AUDIOLOGICAL PROFILE IN ROCK MUSICIANS
TIPO DE ARTIGO: Estudo epidemiológico (Observacional Analítico Transversal)
Autores: Munhoz G(1) , Andrade E(2) , Lopes A(3)
RESUMO
Introdução
A audição dos músicos é de extrema importância para a qualidade de seu trabalho e permanência na carreira. Os músicos estão expostos frequentemente a elevados níveis de pressão sonora devido às várias horas de ensaios e à frequência de atuações, correndo o risco de desenvolver a Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevada (PAINPSE).
Objetivo
Caraterizar o perfil audiológico dos músicos de bandas de rock em exercício profissional em função do tipo de instrumento e as consequências para sua saúde.
Material e método
Participaram elementos de quatro bandas musicais com 16 músicos (guitarra, baixo e voz). Todos fizeram entrevista especifica e avaliação audiológica, composta pela inspeção do Meato Acústico Externo (MAE), audiometria tonal liminar convencional (AT-AC) por via aérea e via óssea e audiometria tonal de alta frequência (AT-AF), logoaudiometria, imitanciometria, Emissões Otoacústicas Evocadas por estímulo transiente (EOEt) e por produto de distorção (EOApd), assim como a pesquisa da curva de crescimento (dp growth rate).
Resultados
50% dos participantes apresentavam algum sintoma não auditivo após a exposição ao ruído e 100% da amostra mencionou acufeno bilateral do tipo apito após as Atuações, bem como maior dificuldade de compreensão da fala, sobretudo entre instrumentistas de baixo. Ao traçar o perfil audiológico do músico obtiveram-se maiores médias dos limiares audiológicos por frequência dos instrumentos estudados foram em 3, 4 e 6KHz (voz), 3 e 4KHz (guitarra), 3, 4 e 6KHz (baixo) e 3 e 4KHz (bateria); presença de entalhe nas frequências de 2, 4, 6 e 8KHz na AT-AC; já na AT-AF, em todas as frequências apareceu pelo menos um caso; na logoaudiometria os resultados obtidos foram normais, por sua vez, na imitanciometria surgiu curva tipo A; verificou- se também que os reflexos estavam ausentes na frequência de 4KHz (ipsi e contralateral) bem como a resposta em 4KHz para todos os baixistas bilateralmente, quando realizado as EOE por estímulo transiente e ausência de respostas em 50% da amostra para a frequência de 6KHz durante as EOE por produto de distorção; surgiu uma curva de crescimento (dp growth rate) com resposta em 75dB em quase 100% dos casos em que houve necessidade de sua realização.
Conclusão
Comprovou-se a necessidade de monitorizar a audição dos músicos, dado estes manifestarem globalmente alguns déficits auditivos, implicando tal eventual menor capacidade laboral e pior qualidade de vida geral.
Palavras-chave: perda auditiva; perda auditiva provocada por ruído; ruído ocupacional; música.
ABSTRACT
Introduction
The hearing of the musicians is very important for the quality of their work and stay in the career. Musicians are often exposed to high sound pressure levels due to several hours of tests and frequency of shows, at the risk of developing HSPLIHL.
General objective
Charting the audiological profile of rock bands of musicians in professional practice depending on the type of instrument and the consequences for their health.
Material and methods
In this research were analyzed elements of four musical bands with 16 musicians (guitar, bass and vocals). The musicians evaluated did interview and audiological evaluation, composed by inspection of the external acoustic canal (EAC), tonal conventional liminal audiometry by air and bone conduction and pure tone audiometry high frequency, Logoaudiometry, Imitanciometry and transient evoked otoacoustic emissions stimulus and distortion product, as well as research of the growth curve (dp growth rate).
