o relacionamento social; elas podem potenciar a tensão e ansiedade laborais. Estes indivíduos apresentam maior risco de ausência prolongada ao trabalho que, por sua vez, pode potenciar o isolamento, disfuncionalidade, desemprego e pobreza. As ausências prolongadas devido a doença mental são cada vez mais prevalentes, sobretudo quando associadas à depressão e ansiedade.

Estar empregado poderá influenciar positivamente a saúde mental em si. Manter um emprego poderá constituir um importante objetivo de vida nestes indivíduos, até para adquirir estabilidade financeira, alicerçar relacionamentos interpessoais e desenvolver a autoestima. O emprego é fundamental para a reintegração do mesmo.

Discussão e Conclusões

Estas alterações são razoavelmente prevalentes nos trabalhadores e apresentam capacidade de modular diversas variáveis laborais e de terem evolução influenciada também pelas condições de trabalho. Seria relevante que as equipas de Saúde e Segurança Ocupacionais dedicassem mais atenção a esta área, estudando as situações existentes no seu contexto de trabalho, apresentando estatísticas relevantes, medidas de atuação implementadas e respetivos resultados.

Palavras-chave: alterações comportamentais, alterações afetivas, alterações psiquiátricas, saúde ocupacional, medicina do trabalho, enfermagem do trabalho e segurança no trabalho.

                                                                                                            

ABSTRACT

Introduction/framework/objectives

There are several behavioral, affective and/or psychiatric changes prevalente at workers. The aim of this research was to summarize the most relevant publications for clinical practice on these two interdependent aspects.

Methodology

This is a Literature Review, initiated through a search carried out in may 2024, in the databases “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina and RCAAP”.

Content

Mental illnesses are reasonably common and have been increasing. The prevalence of psychiatric pathology in the working population is around 14 to 29%. In some countries, mental illness is the most prevalent and/or most growing cause of absence from work. In 2015, it was estimated that 30 to 40% of absences and/or incapacities for work were associated with mental disorders in Westernized countries. The average period of absence was 231 days, and this has social and economic implications. In Sweden, for exemple, mental illness increased by 80% between 2010 and 2016; in 2016, it justified around 53% of temporary incapacity certificates. In that country, between 1990 and 2000, these documents associated with mental illness (especially less serious ones) almost doubled. In addition, it is believed that 1/3 of early retirements in some countries are associated with mental illness. It is believed that only about half of those who are absent for more than six months due to mental illness return to work.

Symptoms associated with mental illness can affect work capacity and lead to absences from work. Mental illness entails a considerable cost to society – such as direct health expenses (4% of the internal product of some countries), as well as to the employer (lower productivity/profits) and the individual

– lower socioeconomic status, lower quality of life and higher morbidity/mortality.

These pathologies can reduce energy/motivation, create illusions and/or hinder social relationships; they can increase work-related tension and anxiety. These individuals are at greater risk of prolonged absence from work, which in turn can lead to isolation, dysfunction, unemployment and poverty. Prolonged absences from work due to mental illness are increasingly prevalent, especially when associated with depression and anxiety.

Being employed can positively influence mental health itself. Maintaining a job may be an important life goal for individuals with mental illness, including to achieve financial stability, strengthen interpersonal relationships and develop self-esteem. Employment is essential for the reintegration of individuals with mental illness.

Discussion and Conclusions

These changes are reasonably prevalent in workers and have the capacity to modulate work variables and to have their evolution also influenced by working conditions. It would be important for Occupational Health and Safety teams to devote more attention to this area, studying the situations existing in their work context, presenting relevant statistics, implemented action measures and respective results.

KEYWORDS: behavioral changes, affective changes, psychiatric changes, occupational health, occupational medicine, occupational nursing and occupational safety.

 

 

INTRODUÇÃO

Existem várias alterações comportamentais, afetivas e/ou psiquiátricas prevalentes entre os trabalhadores, que poderão ser influenciadas pelo trabalho e, por usa vez, também alterar a capacidade de laborar. Pretendeu-se com esta pesquisa resumir o que de mais relevante para a prática clínica se publicou sobre estes dois ângulos interdependentes.

