OCCUPATIONAL HEALTH AND VIBRATIONS
TIPO DE ARTIGO: Resumo de trabalho divulgado noutro contexto
AUTORES: Santos M(1), Almeida A(2).
INTRODUÇÃO
Vários postos de trabalho estão sujeitos a vibrações com caraterísticas específicas, pelo que se torna pertinente que a Equipa de Saúde Ocupacional esteja atualizada acerca dos dados mais recentes sobre o tema.
CONTEÚDO
A vibração pode ser definida como movimento oscilatório, que implica uma alteração da velocidade e direção do deslocamento (movimento de “vai e vem”).
Existem, genericamente, dois tipos de vibrações: as que atingem o corpo todo (tendo como pontos de entrada os pés ou as nádegas, consoante a posição) e as que atingem predominantemente uma parte do corpo, geralmente com particular destaque para a mão e/ ou braço. O valor limite de ação para as vibrações (a nível de mão-braço) é de 2,5m/s2; contudo, alguns autores consideram que tal valor deveria ser inferior, tendo em conta os danos que se supõe existir já com este nível.
As vibrações têm a capacidade de causar lesões vasculares e nervosas, sobretudo nos dedos das mãos (dado ser um ponto de entrada frequente), tanto mais graves quanto mais intensa a frequência oscilatória medida em Hertz (Hz). Os trabalhadores com a doença dos “dedos brancos” frequentemente referem atenuação da força (apesar de não se encontrarem alterações musculares), intolerância ao frio, dor e cãibras; parte das lesões são irreversíveis, ficando o indivíduo com limitações profissionais e pessoais, logo, com menor qualidade de vida. A evolução será mais rápida e intensa se se mantiver a exposição às vibrações. Alguns autores usam a terminologia “doença do dedo branco” como equivalente à doença de Raynaud (apesar que aqui, além da cor branca, também podem surgir os tons azul e rosa, por hipoxia- diminuição de oxigénio e aumento da circulação sanguínea, respetivamente). Quanto mais cedo se diagnosticar a patologia, mais precoces serão as medidas tomadas, pelo que a gravidade, genericamente, será menor. Em países com clima mais quente a semiologia é muito mais suave, pelo que a situação torna-se menos exuberante e/ ou é menos frequentemente diagnosticada; aliás, a própria perceção das vibrações varia com a temperatura cutânea dos dedos. Para além disso, os exames auxiliares não têm sensibilidade ou especificidade elevadas, pelo que o diagnóstico é geralmente clínico (baseado na semiologia, ou seja, conjunto de sinais e sintomas).
A semiologia do síndroma mão- braço carateriza-se sobretudo por dor, prurido, parestesia (adormecimento, formigueiro), astenia (fraqueza), rigidez e alterações na cor da pele (principalmente dedos). Esta costuma surgir nos primeiros dias após a lesão por vibração (75% dos casos) e, geralmente, não se atenua com o tempo. A patofisiologia também parece ser complexa e ainda não está totalmente esclarecida. A semiologia regride quando a temperatura ambiente sobe mas piora e generaliza-se com o evoluir da situação. Pensa-se que a etiologia se possa relacionar com o vasoespasmo (estreitamento dos vasos sanguíneos).
Vibrações com frequências baixas podem causar náusea, vómito e diaforese (sudorese aumentada); se mais intensas (por exemplo, a manobrar um trator) podem surgir cefaleia, cervicalgia (dor no pescoço), astenia, lombalgia (dor na coluna lombar), dorsalgia (dor na coluna dorsal), alterações genito-urinárias, bem como diminuição das acuidades auditiva e visual. Para além disso, podem ter também implicações aos níveis cardiovascular, cardiopulmonar, metabólico, endócrino, sistema nervoso central e aparelho genito-urinário. No campo emocional aumenta também o risco de surgirem irritabilidade/ fadiga e stress.
As vibrações com exposição breve levam a alterações fisiológicas minor, como taquicardia, hiperventilação, cefaleia, desequilíbrio e diminuição da acuidade visual. A exposição crónica, por sua vez, pode levar a alterações irreversíveis (sobretudo a nível músculo-esquelético e dos discos intervertebrais).
Uma das profissões que muito frequentemente está exposta (e de forma constante) às vibrações são os motoristas, sendo que alguma da semiologia típica destes profissionais (como a lombalgia) é proporcional à intensidade e número de horas de exposição. A própria constituição e design do assento influenciam muito; por exemplo, o tempo de vida útil da espuma de revestimento normal é de cerca de seis meses (no sentido de amortecer eficazmente as vibrações), enquanto que noutros materiais mais modernos (como silicone), esse prazo passa para cerca de cinco anos. A qualidade da estrada (homogeneidade do pavimento), a velocidade em que se circula e o número de paragens (stops, semáforos) também interferem no processo. São ainda importantes o tipo de calçado e a própria postura corporal.
Outra profissão muito exposta às vibrações é a de dentista, recebidas geralmente em posturas mantidas e forçadas; têm uma incidência elevada de doença dos dedos brancos.
As vibrações são quantificadas por acelerómetros, ou seja, instrumentos que transformam a energia mecânica da vibração em energia eléctrica, instrumento este de uso muito fácil (pequeno, leve e discreto).
Como medidas de proteção colectiva destacam-se o uso de máquinas que produzam menos vibrações. Para além disso, uma boa vigilância médica permitirá detectar as situações numa fase mais precoce. A organização do trabalho deve permitir a rotatividade de tarefas, de modo a que não haja sobrecargas dos mesmos funcionários, por períodos prolongados; as pausas são também muito importantes neste contexto.
O uso de luvas anti-vibração atenua a semiologia e a gravidade das lesões; alguns destes modelos têm um sistema de aquecimento incorporado, a utilizar quando elas são recebidas em ambientes de trabalho frios; outras medidas equivalentes são o uso de roupas quentes, consumo de bebidas quentes e evicção da nicotina e álcool.
CONCLUSÕES
A prevenção da exposição dos trabalhadores às vibrações permite diminuir o risco de surgirem as patologias associadas, pelo que estes manterão a sua produtividade e satisfação laboral, aumentando assim a rentabilidade para a entidade empregadora; mesmo que essas medidas exijam algum investimento imediato, haverá sempre vantagem, na medida em que os custos associados a pior imagem na sociedade, pior produtividade, agravamento dos prémios de seguros, mais acidentes de trabalho, mais doenças profissionais, maior necessidade de recrutamento e formação de novos funcionários, serão sempre superiores.
BIBLIOGRAFIA
Santos M, Almeida A. Vibrações e Saúde Ocupacional. Revista Segurança, 2012, novembro- dezembro, 211, 24-26.
(1)Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho; Presentemente a exercer nas empresas Medicisforma, Clinae, Servinecra e Serviço Intermédico; Diretora Clínica da empresa Quercia; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line; Endereços para correspondência: Rua Agostinho Fernando Oliveira Guedes, 42 4420-009 Gondomar; s_monica_santos@hotmail.com.
(2)Mestre em Enfermagem Avançada; Especialista em Enfermagem Comunitária; Pós-graduado em Supervisão Clínica e em Sistemas de Informação em Enfermagem; Docente na Escola de Enfermagem, Instituto da Ciências da Saúde- Porto, da Universidade Católica Portuguesa; Diretor Adjunto da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line; aalmeida@porto.ucp.pt
Santos M, Almeida A. Vibrações e Saúde Laboral. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 2017, volume 3, 1-3.