Results
50% of participants showed some dificulty in hearing after noise exposure and 100% of the sample reported bilateral tinnitus after the show. It was found greater difficulties in speech understanding in noise in musicians who play the bass. By tracing the audiological musician profile yeslded higher average of hearing threshold by frequency of the instruments studied were 3kHz, 4kHz and 6kHz (voice), 3kHz and 4kHz (guitar), 3kHz, 4kHz and 6kHz (bass) and 3kHz, 4 KHz (drums); presence notch the frequencies of 2kHz, 4kHz, 6kHz and 8kHz AT-AC; have AT-AF at all frequencies appeared at least one case; logoaudiometry with results within normal limits; imitanciometry: type A curve; absent reflexes in the frequency of 4 kHz (ipsilateral and contralateral); no response in 4 KHz for all bilaterally downward, when the EOE performed by transient stimulation and no response in 50% of the sample to the frequency 6 KHz during EOE distortion product; emergence of the growth curve (dp growth rate) in response 75dB in almost 100% of cases where there was need for its realization.
Conclusion
There is a need to monitoring the hearing of the musicians, once that this population has shown hearing deficits capable of lower work capacity and worse overall quality of life.
Keywords: hearing loss; hearing loss caused by noise; noise occupational; music.
Introdução/ enquadramento
A exposição a níveis de ruído de 100 dB Nível de Pressão Sonora (NPS) somente é permitida durante uma hora por dia. Ficar exposto à música durante duas horas e meia a 100dB por exemplo, excede os limites seguros para a audição humana¹.
Músicos violinistas e bateristas são os que mais se queixam de acufenos após a exposição a níveis de pressão sonora elevados, em função da proximidade do instrumento ao ouvido².
Os músicos estão expostos frequentemente a elevados NPS devido às várias horas de ensaios e à frequência de atuações, correndo o risco de desenvolver a Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevada (PAINPSE), refletindo-se tal na sua produtividade, qualidade do trabalho e permanência na carreira. Tratam-se de profissionais com risco de perda auditiva ocupacional³.
Objetivos
Caraterizar o perfil audiológico dos músicos de bandas de rock em exercício profissional em função do tipo de instrumento e as consequências para sua saúde.
Metodologia
Este trabalho obteve aprovação na reunião ordinária do Comité de Ética em Pesquisa em Seres Humanos em 30/04/2014, de acordo com a Resolução CNS 466/12, CAAE 30315914.7.0000.5417, com o número 640.183. Realça-se que todos os critérios foram seguidos respeitando a Resolução 466/12 que versa sobre Ética em Pesquisa com seres humanos do CONEP. Participaram indivíduos de quatro bandas de rock, correspondendo a um total de 16 participantes do sexo masculino. Esses membros passaram por entrevista especifica e avaliação audiológica, composta pela inspeção do Meato Acústico Externo (MAE), audiometria tonal liminar convencional (AT-AC) por via aérea e via óssea e audiometria tonal de alta frequência (AT-AF), logoaudiometria, imitanciometria, Emissões Otoacústicas Evocadas por estímulo transiente (EOEt) e por produto de distorção (EOApd), assim como a pesquisa da curva de crescimento (dp growth rate). Os testes estatísticos aplicados neste estudo foram o Teste-T e o teste Qui- Quadrado sendo analisada a associação dos instrumentos (voz, guitarra, baixo e bateria) que estavam presentes nas quatro bandas versus sintomas auditivos e não auditivos, assim como a relação entre as bandas versus sintomas auditivos e não auditivos. Este trabalho reuniu dados colhidos entre agosto e novembro de 2015.
Como critério de inclusão foi considerado trabalhar como músico sem interrupção pelo período mínimo de cinco anos e na mesma banda, para uniformizar a exposição a curto e médio prazo ao ruído; para além disso, as bandas deveriam realizar ensaios semanais de no mínimo três horas diretas (ininterruptas) e fazer shows durante toda a semana.
Como critérios de exclusão foram considerados o facto de alguma banda ter pelo menos um elemento que recusasse participar ou a não participação da banda em alguma das fases do programa de prevenção de perdas auditiva, bem como alterações no meato acústico externo que impedissem o uso de EPI.
A avaliação audiológica foi realizada por meio dos procedimentos descritos a seguir:
• Entrevista específica: na qual se colheram antecedentes de saúde geral e da audição dos participantes, assim como sua inserção na área musical (tempo de estudo, intensidade sonora, tipo de instrumento)
• Audiometria Tonal Liminar por via aérea e via óssea e de altas frequências: foi realizada a pesquisa dos limiares auditivos por via aérea nas frequências de 0,25Hz a 20KHz. A avaliação para audiometria tonal convencional (AT-AC) e audiometria tonal de altas frequências (AT- AF) foi realizada em cabine audiométrica, sendo utilizado o audiómetro AC 40/Interacoustics para apresentação de estímulos via fones do tipo TDH 39 e HDA 200 respetivamente. Foi utilizado o método descendente-ascendente, para a pesquisa dos limiares tonais, sendo estabelecido o limiar auditivo em 50% das respostas positivas à detecção do som.