 

METODOLOGIA

Em função da metodologia PICo, foram considerados:

–P (population): trabalhadores com alterações comportamentais, afetivas e/ou psiquiátricas

–I (interest): reunir conhecimentos relevantes sobre de que forma estas alterações modulam variáveis laborais e de que maneira as condições de trabalho influenciam as primeiras

–C (context): saúde e segurança ocupacionais aplicadas a alterações comportamentais, afetivas e psiquiátricas.

Assim, a pergunta protocolar será: Quais as alterações comportamentais, afetivas e psiquiátricas mais prevalentes na população ativa, de que forma tal altera a capacidade de trabalho e como as condições ocupacionais poderão determinar a evolução destas alterações?

Foi realizada uma pesquisa em maio de 2024 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.

No quadro 1 podem ser consultadas as palavras- chave utilizadas nas bases de dados.

 

CONTEÚDO

Prevalência e outras estatísticas

As doenças mentais apresentam uma frequência razoável (1) (2) e têm vindo a aumentar (2). A prevalência da patologia psiquiátrica global na população ativa é de cerca de 10 a 18% (3) ou 20% (4). Outros investigadores, por sua vez, estimaram que cerca de 30% da população global ou 14 a 29% da população ativa apresente doenças mentais; nomeadamente 37% dos homens e 50% das mulheres (especificamente em 2014, na Alemanha) (5). Alguns investigadores calculam que cerca de metade da população apresenta depressão e/ou ansiedade (6). A patologia mental parece então ser mais frequente no sexo feminino, na terceira década de vida e nas famílias com filhos menores de idade; bem como com menos habilitações, mais exigências laborais, menor capacidade de decisão e menor apoio dos colegas e chefia (ainda que com menor importância, segundo alguns investigadores), bem como da família e amigos (4).

Em alguns países as doenças mentais são a etiologia mais prevalente e/ou mais crescente, em contexto de ausência ao trabalho. Em 2015 estimou-se que 30 a 40% das ausências e/ou incapacidades para o trabalho se associavam a distúrbios mentais (7) (8), no contexto de países ocidentalizados. O período médio de ausência foi de 231 dias (na Holanda em 2018, por exemplo) (7) e tal tem implicações sociais e económicas (8).

Na Suécia as doenças mentais aumentaram 80% entre 2010 e 2016; em 2016 justificava cerca de 53% dos CITs (certificados de incapacidade temporária) (9), por exemplo. Nesse país, entre 1990 a 2000, estes documentos associados a doença mental (sobretudo menos grave) quase que duplicaram (36% no sexo feminino e 26% no masculino) (10).

Para além disso, pensa-se que 1/3 das reformas antecipadas, em alguns países, se associe à doença mental (11).

Acredita-se que apenas cerca de metade dos que se ausentam mais que seis meses devido a doença mental, regressam ao trabalho (12).

Num estudo com uma amostra que incluía indivíduos com diversas alterações mentais e comportamentais, 78% apresentavam alguma capacidade laboral residual e 59% conseguia trabalhar a tempo inteiro (13).

Consequências Laborais das Alterações Psiquiátricas

Sintomas associados a patologia mental podem alterar a capacidade de trabalho e originar ausências laborais (6).  As doenças mentais implicam um custo considerável para a sociedade- como as despesas de saúde diretas (9) (estima-se que possa custar cerca de 4% do produto interno bruto de alguns países) (4), bem como para o empregador (13) (14) [este poderá ter menor produtividade/lucro (4) (9)] e indivíduo, nomeadamente menor nível socio económico, menor qualidade de vida e maior morbilidade/mortalidade (13).

Estima-se que cerca de 1/3 das disfuncionalidades laborais se associam a alterações mentais e comportamentais. Estas patologias podem diminuir a energia/motivação, criar ilusões e/ou dificultar o relacionamento social (13). As patologias mentais podem potenciar a tensão e ansiedade laborais e, em alguns países (como a Suécia) é a principal causa de ausência prolongada ao trabalho (9), como já se mencionou. As alterações comportamentais, afetivas e psiquiátricas conseguem aumentar o absentismo e o desemprego (3). Estes indivíduos apresentam maior risco de ausência prolongada ao trabalho que, por sua vez, pode potenciar o isolamento, disfuncionalidade e pobreza (9). As doenças mentais são uma etiologia relevante em contexto de ausência ao trabalho (1/5); estas serão prolongadas com maior probabilidade nos indivíduos com menor status ocupacional, menor capacidade de trabalho e autoeficiência, bem como mais idade (11). As ausências prolongadas ao trabalho devido a doença mental são cada vez mais prevalentes; sobretudo quando associadas à depressão e ansiedade (12).

Modulação das Alterações Comportamentais, Afetivas e/ou Psiquiátricas em função das Condições de Trabalho e/ou existência de Emprego

Estar empregado poderá influenciar positivamente a saúde mental em si (15). Manter um emprego poderá constituir um importante objetivo de vida em indivíduos com patologia mental, até para adquirir estabilidade financeira, alicerçar relacionamentos interpessoais e desenvolver a autoestima. Por sua vez, o absentismo poderá constituir um entrave grave (16). O emprego é fundamental para a reintegração do indivíduo com patologia mental; contudo, existem por vezes dificuldades consideráveis e posterior intensificação da exclusão social (3).

As condições de trabalho psicológicas conseguem influenciar o tempo de ausência ao trabalho (é o fator com maior peso), com a mediação do distress, satisfação laboral e capacidade de trabalho (7).

Também pode acontecer que indivíduos com doenças psiquiátricas geralmente percecionem o seu trabalho como stressante, com maior probabilidade (5). Por sua vez, caraterísticas stressantes no trabalho também se associam a maior prevalência de doença mental (risco 76% superior) (8).

A ausência ao trabalho pode potenciar o isolamento, dificuldade em regressar e os problemas económicos (10).

O desemprego, por sua vez, poderá conseguir modular a saúde mental, inclusive surgir síndroma depressivo (17).

Programas de Reabilitação e Regresso ao Trabalho

Empregadores de menor dimensão poderão ter mais dificuldade em proporcionar redução de horário e/ou desenvolver atividade de prevenção para as doenças mentais (14).

Quanto melhor o nível de vida e o sistema de saúde, mais desenvolvidos estão geralmente os programas de reabilitação e retorno ao trabalho (3) e tal também obterá um efeito benéfico na saúde mental (18).  Alguns governos (como o da Suécia) dão orientações aos empregadores, relativas a atenuar os problemas no trabalho e proporcionar apoio para as doenças mentais. Contudo, por sua vez, dar muita atenção ao tema, poderá fazer com que o empregador se foque mais no que o trabalhador não consegue fazer (9). Para além disso, uma instituição com muitos recursos a este nível, pode diminuir a capacidade de desenvolver coping, atingir objetivos e fazer com que os funcionários se sintam satisfeitos/motivados (7).

Programas de orientação vocacional podem conseguir fazer com que os indivíduos com doença mental ultrapassem as suas barreiras psicossociais, de forma a terem uma recuperação mais rápida, mesmo com patologias mais complicadas, como esquizofrenia, depressão major, distúrbios esquizoafetivos e doença bipolar (15). Um bom programa de apoio ao regresso ao trabalho também deverá ter um componente de prevenção das principais situações que podem levar a absentismo (19).