Os estímulos sonoros foram diminuídos de 10 em 10 dB até que o indivíduo deixasse de apresentar resposta comportamental ao som (levantar a mão quando ouvisse). A partir de então, o estímulo foi aumentado 5 dB até se obter novamente a resposta. O limiar auditivo foi determinado como a menor intensidade de som capaz de eliciar uma resposta auditiva em 50% das apresentações.
Para audiometria tonal por via óssea, foi utilizado o mesmo método descendente-ascendente para pesquisar o limiar auditivo nas frequências de 0,5Hz a 4KHz. A pesquisa por via óssea foi realizada quando os limiares de via aérea estavam rebaixados, sendo utilizado um vibrador ósseo posicionado na mastoide.
As audiometrias foram classificadas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde- OMS (1997), com relação ao grau de perda auditiva (audição normal e perdas leve, moderada, severa e profunda) pela média entre as frequências que recebem essa classificação até 4 kHz (500, 1.000, 2.000 e 4.000 kHz). Foram classificadas também, de acordo com a Portaria nº 19 do Ministério do Trabalho, que estabelece que a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de frequências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz seja igual ou ultrapasse 10 dB NA ou a diminuição em pelo menos uma das frequências de 3.000, 4.000 ou 6.000 Hz seja maior ou superior a 15 dB NA. Para a classificação da AT- AF, adotou-se o trabalho de Burguetti, Peloggia e Carvallo (2004) para cada frequência e faixa etária.
O estímulo utilizado para pesquisa do liminar auditivo durante a audiometria tonal liminar convencional (AT-AC) e audiometria tonal de alta frequência (AT- AF), foi o warble.
• Logoaudiometria: foram pesquisados o Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) utilizando palavras dissílabo e o Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF), para avaliar a habilidade de perceber e reconhecer os sons da fala.
Os participantes foram orientados a repetir as palavras apresentadas a viva-voz e repeti-las como entendessem. Para o LRF, foram consideradas como aceitável as respostas iguais ou até 10 dB acima da média tritonal (500, 1000 e 200 Hz) na ATL. Para o IPRF, a porcentagem de acertos considerada estava entre 88% e 100%. O equipamento utilizado para a realização da Logoaudiometria foi o audiómetro AC 40/ Interacoustics, e para apresentação de estímulos via fones foi utilizado o TDH 39.
• Na imitanciometria foram realizados dois tipos de testes:
Timpanometria, que avalia a complacência do ouvido médio, ou seja, a condutância sonora das estruturas do ouvido médio e ouvido externo e o Reflexo Estapédico, que avalia a integridade do arco reflexo estapediano e, por consequência, de forma indireta, as estruturas do ouvido médio e interno, nervo auditivo e tronco cerebral. Foi utilizado o Imitanciómetro multifrequêncial AT 235 para ambos os testes, nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. As curvas timpanométricas foram classificadas de acordo com a proposta de Jerger (1970); os reflexos acústicos ipsilaterais entre 80 e 95 dB NA e contralaterais entre 90 e 105 dB NA foram considerados normais, segundo a classificação de Carvallo et al. (2000)¹.
Antecendo a realização do exame, o participante foi orientado a permanecer sentado confortavelmente e em silêncio. Os testes foram realizados fora da cabina acústica, em sala tratada acusticamente.