O regresso ao trabalho é modulado pela autoperceção de doença e expetativas. As crenças que os indivíduos criam servem para lidar com as patologias e irão modular os comportamentos associados à saúde; contudo, nem sempre levam a situações vantajosas. Por exemplo, pode acontecer que acredite que existirão mais consequências negativas, que a patologia é incurável e/ou de difícil controlo, que irá durar mais tempo e causar mais perturbações. Quando as crenças forem mal adaptativas, os tempos de incapacidade/limitações serão superiores e poderá haver uma maior utilização dos recursos de saúde. Por vezes, o regresso ao trabalho poderá ser na altura que o trabalhador pré-indicou (efeito da “auto-profecia”). Indivíduos com perceções mais negativas parecem regressar ao trabalho mais tarde (6). O apoio social e o controlo que o trabalhador tem das suas condições de trabalho também é importante na autoperceção de regressar ao trabalho. Assim, identificar o que modula a perceção dos colegas de trabalho poderá ser relevante. Colegas com mais idade poderão ser mais preconceituosos em relação a doenças mentais; ou seja, a estigmatização poderá constituir um entrave ao regresso (14). A personalidade também influencia e o regresso (17).

Capacidade de Trabalho

As caraterísticas que contribuem para um melhor desempenho laboral são a auto-gestão, adaptabilidade, dedicação ao trabalho e planeamento. Em relação à instituição, são relevantes as crenças associadas, sistema de apoio e segurança. Em relação ao indivíduo, é pertinente a capacidade de comunicação, orientação, gestão da saúde e do quotidiano e coping (16). Outros autores destacam que as caraterísticas pessoais mais relevantes poderão ser o empenho/engagement, tempo em que esteve desempregado, motivação, experiência profissional, capacidades sociais, autoperceção de eficácia e autoestima. Poderão ainda conseguir modelar a capacidade de trabalho a conjuntura socioeconómica, orientação dentro da instituição (“coach“), atitude dos colegas perante as limitações cognitivas, apoio financeiro, flexibilidade de horários e existência de feed-back pelo trabalho já desenvolvido (20).

A avaliação da capacidade de trabalho entre psiquiatras por vezes é de difícil consenso. A formação poderá atenuar discretamente a heterogenicidade de critérios, até porque, por vezes, poderão estar envolvidas questões legais económicas (como atribuição de subsídios; sobretudo em países mais ocidentalizados) (21).

Por vezes a diminuição da capacidade de trabalho é considerada culpa do trabalhador e tal ainda potenciará mais a sua segregação, prejudicando o retorno ao mercado de trabalho (3).

A generalidade dos programas de reabilitação não abarca as patologias psiquiátricas (3).

Indivíduos com patologia psiquiátrica geralmente apresentam menos capacidades psicológicas; logo, eventualmente menor capacidade de trabalho (5). Esta depende das caraterísticas pessoais e do ambiente de trabalho, incluindo as exigências laborais (5). Ela não é propriamente uma coisa que se possuiu, mas sim algo que se pode desenvolver (22).

Indivíduos com comorbilidades apresentam geralmente ainda menor capacidade laboral (1) .

Indivíduos deprimidos e ansiosos apresentam menor capacidade de trabalho (2).

Na Suécia a ausência ao trabalho tem de ser justificada pelo menos com um diagnóstico concreto e o documento deve descrever as limitações existentes em relação às tarefas, de forma a ficar claro como tal implica não ter capacidade para trabalhar (10).

Por vezes, a avaliação da incapacidade para o trabalho é empírica e/ou subjetiva, não existindo formação formal, ainda que tal atividade possa implicar consequências relevantes para a sociedade, empregadores e trabalhadores (23).

A personalidade também influencia a capacidade de trabalho, após ausência; por exemplo, o neuroticismo potencia a depressão (17).

Ainda que 1/3 dos certificados de incapacidade temporária se associe à doença mental, a generalidade dos médicos refere mais limitações na avaliação da capacidade de trabalho neste contexto (8).

Patologias psicoafectivas/ comportamentais e/ou psiquiátricas específicas

Aqui estão incluídas situações como depressão e ansiedade ou até esquizofrenia (9); as mais prevalentes são as duas primeiras (11).