• Pesquisa das emissões otoacústicas evocadas (ILO 292) que incorpora o software ILOv6-Otodynamics: investiga a funcionalidade das células ciliadas externas, permitindo a investigação das deficiências auditivas de origem periférica de neonatos, outras populações especiais e em qualquer idade. A pesquisa das emissões otoacústicas auxilia no diagnóstico diferencial da perda auditiva neurosensorial. Para registrar as Emissões Otoacústicas Evocadas por estímulos transientes (EOEt) foi utilizado o estímulo do tipo click, caracterizado por ser de curta duração composto por uma faixa de frequências abrangente, predominantemente entre 500 e 4000 Hz. Esse estímulo transiente estimula a cóclea em diferentes regiões, desde a base até o ápice e quando presente, sugere que os limiares audiométricos estão próximos da normalidade¹¹. Já o registro das emissões otoacústicas evocadas por produto de distorção (EOEpd) é eliciado a partir da interação não linear de dois tons puros apresentados simultaneamente, que resulta em um terceiro tom (distorção). A frequência primária mais baixa é denominada f1, enquanto que a frequência primária mais alta é chamada f2. Ambas se relacionam na razão de 1.22, ou seja, f2/f1=1.22. Devido à característica de não linearidade da cóclea, a distorção é observada de forma mais proeminente na relação de 2f1-f2. Já seus respetiivos níveis, L1 e L2, devem manter uma diferença na qual L1>L2, em média 10 dBNPS (decibel nível de pressão sonora), a fim de tornar o teste mais sensível¹¹. As EOEpd estão presentes em indivíduos com audição próxima à normalidade e vão reduzindo conforme aumenta o grau da perda auditiva¹. O critério utilizado para presença de respostas foi o de GORGA (1996)¹² que preconiza que EOEpd está presente quando a resposta, em dBNPS, está pelo menos 6 dBNPS acima do primeiro desvio padrão do ruído equivalente da frequência avaliada ou 3 dBNPS acima do segundo desvio padrão do ruído. Para aqueles que não obtiveram respostas durante a avaliação das EOAPD, foram pesquisadas as respostas das curvas de crescimento (dp growth rate).
Conteúdo/ Resultados
Foram convidados para este estudo 10 bandas de rock a partir das informações de shows realizados em Bauru- São Paulo. As bandas cumpriam os critérios de inclusão e exclusão para o estudo. Sete bandas compareceram à Clínica de Fonoaudiologia, contudo apenas quatro concluíram o estudo, já que todos os integrantes da banda participaram de todas as etapas. Todos os participantes estavam em repouso acústico de, no mínimo 24 horas, antes de realizarem os exames audiológicos.
A amostra foi composta por 16 participantes (4 bandas) do sexo masculino. A idade dos participantes variou entre 21 e 36 anos, sendo que 81,25% apresentavam acufeno constante bilateral do tipo apito e, por isso, o estímulo utilizado para pesquisa do liminar auditiva durante a audiometria tonal liminar convencional (AT-AC) e audiometria tonal de alta frequência (AT- AF) foi o warble. A idade dos participantes variou entre 21 e 36 anos.
Quando questionado sobre os sintomas auditivos e não-auditivos, 18,75% disseram ter dificuldades em entender a linguagem oral com ruido ambiente, 6,25% relatou ter insónia, 6,25% rouquidão, 18,75% sensibilidade a qualquer ruído após apresentações de forma que precisam se isolar. Entre os que não mencionaram sintomas não-auditivos, 12,5% participantes queixaram-se que o som da bateria incomodava e 6,25% que manifestava dificuldades em ouvir o violão afinado na frequência de 100KHz.
Quanto aos sintomas auditivos, 81,25% relatou ter acufeno bilateral do tipo apito e 6,25% apresenta acufeno à esquerda, ou seja, 87,5% no total. O acufeno era constante em 81,75%, mas existia em 100% após o show. Tais resultados corroboram com Einhorn (2009)¹³ que afirma que inúmeros músicos de rock têm admitido que sofrem de zumbido e relataram ter os seus desempenhos musicais limitados ou mesmo terem se reformado por esse motivo. Ao comparamos os resultados por bandas verificamos que em 75% das mesmas, todos os elementos referiram acufenos bilaterais. Não foi encontrado correlação entre a presença de acufeno contínuo e o tempo médio de ensaio realizado pelas bandas, número de atuações efetuadas por semana, bem como entre estas variáveis e a intensidade do acufeno (quer constante, quer o que surgia apenas após o show).