-Esquizofrenia

A esquizofrenia geralmente apresenta um impacto relevante no funcionamento do indivíduo. Uma proporção significativa de indivíduos (80%) com psicose está desempregada, mesmo desejando trabalhar e apesar da existência de programas de apoio nesse sentido. Tal poderá ser justificado parcialmente devido a alterações cognitivas, como alterações da atenção e memória, bem como rapidez de tratamento da informação. Também poderão existir dificuldades associadas à pontualidade, assiduidade, apresentação física, capacidade de trabalhar em grupo, qualidade das tarefas executadas e adaptação a novidades; bem como número de horas trabalhadas e salário (20).

-Doença obsessivo-compulsiva

As perturbações de personalidade associam-se com maior probabilidade a maior conflitualidade laboral, despedimento e desemprego. Acredita-se que a percentagem de perturbações de personalidade na população geral oscile entre 4 e 12%. A disfuncionalidade dos indivíduos obsessivo-compulsivos é geralmente inferior à de outras perturbações da personalidade (24). Estes até poderão ter adição ao trabalho/atitudes perfecionistas e/ou workaholismo. Contudo, também poderá existir uma preocupação excessiva com a produtividade, sem obtenção de prazer (25).

Trata-se da perturbação da personalidade mais prevalente (3 a 8%); ainda que pouco estudada, com dados por vezes até contraditórios, mesmo sendo a mais dispendiosa, quer a nível de custos diretos, quer indiretos. Pode coexistir com perturbações da ansiedade, depressão e consumo de substâncias psicoativas. Estima-se que a depressão existe em 50 e 28% dos indivíduos dos sexos masculino e feminino, respetivamente, em idade ativa e com DOC (25).

-Neurose

O neuroticismo está associado a maior limitação laboral; geralmente coexiste com muita ansiedade e pouca capacidade de coping (24).

-Stress pós-traumático

Estes indivíduos podem também apresentar pior capacidade laboral (13).

-Autismo

Indivíduos com atraso mental e autismo grave, com maior probabilidade poderão não ter sequer uma capacidade residual de trabalho (13).

-Síndroma depressivo e Ansiedade

Dentro da patologia psiquiátrica o mais prevalente é a depressão e, num estudo, estes trabalhadores estiveram ausentes do trabalho, em média, 275 dias (3). Atitudes pessimistas estão associadas a menor probabilidade de regressar ao mercado de trabalho; esta questão também é modulada pela perceção de autoeficácia (que está diminuída na depressão). Uma ausência mais prolongada dificulta o regresso ao trabalho (26). A depressão e/ou ansiedade podem ser bastante dispendiosas para o indivíduo e/ou sociedade (ausência ao trabalho, diminuição da produtividade, diminuição da qualidade de vida) (6). Ambas também podem alterar a sociabilidade em contexto laboral (2).

 

DISCUSSÃO/ CONCLUSÃO

Estas alterações são razoavelmente prevalentes nos trabalhadores e apresentam capacidade de modular algumas variáveis laborais e de terem evolução influenciada também pelas condições de trabalho. Seria relevante que as equipas de Saúde e Segurança Ocupacionais dedicassem mais atenção a esta área, estudando as situações existentes no seu contexto de trabalho, apresentando estatísticas relevantes, medidas de atuação implementadas e respetivos resultados.

 

CONFLITOS DE INTERESSE, QUESTÕES ÉTICAS E/OU LEGAIS

Nada a declarar.

 

AGRADECIMENTOS

Nada a declarar.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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  25. OC2. Atroszko P, Demetrovics Z, Griffiths M. Work addiction, obsessive-compulsive personality disorder, burn-out and global burden of disease: implications from the ICD-11. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2020; 17: 660. DOI: 10.3390/ijerph17020660
  26. P5. Laukkala T, Heikenheimo S, Viokko A, Juntilla I, Tuisku K. Subjetive and objetive measures of function and return to work: an observational study with a clinical psychiatry cohort. Social Psychiatry and Psyquiatry Epidemiology. 2018; 53: 537-540. DOI: 10.1007/s00127-017-1479-5