Foi realizada a análise dos resultados estatísticos (Teste-T e o teste Qui- Quadrado), utilizando a associação entre os instrumentos (analisados separadamente) e os sintomas auditivos e não auditivos descritos pelos participantes. O único instrumento que apresentou significância foi o baixo quando comparado a dificuldades em entender a linguagem oral em ambientes com ruído, pois 75% dos participantes que tocam baixo referiam tal dificuldade. Durante a avaliação audiológica de todos os músicos que tocam baixo, notou-se a presença de entalhe em 75% deles na frequência de 6KHz, o que corrobora com os estudos de Carmo (1999). Para esse autor, a alta intensidade utilizada com frequência pode levar a uma lesão irreversível, além de que a perda auditiva em 6.000 Hz leva a uma maior dificuldade em discriminar o som, entender a fala em ambientes ruidosos.
Inspeção do Meato Acústico Externo (MAE):
Durante a realização da inspeção do MAE, foi encontrada alguma barreira que acabava por impedir a realização dos outros procedimentos; tal ocorreu em metade dos elementos da banda 3 (B3), 33,33% da B2 e 16,67% da B4, devido à acumulação de cerúmen, formando um rolhão. Após a remoção do mesmo pelo otorrinolaringologista, os indivíduos regressaram ao projeto de investigação.
Audiometria Tonal Liminar Convencional (AT-AC):
A audiometria tonal limiar convencional é considerada a base da avaliação audiológica, sendo o primeiro teste que a compõe. Tem como objetivo determinar os limiares mínimos de audibilidade de um indivíduo para as frequências de 250 Hz a 8.000 Hz. Essa técnica de avaliação é a mais utilizada para a deteção de perdas auditivas em indivíduos expostos a níveis elevados de pressão sonora, sejam esses níveis de ruído ou de música, principalmente com intensidades acima de 85 dB (A).
Em todas as bandas avaliadas obtiveram-se limiares auditivos que variaram dentro do limite de normalidade, ou seja, de zero a 25 dBNA. As maiores médias dos limiares audiológicos por frequência das bandas estudadas foram em 500Hz e 3KHz (B1); 3 e 4 (B2); 3, 4 e 6 (B3); 3KHz (B4). Já as maiores médias dos limiares audiológicos por frequência dos instrumentos estudados foram em 3, 4 e 6KHz (voz); 3 e 4KHz (guitarra); 3, 4 e 6KHz (baixo); 3 e 4KHz (bateria).
Verificou-se a presença de entalhe nas frequências de 2, 4, 6 e 8KHz de acordo com as bandas e com os instrumentos estudados, o que vem em concordância com o trabalho realizado por Fiorini (1994), que constatou que às frequências de 3000, 4000 e 6000 Hz, quando rebaixadas podem revelar perda auditiva por exposição a níveis de pressão sonora elevada. A presença do entalhe audiométrico, mesmo que em apenas uma frequência deveria ser encarada como um sinal de alerta, pois poderia sugerir uma tendência ao desencadeamento da perda auditiva pela exposição a níveis de pressão sonora elevados conforme o decorrer do tempo.
Audiometria Tonal de Alta Frequência (AT- AF):
Para os achados audiológicos da AT- AF dos participantes observou- se ao menos um caso presença de entalhe (bandas e instrumentos), sendo eles nas frequências: 9.000, 11.200, 12.500, 14.000 e 16.000 Hz. Lüders et al. (2013) encontraram a presença de entalhe nas frequências de 12.500 Hz bilateralmente e na frequência de 14.000 Hz unilateralmente.
Otubo (2013) observou, em seus estudos, a presença de entalhe nas frequências de 11.200 Hz à esquerda, 12.500 Hz à direita e 16.000 Hz em ambas os ouvidos. Nas altas frequências, foram observadas diferenças à direita em 9.000 Hz e bilateralmente em 14.000 Hz e 16.000 Hz. Lüders et al. (2013) revelaram em seus estudos a diminuição dos limiares auditivos em estudantes de música, embora ainda dentro dos padrões de normalidade, pois a perda auditiva induzida pela exposição ao ruído só é percetível após anos de exposição e progride lentamente. A avaliação dos limiares de altas frequências de forma periódica pode ser útil na deteção precoce da deficiência auditiva em músicos.
Logoaudiometria:
Os resultados obtidos para o Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) mostram-se compatíveis com a normalidade, sendo iguais ou até 10 dB acima da média tritonal (500, 1000 e 200 Hz) na AT- AC. Os valores encontrados para o índice Percentual de Reconhecimento da Fala (IPRF) oscilaram entre os 88 e os 100%, logo, dentro da referência considerada normal, contudo, os indivíduos que apresentaram os valores menores são os mesmos que assinalaram dificuldade de perceber a linguagem oral em ambientes ruidosos.
De acordo com Menegotto e Costa (2015)², apesar de sua variabilidade, especialmente no caso do IPRF, esses testes trazem informações preciosas sobre a condição auditiva de determinado paciente e apresentam uma excelente oportunidade para eles.
Imitanciometria:
Durante a avaliação da pesquisa da curva timpanométrica, encontramos em 93,75% dos 100% da pesquisa curva timpanométrica do Tipo A bilateralmente, e em apenas um (6,25%) caso foi traçado curva do tipo Ad bilateralmente, ou seja, foi obtido curva tipo A em 93,75% da população total estudada, de acordo com acordo a proposta de Jerger (1970).
O desencadeamento do reflexo acústico estapediano que avalia a integridade do arco reflexo estapediano e, por consequência, de forma indireta, as estruturas do ouvido médio e interno, nervo auditivo e tronco cerebral foi obtido entre 95 e 105 dB em todos os participantes que obtiveram respostas, segundo a classificação de Carvallo et al. (2000).
Apenas 18,75% tiveram presença de reflexo ipsilateral e contralateral bilateralmente, 12,5% tiveram ausência em duas frequências e 68,75% apresentaram pelo menos quatro ausências de reflexos nas frequências pesquisadas, ipsi ou contralateral.
As bandas que mais tiveram ausência de resposta em alguma frequência foram B2 e B3 com 100% dos seus elementos, seguidas por B4 com 50% e B1 com 67%.
Também foi realizada a comparação entre os instrumentos e a ausência e presença de reflexo (ipsi e/ou contralateral) na frequência de 4KHz sendo obtido que 75% da amostra do instrumento bateria e baixo tiveram ausência dos reflexos e 66,67% de ausência para o instrumento voz e de 60% para guitarra.
Emissões Otoacústicas Evocadas (EOE):
A análise dos achados das EOE por estímulo transiente (EOEt) e por produto de distorção (EOEpd) foram realizados por meio comparação entre as frequências e bandas (B1, B2, B3 e B4) e frequências versus instrumentos (voz, guitarra, baixo e bateria). Obteve-se normalidade, ou seja, presença das EOEpd na frequência de 2KHz bilateralmente em todos os participantes do estudo, assim como na frequência de 3KHz à direita e, por esse motivo, não foi realizada a comparação nessas frequências.
Não houve correlações entre a presença de resposta das frequências das EOEt para cada banda, contudo obteve-se ausência de resposta em 4KHz para todos os baixistas bilateralmente. Já para as EOEpd, também houve correlação na frequência de 6KHz, quando tal frequência foi comparado com a lateralidade encontrou-se maiores prejuízos à esquerda, quando comparado com as bandas, a B3 foi a que obteve piores resultados e, por fim, quando comparado a frequência de 6KHz versus o instrumento o baixo foi o que apresentou resultados insatisfatórios.
Metade dos participantes não obtiveram respostas durante a avaliação das EOEpd; portanto foram pesquisadas as respostas das curvas de crescimento (dp growth rate), realizando sua comparação com lateralidade, sendo também comparadas as bandas e as frequências que necessitaram das pesquisadas (dp growth rate), e a relação entre os instrumentos e as frequências da curva de crescimento (dp growth rate). Nos participantes que realizaram a curva de crescimento (dp growth rate), foi encontrada resposta em 75dBNA, sendo que, em 1% dos casos nos quais realizou-se o teste na frequência de 6KHz, não foi encontrado resposta.