 

 

 

Quadro 1: Pesquisa efetuada

Motor de busca Password(s) Critérios Nº de documentos obtidos Nº da pesquisa Pesquisa efetuada ou não Nº do documento na pesquisa Codificação inicial Codificação final
RCAAP Doenças psiquiátricas -título e/ ou assunto

 

28 1 Sim – – –
Síndroma depressivo 4 2 Sim – – –
Depressão 3771 3 Não – – –
Depressão+ capacidade de trabalho 0 4 Não – – –
Esquizofrenia 1123 5 Não – – –
Esquizofrenia+ capacidade de trabalho 0 6 Não – – –
Doenças obsessiva-compulsiva 0 7 Não – – –
Doença bipolar 42 8 Sim – – –
EBSCO (CINALH, Medline, Database of Abstracts and Reviews, Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Nursing & Allied Health Collection e MedicLatina) Psychiatric Diseases -2013 a 2023

-acesso a resumo

-acesso a texto completo

16.984 9 Não – – –
Psychiatric Diseases+ work capacity 36 10 Sim 1

2

3

5

6

8

9

11

12

13

14

18

20

23

24

25

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29

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31

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33

34

P1

P2

P3

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P5

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P8

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P10

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13

16

21

3

26

5

4

9

7

1-18

–

11

12

15

22

10

–

–

23

8

6

1

2

14

17

 

Depressive syndrome 93 11 Sim 23 SD1 –
Schizophrenia 16.359 12 Não – – –
Schizophrenia+ work 1088 13 Não – – –
Schizophrenia+ work limitations 36 14 Sim 1

21

E1

E2

20

–

Obsessive cumpulsive disease 3057 15 Não – – –
Obsessive cumpulsive disease+ work 204 16 Sim 2

18

102

OC1

OC2

OC3

24

25

–

Bipolar disease 30 17 Sim – – –

 

 

 

(1)Mónica Santos

Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online; Técnica Superior de Segurança no Trabalho; Doutorada em Segurança e Saúde Ocupacionais e CEO da empresa Ajeogene Serviços Médicos Lda (que coordena os projetos Ajeogene Clínica Médica e Serviços Formativos e 100 Riscos no Trabalho). Endereços para correspondência: Rua da Varziela, 527, 4435-464 Rio Tinto. E-mail: s_monica_santos@hotmail.com. ORCID Nº 0000-0003-2516-7758

Contributo para o artigo: seleção do tema, pesquisa, seleção de artigos, redação e validação final.

(2)Armando Almeida

Escola de Enfermagem (Porto), Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa; Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde; Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional. 4420-009 Gondomar. E-mail: aalmeida@ucp.pt. ORCID Nº 0000-0002-5329-0625

Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final.

(3)Dina Chagas

Doutorada em Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho; Pós-Graduada em Segurança e Higiene do Trabalho; Pós-Graduada em Sistemas Integrados de Gestão, Qualidade, Ambiente e Segurança. Professora convidada no ISEC Lisboa. Membro do Conselho Científico de várias revistas e tem sido convidada para fazer parte da comissão científica de congressos nos diversos domínios da saúde ocupacional e segurança do trabalho. Colabora também como revisor em várias revistas científicas. Galardoada com o 1.º prémio no concurso 2023 “Está-se Bem em SST: Participa – Inova – Entrega-Te” do projeto Safety and Health at Work Vocational Education and Training (OSHVET) da EU-OSHA.1750-142 Lisboa. E-Mail: dina.chagas2003@gmail.com. ORCID N.º 0000-0003-3135-7689.

Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final.

(4)Filipa Rodrigues

Licenciada em Enfermagem ( Coimbra) Esenfc, Pós-graduação em Enfermagem do Trabalho ( Vila Nova de Gaia )- Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia. 4770-308 Vila nova de Famalicão. E-mail: enfermeirafilipa21@gmail.com
Contributo para o artigo: seleção de artigos, redação e validação final.
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