Na população adulta, as EOE são frequentemente utilizadas para realizar o diagnóstico diferencial entre perdas auditivas cocleares e retro- cocleares, além da monitorização auditiva de indivíduos expostos a drogas ototóxicas, ao ruído ocupacional e à música²¹. Diversos autores recomendaram o uso das EOE para avaliar e acompanhar a audição de músicos, por ser um instrumento mais sensível que a audiometria para detetar as alterações iniciais geradas pela exposição à música amplificada²²‾²³. As células ciliadas externas são as primeiras estruturas do ouvido interno a serem lesadas por agentes externos, como no caso de níveis de pressão sonora elevados. Portanto, as EOE podem detetar sinais de danos cocleares iniciais, servindo como ferramenta de deteção precoce e monitoramento das alterações causadas por esses agentes, mesmo antes de ocorrer alterações nos limiares audiométricos na audiometria. Dessa forma, é possível determinar a localização da lesão e controlar a efetividade do uso de protetores auditivos.
Clinicamente, o zumbido pode aparecer antes da perda auditiva e que as emissões otoacústicas evocadas são capazes de detetar alterações cocleares mínimas em indivíduos com audiometria normal².
CONCLUSÕES
Existe a necessidade de realizar a monitorização da audição do músico, já que está população apresenta diminuição da audição, o que poderá implicar perda de capacidade de trabalho e pior qualidade de vida global.
CONFLITOS DE INTERESSE
Não há.
AGRADECIMENTOS
Clínica de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, ao Órgão de Fomento CAPES, que proporcionou financiamento para a realização deste projeto.
BIBLIOGRAFIA
1. Governo do Brasil. Ministério do Trabalho. Secretária de Segurança do Trabalho. D.O.U 06/07/1978. Portaria Nº 3214 de 08/06/1978.
2. Freire K M. Saúde auditiva em músicos. Tratado das Especialidades em Fonoaudiologia. 2.ed. São Paulo: Editora GEN. 2014; p. 994-1004.
3. Pfeiffer M, Rocha RLO, Oliveira FR, Frota S. Intercorrência audiológica em músicos após um show de rock. Revista CEFAC, São Paulo. 2007; v.9, n.3, 417-22.
4. Lopes AC, Munhoz GS, Bozza A. Audiometria tonal liminar e de Altas Frequências. In: Boéchat EM, Menezes. PD, Couto. CM, Frizzo. ACM, Scharlah. RC, Anastasio. ART, organizadores. Tratado de audiologia. São Paulo: Santos. 2015; 2ª ed.: p. 57-67.
5. Brasil. Ministério do Trabalho. Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho. Portaria nº 19, de 9 de abril de 1998. Diretrizes e parâmetros mínimos para avaliação e acompanhamento da audição em trabalhadores expostos a níveis de pressão sonora elevados. NR 7: Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Brasília: Ministério da Saúde; 1998. (Anexo 1, Quadro II).
6. Burguetti FAR, Peloggia AG, Carvallo RMM. Limiares de audibilidade em altas frequências em indivíduos com queixa de zumbido. Arq Intern Otorrinolaringol 2004;8(4):7p. Disponível em: http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/acervo_port.asp?id=292
7. Santos TMM, Russo, ICP. Logoaudiometria. In: Santos TMM, Russo ICP. A Prática da Audiologia Clínica. São Paulo: Cortez; 1991. p. 73-88.
8. Gates GA, Chakeres DW. Interpretation of diagnostic tests for acoustic neuroma. Otolaryngol Head Neck Surg. Rochester, 1988.
9. Jerger J; Maudin L. Studies in impedance audiometry; normal and sensorioneural ears. Arch Octolaryngol. 1970; 96:513-23.
10. Carvallo RMM, Ravagnani MP, Sanches SGG. Influência dos padrões timpanométricos na captação de emissões otoacústicas. Acta Awho. 2000;19(1):18-25.
11. Lomsburry- Matin BL, Martin GK. Otoacoustic emissions. Otolaryngology e Head and Neck Surgeru 2003; 11 (5): 361-6.
12. Gorga MP, Stover L., Neely ST; Montaya D. The use of cumulative distributions to determine critical values and levels of confidence for clinical distortion product otoacoustic emission measurements. Journal of the Acoustical Society of America 1996; 100: 968-77.
13. Einhorn K. The medical aspects of otologic damage from noise in musicians.Chasin M. Hearingloss in musicians. San Dieg: Plural Publishing.2009; p.31-40.
14. Carmo LIC. Efeitos do ruído ambiental no organismo humano e suas manifestações auditivas. Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Audiologia Clínica. CEFAC. 1999.
15. Santos T M N, Russo ICP. A prática da audiologia clínica. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
16. Fiorini, AC. Conservação auditiva: estudo sobre o monitoramento audiométrico em trabalhadores de uma indústria metalúrgica. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1994.
17. Lüders D et al. Music students: conventional hearing thres holds and at high frequencies.BrazilianJournal of OTORHINOLARYNGOLOGY. 2013.
18. Otubo KA, Lopes AC, Lauris JR. Uma análise do perfil audiológico de estudantes de música. Per musi nº 27 Belo Horizonte Jan/ June 2013; 27:141-51.
19. Gonçalves CG de Oliveira et al. Limiares auditivos em músicos militares: convencionais e altas frequências. Revista Co DAS. 2013; v. 25, n. 2: p.181-187.
20. Menegotto IH, Costa MJ.In: Boéchat EM, Menezes. PD, Couto. CM, Frizzo. ACM, Scharlah. RC, Anastasio. ART,organizadores. Tratado de audiologia. 2 ed. São Paulo: Santos. 2015; p. 67-75.
21. Lewis DC .Emissões otoacústicas : aplicações clínicas. In : Ferreira LP, Befi- Lopes DM, Limongi SCO ( organizadoras). Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo : Roca. 2004 ; p. 671-30.
22. Kahari KR, Axelsson A, Hellstrom PA, Zachau G. Hearing assessment of classical orchestral musicians. ScandAudiol. 2001;30(1):13-23.
23. Kaharit et al. Assessment of hearing and hearing disorders in rock/jazz musicians. Int J Audiol. 2003;42(5):279-88.
24. Kimberley B. Applications of distortion- product emissions to otological practice. Laryngoscope 1999; 109(12): 1908- 18.
25. Lopes AC. Audiometria Tonal Liminar. Tratado de Audiologia, 2012. Cap.5. Pag.63-80.
[1] Graziella Simeão Munhoz- Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade de São Paulo Faculdade de Odontologia de Bauru FOB/USP (2013). Mestre em Ciências – área: Processos e Distúrbios da Comunicação pela Universidade de São Paulo- Faculdade de Odontologia de Bauru FOB/USP (2016). Faz parte do grupo de pesquisa da prof. Dra. Andréa Cintra Lopes com foco em Saúde do Trabalhador e Diagnóstico Audiológico e atua em outros projetos do grupo. Endereço para correspondência: Rua Nassin Abrahão, 1-22, Núcleo Habitacional Beija- Flor, Bauru (SP), Brasil, CEP: 17025-430. E- mail: graziella@usp.br
[2] Eduardo Carvalho de Andrade- Possui graduação em medicina pela Universidade do Vale do Sapucaí (2001). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Otorrinolaringologia. Residência médica concluída no HRAC/USP inicio 2005. Atualmente exerce cargo de médico otorrinolaringologista na Universidade de São Paulo (USP/FOB- Bauru), no Hospital Estadual Bauru (HEB/Unesp), no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) e serviço privado. Experiência clínica e cirúrgica dentro da especialidade. E-mail: spp@usp.br.
[3] Andréa Cintra Lopes- Possui graduação em Fonoaudiologia pela Universidade do Sagrado Coração (1991), Mestrado em Distúrbios da Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996), Doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade de São Paulo (2000) e Pós-doutorado em Acústica pela UNESP- Bauru (2009). Atualmente é Professora Associada da Universidade de São Paulo campus Bauru e Presidente da Comissão de Saúde do Conselho Regional de Fonoaudiologia, gestão 2013-2016. Tem experiência na área de Fonoaudiologia, com ênfase em Audiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: audição, audiologia, saúde auditiva, saúde do trabalhador e telessaúde. É pesquisadora do grupo de pesquisa Centro de Pesquisas Audiológicas, credenciado no CNPq. E- mail: aclopes@usp.br
Munhoz G, Andrade E, Lopes A. Perfil Audiológico em Músicos Rock. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. 2016, volume 2, 33-42. DOI:10.31252/RPSO.06.07.2016